Correção: o investimento inicial na sede do Instituto Moriguchi foi de R$ 1,5 milhão, e não de R$ 1,5 bilhão como publicado entre 17h22min de 10 de dezembro e 13h55min de 16 de dezembro. O texto já foi corrigido.
Os 25 mil moradores de Veranópolis têm um novo motivo para comemorar o status de que por lá se vive mais. Na última sexta-feira (6), foi pré-inaugurado o prédio onde vai funcionar o Instituto Moriguchi – Centro de Estudos do Envelhecimento, junto ao hospital do município da Serra. Em um espaço de 500 metros quadrados, profissionais da área prometem aprofundar as pesquisas para descobrir os segredos de uma vida longa. A previsão de início das atividades é março de 2020.
A nova sede já recebeu investimentos de R$ 1,5 milhão. Outros R$ 500 mil foram liberados no começo de dezembro para colocar o centro em funcionamento. Essa história começou há 25 anos, quando os médicos Elisabete Michelon e Emílio Moriguchi, diretor do instituto, resolveram estudar por que os veranenses viviam mais do que o restante da população brasileira. A fama data de 1991, quando o Atlas do Desenvolvimento Humano, da Organização das Nações Unidas (ONU), apontou que a expectativa de vida na cidade era de 71,59 anos – a média nacional daquele ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegava a 63,3.
Ao longo desses 25 anos, Moriguchi colecionou histórias. Certa vez, ao procurar o então prefeito para pedir autorização ao projeto, recebeu como resposta que deveria ouvir a opinião da população. A saída foi aproveitar uma missa de domingo, quando boa parte da comunidade estava presente. O pároco Manoel Baldissera cedeu o horário do sermão para ele apresentar o projeto "Veranópolis: Estudos em Envelhecimento, Longevidade e Qualidade de Vida".
— No final, o padre pediu: "Quem discorda fica de pé". Ninguém se levantou — lembra Moriguchi.
Desde então, foram realizadas dezenas de pesquisas, dissertações, teses de mestrado e monografias nas diversas áreas da saúde. Atualmente, o centro conta com 800 pacientes. A sede do instituto permitirá atendimento ao público em geral. A ideia é ampliar os estudos para várias faixas etárias.
O prédio foi construído com recursos do Ministério da Saúde e teve a participação da prefeitura (que cedeu o terreno) e da Associação Veranense de Assistência em Saúde do Hospital Comunitário São Pelegrino de Veranópolis.
— No município, temos várias matrizes econômicas. Agora, queremos uma matriz da saúde — diz o prefeito da cidade, Waldemar de Carli (MDB).
"A comunidade topa tudo"
A presidente do Instituto Moriguchi, Berenice Maria Werle, afirma que o espírito de Veranópolis é diferente de outras cidades como Porto Alegre, por exemplo:
— Eles (os moradores) nos recebem muito bem, nos tratam com respeito, nos agradecem por tudo o que fazemos e participam das pesquisas sem questionar. É muito gratificante trabalhar aqui. Eles nos ensinam, é um prazer atendê-los.
O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria, João Senger, também diretor do instituto, destaca a participação maciça da comunidade:
— Esse é o segredo do negócio. Eles vêm mesmo que seja de cadeiras de rodas. Topam tudo o que propomos.
Claudiomar Simonetto, 62 anos, participa da pesquisa há noves anos. Ele conta que, para ingressar precisou fazer uma batelada de exames, entre eles a saúde do coração.
— Na época, com 53 anos, tinha um coração com a mesma capacidade de um homem de 36. Hoje, a idade do órgão é a mesma (36) — comemora o produtor de vinhos.
Desde que ingressou no estudo, Simonetto precisou buscar o equilíbrio entre a alimentação e seu modo de viver:
— Não é fácil. Tirei o açúcar e comecei a fazer atividade física. Me sinto um guri.
Uma das causas da saúde de Simonetto tem a ver com o consumo moderado de vinho. Na dose certa, os benefícios são garantidos. Quem assegura é o cardiologista Protásio da Luz, professor titular sênior de Cardiologia do Instituto do Coração (Incor).
— Uma taça e meia para o homem e uma taça para as mulheres, por dia — orienta.
Segundo Protásio, os polifenóis encontrados nas cascas e nas sementes das uvas, entre eles o resveratrol, melhoram a capacidade das artérias se dilatarem impedindo a formação de placas de gordura nas artérias e vasos sanguíneos.
Sete causas e consequências
- Os níveis de estresse são menores.
- A atividade física dos idosos é mais intensa, similar a das pessoas adultas jovens.
- Eles fazem refeições regulares e equilibradas, garantindo uma nutrição saudável (rica em verduras, frutas e legumes).
- Investigações nutricionais mostraram que os idosos ingerem a quantidade indicada pela Organização Mundial da Saúde.
- Eles participam frequentemente das atividades da comunidade.
- Apesar de existirem riscos cardiovasculares na população idosa (colesterol alto, diabetes e hipertensão), um estudo que acompanhou a mortalidade na terceira idade durante três anos não mostrou ligação com os riscos.
- Estudos feitos por psiquiatras, psicólogos e biólogos mostraram que a população veranense possui um alto grau de satisfação com a vida, sendo muito alegre e ativa (participam de atos religiosos, têm alta convivência familiar e social).