Fazendo uma analogia com as borboletas, que passam por processos de mudanças até alçar voos, o projeto Metamorfose procura transformar através da palavra. Encabeçada pela professora universitária aposentada Hilda Simões Lopes, a iniciativa leva um pouco de magia para os corredores do Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre.
Uma vez por semana, Hilda, Elda Sanchotene Beheregaray e Eni Maffei vestem o jaleco lilás e visitam, pouco a pouco, os pacientes. Elas estimulam a leitura de crianças e adolescentes, leem contos e poesias e, com uma folha em branco, incentivam os internos a escrever sobre a experiência que estão vivenciando.
— A gente brinca com eles, se coloca do lado deles, depois começa a mostrar que o que estão passando é uma experiência rara, que vai fazer com que eles saiam dali pessoas transformadoras, com muita tolerância e coragem — comenta Hilda.
O título do texto de Otavio Bieger, 17 anos, resumia bem o seu momento. Em “Superação”, o adolescente de Campo de Bom descrevia um pouco mais da nova rotina que lhe foi imposta, afastando-o dos estudos, do trabalho e da academia.
— Estou na luta para vencer o câncer — diz Otavio.
Em ação desde 2013, o projeto nasceu com a ideia de atender o público na faixa etária de Otavio. Com o decorrer dos anos, Hilda começou a adaptar a ação para os mais novos: criou um conto para meninas e outro para meninos.
Ainda sem um diagnóstico preciso, Sophia Freires Lopes, de sete anos, preferia esperar o resultado da biópsia para colocar o ponto final no seu texto, intitulado “Minha fase difícil”. A menina de robe de unicórnio não se deixa abater pelas incertezas. Coloriu o leito com lençóis cor de rosa e transita pelos corredores distribuindo simpatia.
Uma vez por ano, o projeto reúne alguns dos textos produzidos pelos pequenos autores e publica um livro. Já foram seis edições, todas impressas com apoio da Unicred e com sessão de autógrafos.
— O mais importante de tudo é o que eles escrevem. Eles usam os textos para expressar tudo o que estão passando, para dar força aos outros. A doença acaba os deixando fortes — afirma Hilda.
Voluntários da biblioterapia
Cuidadosamente higienizados e plastificados, os livros recebidos por meio de doações são dispostos sobre o carrinho branco de telhado colorido que percorre os diversos andares do Hospital Conceição, em Porto Alegre. É o veículo do projeto de biblioterapia, iniciado há cerca de dois meses. Contando com a ajuda de voluntários, oferece a pacientes e acompanhantes livros como o espírita Violetas na Janela e Hoje Eu Venci o Câncer, de David Coimbra. É justamente a obra do colunista de GaúchaZH que Nilse Sandri, 75 anos, escolhe. Deitada em uma cama do setor de Oncohematotologia, ela recebe o livro das mãos da voluntária Cristiane Luz, ou apenas Cris.
— Eu também vou te entregar uma cartinha de uma paciente oncológica — anuncia Cris, mencionando o projeto Correio Fraterno, em que pessoas que já venceram a doença compartilham suas histórias com pacientes em tratamento.
Aos poucos, o texto vai revelando algumas mensagens importantes: aproveitar todos os pequenos momentos da vida, passar bastante tempo com a família e ter fé.
— Essa paciente está na tua frente agora — Cris lê, para surpresa de Nilse.
Depois de vencer o câncer, a voluntária se engajou na causa e, hoje, ajuda aqueles que estão na mesma situação pela qual já passou. Seguidoras da ex-paciente nas redes, Maria e Maira Oliveira Chaiben, mãe e filha, aproveitaram uma manhã de setembro para doar livros e revistas ao setor de voluntariado do Conceição, responsável pela biblioterapia.
— A força que ela dá é um exemplo. Como estou doente, ela serve de modelo — diz Maria.
A assessora da diretoria Maribel Flores já comemora os seus resultados:
— Percebemos a felicidade que a pessoa que recebe o livro fica e como isso é gratificante não só para o paciente, mas para o voluntário também. Ambos saem daqui muito felizes.