Sexta doença mais incapacitante do mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca atinge 15% dos brasileiros – cerca de 30 milhões de pessoas. Estudo da My Migraine Voice, promovido pela Novartis em parceria com a Aliança Europeia para Enxaqueca e Cefaleia (European Migraine and Headache Alliance), mostra que 82% dos brasileiros portadores da doença sofrem impacto na vida social. Para 72%, crises também têm efeito negativo nos relacionamentos amorosos. Inclusive afetou a vida sexual de 56% dos pacientes. Foram entrevistadas 11 mil pessoas, no segundo semestre do ano passado, que sofrem com enxaqueca em 31 países, incluindo o Brasil, com participação de 851 pacientes.
A enxaqueca “trata-se de uma doença complexa que envolve várias áreas do cérebro e tem como manifestação predominante a dor de cabeça. Pode variar em gravidade, com sintomas que vão desde dores de cabeça até náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e odores”, define Mario Peres, médico neurologista da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC). O médico alerta que o paciente deve ser tratado com drogas profiláticas específicas.
— O comportamento está diretamente ligado à enxaqueca. O combate às dores passa, também, por medidas simples relacionadas a sono, alimentação e mente, por exemplo – afirma Peres.
A maioria dos afetados tem de 25 a 45 anos. Após os 50, a taxa tende a diminuir, principalmente em mulheres. Quando se trata de crianças, ocorre em 3% a 10%, afetando igualmente ambos os sexos antes da puberdade. Após essa fase, o predomínio é no sexo feminino. Entre as mulheres, o problema chega a até 25%, mais que o dobro da prevalência entre os homens, segundo o Ministério da Saúde.
Outros números da pesquisa
- 56% relatam não conseguir cumprir todas as atividades diárias e realizar hobbies
- 54% se sentem impossibilitados de comparecer a eventos sociais
- 30% não conseguem praticar exercícios físicos
- 42% associam enxaqueca à depressão
- 20% têm autoestima baixa
- 45% afirmam ter redução de desempenho no trabalho
- 17% alegaram faltar ao trabalho devido à doença
- 70% foram ao pronto-socorro nos últimos 12 meses
- 52% pernoitaram no hospital
Fonte: My Migraine Voice
“Prefiro 10 crises de cálculo renal do que uma enxaqueca”
Camila Souza tem 27 anos, 20 deles tendo que ajustar sua rotina às manifestações da enxaqueca. Por conta da doença, levou e leva uma vida de restrições. Nunca foi reprovada na escola porque a mãe explicava aos professores que as faltas decorriam dos vômitos diários, que se estendiam por semanas. Na adolescência, enquanto as amigas iam para festa, Camila ficava em casa.
— Estava sempre com dor ou grogue dos medicamentos. A última coisa que eu sempre quis foi fazer uma social — recorda a professora de inglês e estudante de Direito.
Em duas das poucas festas a que foi, saiu direto para o hospital. As luzes piscantes eram suficientes para desencadear crises. Nessa época, entre os 18 e os 19 anos, uma vez por mês era medicada com morfina. Foram anos pipocando de neurologista em neurologista, mudando frequentemente de remédio até encontrar a combinação ideal. Hoje, consegue controlar as dores em casa e tem crise cerca de duas vezes por mês. Comemora o período de um ano sem pisar em hospitais.
— Prefiro ter 10 crises de cálculo renal do que uma de enxaqueca. Ela te incapacita, não te deixa raciocinar. Às vezes, não consegue nem ficar em pé — conta.
Em 2014, começou a tratar a doença com olhar mais amplo. Além de seguir com os medicamentos e se reeducar alimentarmente, cortando café, queijo, leite, chimarrão, gorduras e frituras, passou a dar mais importância a aspectos comportamentais.
— A mudança veio quando incluí a terapia holística no tratamento. A dores estão muito ligadas à maneira como encaro a vida, à importância que dou a cada coisa e ao meu nível de estresse — comenta.
Secretário da Sociedade Brasileira de Cefaleia e neurologista do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, o médico Mario Peres ressalta que os gatilhos mais relatados pelos pacientes são, justamente, noites maldormidas, jejuns prolongados, estresse e ansiedade.
Leia a outra parte desta reportagem
Novos medicamentos, específicos para esse tipo de dor de cabeça, devem chegar ao mercado brasileiro neste ano