Especialista em nutrição materno-infantil, mestre e doutoranda em saúde da criança, Mariana Brito diz que persistência é palavra-chave para pais que enfrentam dificuldades em fazer seus filhos comerem bem.
Qual é o principal desafio para acostumar as crianças desde cedo com uma alimentação saudável?
É não oferecer açúcar nos dois primeiros anos de vida. Nós já nascemos com preferência pelo doce. Nessa fase, a criança deve ser exposta a diferentes sabores, presentes em alimentos saudáveis como frutas e verduras. Esse período é crucial para a formação do paladar infantil.
Quais alimentos são os mais indicados na primeira infância? Eles são bem aceitos?
A partir da introdução alimentar, que deve ocorrer aos seis meses de idade, as crianças devem receber o que chamamos de “comida de verdade”, ou seja, arroz, feijão, carnes, legumes, verduras e frutas. Os alimentos com sabor mais amargo e azedo, como algumas verduras e frutas, podem ser rejeitadas inicialmente. Mas os pais devem seguir ofertando para que a criança se acostume. Podem ser necessárias até 10 exposições do mesmo alimento para que ele seja aceito.
Frutas e verduras devem sempre estar sempre presentes nas refeições, mesmo em caso de recusa. A criança precisa ver os pais comendo estes alimentos para que tenha interesse. Levar as crianças para a cozinha também é uma estratégia eficaz.
Que tipo de estratégia pode ser utilizada para que as crianças consumam alimentação mais nutritiva?
A melhor estratégia é a persistência. Não desistir de oferecer alimentos saudáveis mesmo que a criança rejeite. É importante criar o que chamamos de familiaridade. Frutas e verduras devem sempre estar sempre presentes nas refeições, mesmo em caso de recusa. A criança precisa ver os pais comendo estes alimentos para que tenha interesse em experimentá-lo. Levar as crianças para a cozinha também é uma estratégia eficaz. O preparo de uma receita pode despertar interesse, além de ser um momento de interação com a família.
Como evitar que os alimentos mais gordurosos caiam no gosto das crianças?
O ideal é não oferecê-los precocemente, principalmente nos primeiros dois anos de vida. Caso o hábito já esteja instalado, seu consumo deve ser controlado pelos pais. É importante definir a frequência e quantidade a ser consumida. Não ter estes alimentos em casa também ajuda.
A partir de que idade a criança tem maturidade suficiente para escolher o que comer?
Crianças em idade escolar, a partir dos sete a oito anos, podem participar das escolhas da família. Mas a responsabilidade de oferecer opções saudáveis ainda é dos pais. Nesta idade, elas compreendem as diferenças entre os alimentos, mas tendem a fazer escolhas baseadas nas suas preferências ou pelo sabor, sem maturidade suficiente para decidir sozinha. O ideal é que os pais ofereçam opções saudáveis e negociem o consumo de alimentos industrializados, os ricos em açúcar e gordura. Nessa fase, é possível ensiná-los a ler os rótulos e explicar diferenças entre os alimentos.
A dieta indicada para os primeiros anos
- A composição deve ter frutas, cereais (trigo, arroz, aveia, cevada e centeio) ou tubérculos (batata, aipim, inhame), leguminosas (feijão ervilha, lentilhas, grão-de-bico), carnes (bovina, vísceras, de aves, suína, de peixe e ovos) e hortaliças (verduras e legumes), sendo preparada em papas e oferecidas ao longo do dia conforme a idade da criança.
- Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a preocupação deve ser com a qualidade e variedade dos alimentos oferecidos para a criança e não somente com a quantidade ingerida. Lembrando sempre a importância da manutenção do aleitamento materno, que tem efeito protetor contra o desenvolvimento futuro da obesidade e de outras doenças.
- Nenhuma fruta é contraindicada, mas os sucos devem ser evitados nos primeiros anos de vida. Não se deve adicionar sal, açúcar (refinado, mascavo e outros tipos) e farinhas no preparo da alimentação complementar.
- Nos primeiros anos, alguns alimentos não saudáveis devem estar distantes, pois reduzem o apetite e competem com alimentos mais nutritivos, além de determinar o paladar dos filhos. O ideal, inclusive, é evitar tê-los em casa. São eles: iogurtes industrializados, queijinhos petit suisse, macarrão instantâneo, gelatina, salgadinhos, refrigerantes, sucos em pó, café, sorvetes, biscoitos recheados, alimentos industrializados pré-prontos, temperos prontos, refrigerantes, enlatados, embutidos, entre outros.
Como propor uma alimentação mais saudável
- Ofereça alimentos variados em todas as refeições.
- Nunca obrigue seu filho a comer, mas sempre coloque frutas, verduras e legumes no prato. Inicialmente, pode ser uma pequena porção.
- Leve as crianças ao supermercado ou feiras e peça ajuda para escolher alimentos saudáveis.
- Envolva a criança no preparo de receitas. Além de ser uma experiência divertida, isso desperta a curiosidade delas.
- Dê o exemplo e também priorize o consumo de alimentos saudáveis.
- Nunca desista. Algumas crianças são mais resistentes e podem demorar a aceitar novos alimentos.