Ninguém está livre de enfrentar transtornos psicológicos como depressão, ansiedade e fobias sociais. A apresentadora Angélica revelou, durante uma palestra sobre bem-estar no evento Web Summit Rio, no final de semana passado, no Rio de Janeiro, que já sofreu de síndrome do pânico por conta de excesso de trabalho. Ela contou que a situação aconteceu por conta da pressão que sofria por ter começado a trabalhar muito jovem.
O momento foi compartilhado por ela em um vídeo publicado no Instagram. Segundo Angélica, ela começou a buscar ferramentas para conseguir lidar com essa pressão.
Em 2018, outra famosa admitiu ter sofrido com o transtorno. A modelo Gisele Bündchen relatou em sua biografia, lançada naquele ano, sua luta contra a síndrome do pânico. O problema enfrentado por Gisele e Angélica tem sido bastante discutido nos últimos anos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome do pânico afeta pelo menos 2% da população mundial. O Brasil tem dados alarmantes, com seis em cada dez jovens relatado ansiedade no ano passado, sobretudo a partir do impacto da pandemia de covid-19 em suas vidas.
Quem sofre de síndrome do pânico sente medo do que pode acontecer. De perder o controle, de enlouquecer, de morrer. Medo de tudo. Medo de ter medo. E esse sentimento não está associado a uma causa específica: dirigir um carro, falar em público ou dormir no escuro não são atividades que desencadeiam o problema. Experiências traumáticas como uma separação, um assalto ou a perda de alguém querido tampouco são responsáveis pela doença.
O coração acelera, o suor começa a se espalhar pelo corpo e se soma a tremores, náusea e formigamento nas mãos e nas pernas. Logo os sintomas físicos chegam ao ápice, e a pessoa fica aterrorizada. Sente que não há o que possa fazer para sair dali, mas ficar onde está também é muito assustador.
O pânico é completo quando associado aos fatores psíquicos: parece que algo terrível vai acontecer. Mesmo que tudo esteja calmo no ambiente, é como se, nos próximos minutos, tudo fosse acabar e não houvesse nada o que se pudesse fazer para evitar o flagelo que se aproxima.
Um diagnóstico precoce é importante para evitar que o transtorno piore. Sofrer de síndrome do pânico sem procurar um tratamento geralmente não significa que algum outro quadro vai se desenvolver a partir desse mal, mesmo no caso de outras doenças psíquicas, como a depressão. Mas o próprio transtorno vai afetar o paciente de maneira mais grave.
O problema, porém, tem cura. Quando identificado, costuma ser tratado com uma associação de psicoterapia e medicamentos, que incluem antidepressivos e ansiolíticos, responsáveis por causar um efeito tranquilizante que pode evitar o medo de ataques e controlar possíveis novas crises.
— O antidepressivo vai agir a curto, médio e longo prazos. Seria como um antibiótico para uma pessoa em estado gripal. A curtíssimo prazo, o que vai "baixar a febre" é o ansiolítico — compara o psiquiatra Abelardo Ciulla.
O tempo de tratamento varia muito de caso a caso – vai de alguns meses a vários anos. Em qualquer caso, é fundamental manter o processo rumo à cura pelo período definido com o psiquiatra: um tratamento interrompido antes do fim pode significar o retorno da doença com intensidade ainda maior.
Psiquiatras alertam ainda que o uso de substâncias consideradas estimulantes, como derivados de cafeína, nicotina e álcool, deve ser evitado para esses pacientes. Faz parte do tratamento também a recomendação de mudança no estilo de vida, priorizando boa alimentação e a realização de exercícios físicos com frequência. Outra indicação é fazer atividades de lazer, que ajudem a não pensar nos efeitos de um possível ataque de pânico, assim como ações de relaxamento, incluindo massagens e meditação.
Pouco identificada
Segundo o último grande mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela OMS, o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. Ainda assim, há desinformação nos casos específicos de transtorno de pânico. Como há uma série de outras doenças associadas à ansiedade, e muitas delas são relacionadas a fobias claramente reconhecíveis, a síndrome acaba sendo pouco identificada.
Um estudo feito com a população norte-americana no início dos anos 2000 apontou que aproximadamente 3,5% dos cidadãos sofriam com os efeitos do transtorno de pânico. Em todo o mundo, as mais atingidas seriam as mulheres, em uma proporção de duas para um, e os afetados teriam principalmente entre 20 e 30 anos. Estima-se que cerca de 4% da população brasileira tenha registrado ataques de pânico ao longo da vida, com aproximadamente 1% do total desenvolvendo o transtorno.
O diagnóstico pode demorar a ocorrer porque alguns sintomas podem ser confundidos com outros problemas. Além disso, é importante reforçar que o transtorno do pânico é uma doença como outras e deve ter tratamento. Também é fundamental entender e diagnosticar quando a ansiedade vira patológica.
Alguns sintomas potenciais na síndrome de pânico:
- Aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração
- Falta de ar
- Pressão ou dor no peito
- Palidez
- Suor frio
- Tontura
- Náusea
- Pernas bambas
- Formigamento
- Tremores
- Calafrios ou ondas de calor
- Sensação de estar “fora do corpo”
- Medo de morrer ou de “perder o controle”
- Desmaio ou vômito no pico da crise