No meio da correria e da ansiedade que precedem as festas de fim de ano, boa parte das pessoas aproveita para refletir sobre mudanças e estabelecer objetivos para os próximos 365 dias, cuja contagem começa em 1º de janeiro. É chegado o momento das resoluções de ano- novo. Psicólogos e terapeutas entendem que os rituais, como aqueles de fazer uma carta de metas no Réveillon, podem ser motivadores, mas se alguns cuidados não forem tomados, o “documento” será mais um papel esquecido nas gavetas ou o atestado de frustrações.
Para que essa prática simbólica seja o prelúdio de boas reviravoltas no ano vindouro, é preciso avaliar se o momento é mesmo o mais propício para bater o martelo sobre o que se pretende. Nos consultórios e nas clínicas terapêuticas, essa é uma das épocas em que mais se observa a procura pelos profissionais por conta de sintomas de ansiedade. Psicóloga e terapeuta de família e casais, Bruna Chardosim Lerina entende que é natural o ser humano se organizar apoiado no calendário, mas nem sempre o momento é adequado.
– Ansiedade atrapalha muito. Nenhuma decisão que se toma às pressas vai render bons frutos – alerta.
O primeiro passo é exatamente dimensionar o que se quer no intervalo de tempo almejado. Será que aquilo que planejo realmente cabe em um ano? Outro ponto é um olhar interno sobre os desejos, reconhecendo limitações e características de personalidade.
– Em vez de só pensar o que deve fazer no ano-novo, a pessoa poderia se imaginar no final de 2018 e o que é preciso fazer ao longo desse processo para chegar aonde quer. As metas devem ocorrer em níveis homeopáticos – analisa Bruna.
A psicóloga Erica Duarte Macedo compartilha da impressão de que não há nada de mau em estabelecer metas para o ano-novo, especialmente no cenário atual com tantas incertezas políticas e econômicas que, querendo ou não, acabam se refletindo no emocional das pessoas e nas decisões que tomam. Assim como Bruna, ela reforça que é preciso um pouco de introspecção ao avaliar as reais motivações para as mudanças almejadas. Além de não se estabelecer um objetivo fora da realidade, como emagrecer 10 quilos em uma semana, Erica observa que muitos elencam seus desafios baseados nas expectativas dos outros ou comparando-se.
– Mais importante do que definir a meta é o caminho que se percorre antes dela. As pessoas têm de se escutar, entender o que realmente faz diferença para elas e não para os outros. Elas também precisam viver mais no presente. Viver no futuro, pensando naquilo que devo ou quero fazer, faz com que a gente não coloque coisas em prática – diz.
Recapitule os feitos com honestidade
Se vale cautela na hora de definir metas para o próximo ano, o mesmo se aplica ao revisar o que se conquistou ao longo do período que está chegando ao fim. Muito da ansiedade e das frustrações vividas nesta época está associado, de acordo com especialistas, ao grau exagerado de cobrança das pessoas em relação a suas conquistas. Bruna Tokunaga Dias, psicóloga especialista em transições de vida e carreira pela PUCSP, observa que as pessoas não se valem da memória quando avaliam o ano que passou. Assim, esquecem coisas bacanas que fizeram, fortalecendo sensações de culpa, incompetência e frustração.
– Quando sugiro essa reflexão, noto que as pessoas lembram duas ou três datas marcantes e pensam que foi só isso que fizeram – afirma a psicóloga.
Pensando na tirania dos “balanços de fim de ano”, Bruna aponta outro problema de traçar metas inatingíveis ou generalistas demais, especialmente em relação a comportamentos e rotinas. O inatingível seria almejar tornar-se um atleta quando a realidade atual é de total sedentarismo.
A chance de alcançar o objetivo seria maior se, por exemplo, essa pessoa se propusesse a caminhar duas vezes por semana. Se ela conseguir avançar, é lucro.
Generalizar a meta também não deixa claro aonde se quer chegar. Nessa linha, Bruna critica objetivos como “ter mais saúde”, “ganhar mais dinheiro”. Sem algo mais palpável, a possibilidade de perder o foco é enorme:
– É importante ter algo atingível e de forma gradual. O ano não é novo se você continua o mesmo.
Cinco erros comuns ao definir as metas para o ano novo
1) “Copiar e colar” as resoluções do ano anterior (se não deram certo, é porque precisam ser repensadas).
2) Estabelecer metas inalcançáveis.
3) Traçar metas a partir de comparações. O que o outro tem nem sempre lhe trará felicidade.
4) Estipular metas genéricas, sem considerar suas potencialidades e dificuldades.
5) Atrelar suas resoluções a de outras pessoas (cada um tem o seu tempo).
Cinco dicas para ter mais chances de sucesso
1) Observe o que o motiva, o que é mais importante na sua vida. Então estabeleça metas de acordo com os seus parâmetros internos.
2) Identifique “como chegar” a essa meta importante para você (e anote).
3) Transforme cada “como chegar” em uma pequena meta, assim você terá mais clareza sobre onde começar e para onde ir, além de ficar mais motivado a persistir a cada pequena meta alcançada.
4) Foque no presente. Faça hoje para chegar lá amanhã.
5) Aproveite o caminho. É o processo para alcançar a meta que dá sentido a ela de uma forma duradoura. E, com certeza, ela trará muito mais alegrias se, ao olhar para trás, você identificar todos os encontros que teve e as transformações pelas quais passou ao longo da caminhada.