O ônus de retardar a maternidade todo mundo conhece, mas nos últimos tempos, diferentes pesquisas têm indicado que também pode haver alguns bônus nessa opção. Ser uma mãe mais velha, segundo esses estudos, está associado a algumas vantagens para a criança.
Um dos principais trabalhos nessa linha foi realizado na Dinamarca, com 4,7 mil mulheres, e mostrou que uma idade mais avançada da mãe estava relacionada a crianças com menos problemas emocionais, sociais e comportamentais nas idades de sete e 11 anos (aos 15 anos, o mesmo efeito não se verificou). Publicada no ano passado, a pesquisa também apontou que mães mais velhas, acima dos 30 anos, são mais contidas quando se trata de agressões físicas e verbais dirigidas aos filhos.
Os dois resultados, acredita-se, podem estar relacionados. Mulheres mais maduras e pacientes poderiam levar algum tipo de vantagem na criação das crianças.
— Do ponto de vista físico, ter mais idade certamente não traz vantagem. O que acontece com a mulher de mais idade é que ela se torna mais tolerante, tem uma sensibilidade maior, tem a experiência de vida. Talvez tenha mais facilidade de lidar com situações críticas. Mas isso é discutível — avalia José Geraldo Ramos.
Uma outra pesquisa, coordenada por Alice Goisis (leia entrevista) e publicada no International Journal of Epidemiology, apontou que os ganhos para a criança podem aparecer na esfera cognitiva. Realizado pela London School of Economics and Political Science e pelo Max Planck Institute for Demographic Research, o experimento envolveu 10 mil crianças britânicas de 10 e 11 anos nascidas em 2001. Os cientistas descobriram que os filhos de mães mais velhas (acima de 35 anos) tinham tendência a se sair melhor em testes do que os de mães mais jovens (25 a 29 anos).
O resultado surpreendeu porque, no caso das crianças de mesma idade nascidas em 1958 e em 1970, o efeito era inverso: os filhos de mães mais novas saíam-se melhor nos testes cognitivos. A hipótese levantada pelos pesquisadores é que essa mudança ocorreu porque o perfil das mulheres que deixam a maternidade para mais tarde se transformou. Seriam mulheres mais escolarizadas, com menor tendência a fumar durante a gravidez e mais estabilizadas profissionalmente.
Na década de 1950, notaram os pesquisadores, as mulheres que tinham filhos com mais de 30 anos já estavam na sexta ou na sétima gestação e eram mais pobres, fatores associados a menos recursos parentais e, consequentemente, um desenvolvimento intelectual pior da criança.
Benefícios para a mulher
Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia analisou 830 mulheres na menopausa e descobriu que os melhores índices cognitivos e de memória verbal eram registradas naquelas que tiveram filhos após os 35 anos.
A conclusão é de que os hormônios produzidos durante a gravidez atuam de forma positiva no cérebro, melhorando as habilidades intelectuais maternas.
Outros estudos mostraram que ser mãe com mais idade pode ter relação com uma longevidade maior. Um deles, da Universidade de Boston, indica que as mulheres que tiveram filhos depois dos 33 anos têm duas vezes mais chance de viver até os 95 do que aquelas que só tiveram filhos antes dos 30.