Pesquisadora do departamento de políticas sociais da London School of Economics and Political Science (Reino Unido), a italiana Alice Goisis é especializada na relação entre a idade dos pais e o bem-estar das crianças. Ela comandou um dos estudos de maior repercussão sobre o tema: comparou as habilidades cognitivas, aos 10 anos, de britânicos nascidos em três diferentes períodos. Constatou que, hoje, as crianças nascidas de mães mais velhas saem-se melhor nos testes. Confira a entrevista concedida por e-mail a GaúchaZH.
Para a criança, quais são as vantagens de ter uma mãe mais velha? Existe uma explicação para essas vantagens?
Nos recentes cortes, encontramos uma associação positiva entre nascer de uma mãe mais velha e as habilidades cognitivas da criança. Essa associação positiva parece ser explicada porque mães mais velhas têm características vantajosas. Por exemplo, hoje em dia, as mães mais velhas tendem a ser altamente educadas, a exercer profissões especializadas e a ter altos níveis de renda familiar, fatores que estão associados às habilidades cognitivas das crianças. Portanto, a associação positiva não é decorrente da idade da mãe em si, mas devido às características das mães mais velhas. Isso não acontecia no passado, quando mães mais velhas não apresentavam essas vantagens, na comparação com mães que deram à luz com 20 e poucos anos.
Os riscos e problemas de uma maternidade tardia são compensados por essas vantagens cognitivas?
A literatura médica mostra que as mães mais velhas têm maior probabilidade de experimentar gestações complicadas e que, em média, seus filhos tendem a nascer em condições piores (por exemplo, é mais provável nascerem com baixo peso). No entanto, nossa pesquisa mostra que as características vantajosas das mães mais velhas podem compensar ou mesmo mais do que compensar os riscos associados ao envelhecimento reprodutivo. As mães mais velhas hoje têm condição socioeconômica melhor, mantêm boas práticas de saúde durante a gravidez e têm acesso a um bom atendimento pré-natal, fatores que podem contribuir para reduzir os riscos.
As mães mais velhas têm condição socioeconômica melhor, mantêm boas práticas de saúde durante a gravidez e têm acesso a um bom atendimento pré-natal, fatores que podem contribuir para reduzir os riscos
ALICE GOISIS
Pesquisadora
Então, as mulheres podem ficar mais relaxadas com relação a uma gravidez tardia?
Sim e não. Sim, porque hoje em dia a maioria das mães mais velhas têm características vantajosas e, portanto, seus filhos tendem a ter boas perspectivas. E não, porque nossa pesquisa mostra que não é a idade em si, mas sim as características das mães mais velhas que resultam em melhores resultados. Se as mães mais velhas não tivessem essas características que têm hoje em dia, os riscos ainda seriam maiores.
Com base no que é conhecido hoje, é possível indicar a melhor idade para uma gestação, pensando tanto na saúde da mãe quanto no desenvolvimento da criança?
Essa é uma decisão complexa, que envolve muitos fatores. Com nossa pesquisa, não pretendemos informar às mulheres sobre a melhor idade para ter uma criança. A contribuição do nosso estudo é revelar que, quando as mulheres têm filhos em idades mais avançadas, elas tendem a ter bons resultados – às vezes até melhores do que aqueles verificados nas crianças de mães mais novas. É preciso ter cuidado ao fazer recomendações, pois as descobertas não se aplicariam necessariamente a qualquer mulher.