Existe um jeito de "enganar" a biologia e de deixar a maternidade para mais tarde sem incorrer nos riscos que tal opção normalmente acarreta. Essa saída, cada vez mais utilizada, consiste em congelar óvulos jovens para utilizá-los no futuro.
Trata-se de uma estratégia que dribla o principal problema da maternidade tardia, a perda de qualidade dos óvulos devido ao envelhecimento, responsável por diminuir as taxas de fecundidade e aumentar o risco de doenças no bebê.
— Óvulos mais jovens são óvulos mais férteis, que não têm DNA alterado, então diminui a chance de erros cromossômicos. Se o óvulo for congelado jovem, ele manterá esse DNA jovem, o que é um jeito de reduzir as perdas — observa a professora de ginecologia da UFRGS Jaqueline Lubianca, coordenadora do ambulatório de planejamento familiar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Especialistas recomendam que as mulheres façam o congelamento até os 35 anos, caso planejem uma gestação para mais tarde. Segundo Eduardo Passos, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, mulheres que congelam 10 óvulos até essa idade têm 60% de chance de engravidar. Se fizerem o congelamento depois, a probabilidade cai para 30%.
A opção pelo congelamento significa ter uma gravidez aos 40 e poucos anos em condições iguais às que teriam uma década antes, porque as dificuldades para gestar um filho e para tê-lo saudável não estão relacionadas à idade da mulher, e sim à idade do óvulo. Mesmo a amamentação não será um problema. A produção de leite não se altera – a menos, é claro, que tenha havido alguma cirurgia na mama.
— A gente vê hoje muita paciente que faz prótese cedo e, com a prótese, alguns ductos podem ser seccionados, removidos, o que prejudica a lactação. Então, a amamentação não é questão da idade, mas da cirurgia sobre a mama. Se não houver cirurgia, teoricamente não haverá nenhum problema — observa Jaqueline.
Se o óvulo for congelado jovem, ele manterá esse DNA jovem, o que é um jeito de reduzir as perdas.
JAQUELINE LUBIANCA
Professora da UFRGS
A técnica para congelar os óvulos é considerada simples. Envolve um preparo de duas semanas, ao qual se segue a retirada, em procedimento ambulatorial. Os óvulos congelados não têm prazo de validade. Uma dificuldade, dependendo da condição financeira da paciente, são os custos. Eduardo Passos afirma que as despesas rondam os R$ 4 mil em medicação e mais R$ 7,5 mil para o congelamento.
— Começamos a congelar óvulos em mulheres que vinham fazer tratamento com câncer, mas hoje em dia, a técnica é usada por pacientes que querem garantir a sua fertilidade no futuro. É a melhor alternativa para quem decidiu postergar a gravidez. O benefício é duplo: mais fertilidade para a mulher e menos risco para o bebê. Essa é a grande informação que a gente deve passar. A fertilidade eterna não existe. Para quem não pode ter o filho mais cedo, existe essa possibilidade de congelar os óvulos e depois engravidar com esses óvulos congelados, se não conseguir naturalmente — afirma Passos.