Associada a sintomas como taquicardia, dificuldade para respirar e dores no peito, a crise de pânico costuma ser confundida pelos pacientes com um infarto. Quando o primeiro episódio ocorre, geralmente leva à procura de um serviço de emergência – e, quando já está no hospital, depois de ter passado por uma bateria de exames, a pessoa descobre que está tudo bem com seu coração.
Muitas vezes, em situações como essa, os próprios médicos identificam os sintomas de uma crise de pânico e sugerem que o paciente procure um psiquiatra, apontando que o problema não é físico. Sem essa orientação, porém, a vítima pode pensar que, uma vez descartados os sintomas de uma doença cardiovascular, ela estava "enlouquecendo", inventando um mal que não sentiu. Isso acaba dificultando ainda mais o tratamento e colaborando para o desenvolvimento da síndrome.
– Essa situação leva a um grande mal-estar. Os familiares ficam assustados, procuram uma emergência, e aí se vê que aquilo não foi causado por um mal clínico. É importante, porém, procurar o diagnóstico adequado, e não encarar esse ataque como uma loucura – garante o médico psiquiatra Abelardo Ciulla.
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Há alguns sinais que levam médicos, se não a apontar o problema como um transtorno de ansiedade, ao menos a perceber que aqueles sintomas podem não estar relacionados a fatores cardíacos. Muitas vezes, quem chega à emergência após um ataque de pânico está no início da vida adulta, tem boa compleição física e aparência saudável.
– Os próprios cardiologistas já têm orientado casos assim a procurar um atendimento psiquiátrico. Mas a pessoa acaba achando que não acreditaram nos sintomas que ela sentiu e descartando o conselho médico. Muitos só vão procurar um consultório anos depois de ter passado pela emergência – relata Cristiano Tschiedel Belem da Silva, diretor científico do Departamento de Psiquiatria Clínica da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).
E, como ataques, ainda que seguidos, nem sempre levam ao desenvolvimento do transtorno de pânico, muitos pacientes acabam sendo afetados pela síndrome sem que percebam, pensando que médicos, familiares e amigos não acreditam que eles estão sofrendo em silêncio, com medo de ter novas crises – que novamente não serão adequadamente tratadas.
Sinais do ataque de pânico
Diagnósticos clínicos costumam demandar a identificação de pelo menos quatro dos seguintes sintomas em um ataque de pânico:
– Palpitações e taquicardia
– Sudorese
– Tontura ou vertigem
– Sensação de falta de ar e de sufocamento
– Sensação de asfixia
– Dor e/ou desconforto no peito (o que pode ser confundido com os sinais do infarto)
– Náusea ou desconforto abdominal
– Tremores, abalos e estremecimentos
– Despersonalização (sensação de desligamento do mundo exterior, como se a pessoa estivesse vivendo um sonho) e desrealização (distorção na visão de mundo e de si mesmo, como se a pessoa estivesse fora de si)
– Medo de perder o controle e enlouquecer
– Medo de morrer
– Adormecimento e formigamentos
– Ondas de calor e calafrios
Fonte: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais
O que fazer
– Na primeira ocorrência de um ataque de pânico, é comum que a pessoa afetada confunda os sintomas com os de um infarto ou de outra doença clínica grave. Ao receber a informação médica de que a crise não está relacionada a um problema clínico, é importante buscar o auxílio de um psiquiatra: a falta de tratamento agrava os quadros do transtorno, afetando ainda mais a qualidade de vida.
– Em casos recorrentes de ataques de pânico, o indicado é tentar recuperar o controle, respirar mais calmamente, se possível buscar alguma distração. Como a taquicardia é um dos principais sintomas da manifestação do transtorno, o exercício respiratório é fundamental para normalizar os batimentos cardíacos.
– No dia a dia, técnicas de meditação e respiração consciente podem ajudar no controle da ansiedade. Praticá-las pode prevenir o medo de novos ataques ou ajudar a atenuá-los, voltando toda a atenção para o momento presente, sem pensar no que pode vir a acontecer de ruim.