Fofinhas e flutuantes, assim são as fotos que têm aparecido em sites e redes sociais de bebês usando boias presas ao pescoço. As chamadas "floating neck rings for babies" têm sido utilizadas sob pretexto de acostumar os pequenos ao ambiente aquático. No entanto, entidades e especialistas alertam para o uso incorreto do acessório.
Um artigo assinado pela Swimming Teachers' Association e pelo Birthlight, organizações sem fins lucrativos dedicada à saúde das gestantes e suas famílias, ambas do Reino Unido, alerta para os riscos do inflável e critica o uso. No texto, as entidades destacam o perigo de prender verticalmente os pequenos na água com a cabeça apoiada a uma estrutura semi-rígida. "Particularmente abaixo dos cinco meses, há uma preocupação sobre a compressão das vértebras no pescoço (...) mesmo permitindo a flutuação o anel dificulta a integração dos movimentos do corpo superior e inferior", afirma o artigo.
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O professor de natação infantil Bruno Pfiffer Homem discorda parcialmente do documento. Para ele, o acessório é bem-vindo e serve como opção até que os bebês tenham firmeza nos membros superiores para usar boias de braços:
– Gosto das boias de pescoço para bebês a partir dos seis meses. Quando eles são novinhos não têm firmeza nos braços. Como a água reduz o peso corporal, não há tanta carga forçando a cabeça e eles ficam mais livres e tranquilos.
Amanda Michelini, mãe de Max, de seis meses, é uma das recentes adeptas da moda e gostou do que viu. Depois de buscar informações sobre o produto na internet, ela encomendou a boia em um site. A primeira experiência foi na banheira de casa, onde o pequeno ficou apoiado enquanto vestia o acessório. Como ele não esboçou nenhuma reação negativa, Amanda testou o inflável em uma piscina térmica:
– Meu marido entrou na água com ele e o soltou. Ele pareceu estar bem confortável, não ficou assustado e não chorou. Parecia estar tão relaxado que chegou a dormir.
Boia não é salva-vidas, lembra especialista
Outra discussão que a boia levanta está relacionada à "terceirização" que esses produtos prestam aos pais. "No mundo de hoje, os bebês passam boa parte do tempo em acessórios que os isolam do contato humano. Alguns são necessários, como cadeirinhas para carro. Outros, como berços e cadeiras elétricas são comercializados como mão-de-obra para os pais. Os anéis para pescoço são parte desta cultura global", diz um trecho do documento feito no Reino Unido.
Edson Liberal, segundo vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), diz o mesmo:
– Aqueles momentos em que pai, mãe e bebê ficam juntos está cada vez menor. O que se critica muito é a terceirização do cuidado.
Por isso, ele só aprova os anéis de pescoço com supervisão constante dos familiares.
– É preciso que se tenha noção exata que, se vai colocar, vai ficar do lado. Esses acessórios geram a percepção de que o bebê está seguro e os pais deixam o cuidado para o brinquedo – completa, reforçando que o uso deve ser restrito a ambientes domésticos, o que exclui o uso no mar, por exemplo.
O professor de educação física e membro da Academia Brasileira de Profissionais de Natação Infantil Paulo Poli Figueiredo lembra que nenhum tipo de boia, tanto de braço quanto de pescoço, têm capacidade de salvar vidas. Portanto, o uso só é autorizado com supervisão de um adulto e para ambientação dos pequenos na água.