Se as encruzilhadas não existissem, a vida seria mais fácil. Mais fácil e tediosa, pois nada é mais importante do que as aventuras de aprender a escolher. Vivemos incertezas, ambivalências e toda ordem de conflitos, daí que a encruzilhada é um símbolo universal. São espaços tanto de passagem quanto de permanência, onde se erigem monumentos, altares, verdadeiros centros sagrados. Shakespeare nos ensinou muito sobre a condição humana e foi quem melhor expressou o drama do homem na encruzilhada da vida. Uma de suas frases mais famosas foi dita por Hamlet: "To be or not to be, that is the question" ("Ser ou não ser, eis a questão"). O Príncipe da Dinamarca viveu o dilema de sua encruzilhada entre ir à luta, como lhe havia ordenado o fantasma do seu pai, ou permanecer passivo. Em todas as tragédias, desde a velha Grécia, os personagens sofrem diante de seus dilemas existenciais.
Estamos destinados a escolher, e também sermos escolhidos, como ocorre já antes do nascimento. Os pais devem definir um nome para seu filho, e já o nome próprio é uma encruzilhada transgeracional, devido à transmissão entre gerações. O nome é inseparável de nós, é essencial, também é a primeira inscrição simbólica da criança. Aliás, a Cabala assegura que, nas letras de um nome próprio, está contida a alma da pessoa. Nossas escolhas são determinadas por desejos inconscientes, as marcas na memória gerando as identificações que formam a personalidade de cada um. Escolhemos assim amigos, estudos, caminho profissional, casamento. Amor e trabalho são as fontes principais, as encruzilhadas decisivas da vida. Quanto entusiasmo dá fazer o que se ama e sentir a felicidade de estar bem casado. Entretanto, muitas vezes, os sonhos não se casam com a realidade. Além do que, nada é estático, a vida está sempre em movimento, com novos desafios ao longo dos tempos.
O homem pode ser pensado como uma encruzilhada e gostar de escolher como um jogo excitante. Na verdade, não faltam momentos decisivos na vida, gerando sentimento de desamparo diante de cada opção vital. Nunca estamos totalmente seguros de quais são os melhores caminhos. Em todos os consultórios do mundo onde se trata a psique – alma em grego –, os pacientes perguntam o que fazer de suas vidas. As ambivalências de Hamlet são as nossas, ser ou não ser, qual a direção a seguir, até para escolher as palavras que agora escrevo. Viver é conviver com acertos e erros, suportando as frustrações, pois somos todos humanos e, às vezes, nos perdemos nas encruzilhadas.
Tudo o que não se pode ter diante das disjuntivas é pressa. É indispensável aprender a pensar, abrindo espaços de reflexão. Alguns mais apressados e dependentes se sentem atraídos por receitas prontas, em destinos definidos pela sorte ou por métodos mágicos. Diante dos que estão sempre em busca das certezas nas encruzilhadas, lembro-me do elogio da incerteza feito por Eduardo Galeano. Quando uma cigana se aproximava dele para ler seu futuro, o escritor logo propunha pagar o dobro para que sua mão não fosse lida. Não queria abrir mão da surpresa da incerteza nas encruzilhadas da vida.