Da infância e adolescência acima dos 120 quilos, repleta de episódios de bullying, Othon Gama, 28 anos, reuniu forças para dar a volta por cima. Sem nenhum procedimento cirúrgico ou uso de medicamentos, o advogado, e hoje escritor e palestrante, perdeu 55 quilos em 18 meses.
A solução definitiva para a obesidade mórbida veio após 15 tentativas frustradas. Othon se deu conta de que era preciso ir além do que já havia feito até então e buscar uma mudança profunda de hábitos. Tornar a 16ª experiência bem-sucedida só foi possível depois que ele se debruçou em pesquisas sobre o tema com a intenção de responder às questões que ouvia repetidas vezes: "Como você fez isso?" e "Como eu posso fazer isso?".
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Para auxiliar as pessoas promoverem mudanças reais e sustentáveis em suas vidas, Othon escreveu O Código da Mudança, livro em que apresenta o 3D de mudança de hábitos. Baseado em pesquisas de universidade renomadas, o método propõe trabalhos nas dimensões científica, emocional e executiva.
Nesta quinta-feira, o advogado desembarca em Porto Alegre, onde participa da primeira série de palestras Provocações Contemporâneas. Ao lado do historiador Leandro Karnal, do economista Paulo Afonso Pereira, do cineasta e jornalista José Pedro Goulart e da escritora e coaching Semadar Marques, o escritor sobe ao palco do Teatro do Sesi para a palestra Você Aceita Mudar o Brasil?. Por telefone, ZH conversou com Othon sobre os processos de mudança e suas dificuldades.
Você fala muito em hábitos e em como mudá-los. Mas como podemos identificá-los de forma rápida e simples?
Em 40% do nosso dia, estamos no automático. Então, esses hábitos tomam conta do nosso comportamento. Mudar sem trabalhar os 40% não tem sustentabilidade. Logo, volta a cometer as mesmas coisas que prometeu que nunca mais faria. Primeira coisa é saber que o hábito em si é fundamental para a sobrevivência da espécie humana, pois caso não existisse o pensamento automatizado, o cérebro se sobrecarregaria com tantas informações. Quando você vai amarrar o sapato, por exemplo, não pensa que lado vai atar primeiro. Todo hábito tem porta de entrada, rotina e tem recompensa. E você só consegue mudá-lo quando troca a rotina e consegue chegar na mesma recompensa. Se eu como um doce para aliviar minha ansiedade, também consigo reduzi-la saindo para conversar com um amigo, dando uma volta no escritório, fazendo algo que me dê a mesma sensação que o doce me traria. Você precisa saber quais hábitos quer mudar. Não precisa se preocupar com todos, apenas com os nocivos. É preciso elencar esses hábitos. Se você que parar de fumar, se você quer emagrecer, precisa fazer uma lista com aquilo que você quer mudar e identificar quais hábitos estão relacionados a isso. Quando chegar a vontade de fumar ou comer e você perceber que aquilo é um hábito automatizado, percebe uma armadilha do seu cérebro. Quando você descobrir isso, vai encontrar a nova rotina para chegar na solução. Você não muda o destino, mas a forma de chegar nele, pois ele é automatizado e inconsciente.
Como podemos sair do automático nessa correria que vivemos hoje?
A velocidade que vivemos hoje não é a mesma de 50 anos atrás. Mudança é um processo, não um evento. No meu livro, nos meus cursos, trato de forma sincera a questão da mudança. As pessoas buscam fórmulas mágicas e se frustram. A primeira coisa que você tem de se perguntar é qual é o propósito que está disposto a mudar. Ao descobri-lo, você toma uma decisão. Tem de ter o momento de pensar. São nesses momentos que temos as melhores reflexões sobre quais os próximos passos.
No livro, você afirma que a melhor forma de construir o futuro de uma nação é com o ensinamento de hábitos certos por meio da educação. Pode explicar?
Acredito que a mudança está na educação continuada. Hoje, temos o Ensino Infantil, Fundamental, Médio, Superior e Pós. No entanto, não temos, dentro da sociedade, a educação sobre coisas que precisamos aprender para a vida. Minha contribuição é ensinar a transformar hábitos sociais.
Podemos promover mudanças sem ter um propósito?
Não acredito. Ninguém muda se não tem um propósito bem definido. Se você realmente acreditar que vale a pena, se souber, então, consegue ter a força necessária para chegar onde quer.
Grande mudanças exigem força de vontade. De onde ela vem?
Força de vontade é um músculo que precisa ser treinado, não é uma habilidade. O que você faz é um padrão de comportamento. Desenvolvê-la é começar com pequenos passos. Você precisa escolher uma pequena coisa para resolver, não a montanha inteira. Quando você resolve isso, sua força de vontade se fortalece. Se você não acreditar em você mesmo, no seu propósito, não consegue desenvolvê-la. Comece com o básico, aquilo que não pode ficar para depois. Todos os dias, vá adquirindo novos desafios.