Não é difícil observar que as pessoas, à medida que se tornam mais velhas, dormem menos e acordam cada vez mais durante a noite. Para entender as causas desse fenômeno, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos analisou uma série de estudos científicos e concluiu que, ao envelhecer, se perde gradualmente a capacidade de ter um sono profundo e restaurador - o que provoca consequências físicas e mentais negativas, acelerando o próprio envelhecimento.
O sono muda com o envelhecimento, mas o que os cientistas descobriram é que essas mudanças podem também ser ponto de partida para explicar o próprio envelhecimento, segundo Matthew Walker, um dos autores do estudo, publicado ontem na revista científica Neuron.
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Cinco consequências da falta de sono
Diretor do Laboratório de Sono e Neuroimagem da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, Walker afirma que um dos principais problemas ligados ao envelhecimento e agravados pela perda do sono é a demência.
– Cada uma das principais doenças que estão nos matando nos países desenvolvidos - como diabetes, obesidade, Alzheimer e câncer -, tem uma forte relação causal com a falta de sono. À medida que ficamos mais velhos, a probabilidade de todas essas doenças aumentam consideravelmente, especialmente a demência – afirma.
Segundo Walker, a perda do sono entre as pessoas mais velhas não é causada por uma agenda cheia nem por necessidade menor de sono. O que ocorre é que, conforme o cérebro envelhece, os neurônios e os circuitos nas áreas que regulam o sono se degradam lentamente, resultando em um tempo cada vez menor nos estágios do chamado sono não-REM.
Segundo os cientistas, o sono REM (movimento ocular rápido, na sigla em inglês), que ocorre com mais frequência na segunda metade da noite de sono, é caracterizado por uma atividade cerebral rápida - quando ocorrem os sonhos - e um relaxamento total do corpo. Enquanto isso, os estágios de sono não-REM são caracterizados por uma atividade cerebral lenta, que garantem um sono restaurador. Com menos horas nesses estágios de sono profundo, os idosos sofrem sequelas.
Segundo outro dos autores, Bryce Mander, também da Universidade da Califórnia em Berkeley, o envelhecimento leva a um declínio de quase todas as medidas usadas para avaliar o sono.
– Quanto mais se envelhece, a duração do seu sono é reduzida, fica mais fragmentado e o tempo gasto em cada um dos estágios é reduzido. O principal é que o tempo gasto nos estágios mais profundos - em especial no sono profundo não-REM - é reduzido dramaticamente. Mesmo a passagem de um estágio a outro se torna menos previsível e mais desorganizada – explica.
Estudos no Brasil
Estudo de cientistas do Instituto do Sono, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado em 2014 na revista Sleep Medicine, chegou a conclusões semelhantes. Um dos autores, o geriatra Ronaldo Piovezan, professor de Biologia e Medicina do Sono na Unifesp, a pesquisa foi feita com mais de mil pessoas na cidade de São Paulo.
De acordo com Piovezan, o estágio mais profundo do sono não-REM é fundamental para a recuperação corporal. – Nessa fase do sono há liberação de alguns hormônios, como o do crescimento - que acreditamos ser muito importante para a regulação do funcionamento muscular. A perda do sono pode então estar ligada à perda de massa muscular na velhice, o que pode levar à dificuldade de locomoção e aumentar o risco de quedas – diz.
A fragmentação, com o idoso acordando muito mais durante a noite, reduz a qualidade do sono.
– Isso diminui a concentração e a atenção, prejudica a memória e aumenta o risco de demência – garante o pesquisador da Unifesp.