A insônia é como um ladrão noturno que assalta milhões de pessoas, principalmente aquelas com mais de 60 anos. As causas são muitas e vão aumentando em número e grau com a idade. Mesmo assim, o problema quase sempre é minimizado durante os check-ups de rotina, o que resulta não só na diminuição da qualidade de vida do idoso como pode agravar transtornos físicos e emocionais, incluindo sintomas de perda cognitiva.
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Quase todo mundo já teve aquela noite em que o corpo parece se esquecer de dormir um número mínimo de horas. Por mais angustiante que seja quando isso acontece, nem se compara aos efeitos para quem a insônia – ou a dificuldade de adormecer, se manter adormecido ou acordar cedo demais – é uma ocorrência diária.
Uma pesquisa feita em 1995 pelo Instituto Nacional do Envelhecimento, dos Estados Unidos, com 9 mil pessoas com idades superiores a 65 anos, de três comunidades diferentes, revelou que 28% tinham problemas para adormecer e 42% relataram dificuldades em pegar no sono e continuar dormindo.
O número de idosos atingidos obviamente deve ser muito maior hoje em dia, quando milhões passam as horas anteriores à ida para a cama olhando para telas eletrônicas que interferem nos ritmos biológicos do organismo.
Segundo Alon Y. Avidan, diretor da clínica do sono da Faculdade de Medicina David Geffen da Universidade da Califórnia em Los Angeles, insônia é sintoma, e não diagnóstico, e pode ser sinal de um problema de saúde oculto e quase sempre tratável, mas que, quando persistente, deve ser levado muito a sério.
A chamada insônia passageira dura menos de um mês e pode resultar de um problema temporário no trabalho ou doença grave.
A de curto prazo dura de um a seis meses e pode ser causada por uma crise financeira ou luto – o que já é difícil o suficiente. Mas quando supera essa marca, tornando-se crônica, pode causar sérios distúrbios físicos, emocionais e sociais.
Dificuldade para dormir pode esconder outros problemas
Além da sonolência excessiva durante o dia, que já pode ser perigosa, a versão duradoura pode resultar em "perturbação intelectual, prejuízo cognitivo, confusão, retardamento psicomotor e aumento de risco de lesões ou ferimentos", de acordo com Avidan. Compreensivelmente, quase sempre é acompanhada por depressão tanto como causa quanto resultado da insônia persistente. E se não for tratada, aumenta os riscos de quedas e fraturas, como mostrou um estudo feito na população das casas de repouso.
Há dois tipos de insônia: uma, a chamada primária, é resultado de um problema que ocorre somente ou principalmente durante o sono, como apneia obstrutiva, síndrome das pernas inquietas (que aflige de 15% a 20% dos adultos mais velhos), movimentos periódicos dos membros ou uma tendência a reproduzir os sonhos fisicamente, o que pode ser também parte dos primeiros indícios de Parkinson.
A menos que durma com alguém que note, a pessoa que sofre desse transtorno pode não saber por que tem o sono interrompido. Um diagnóstico preciso geralmente exige um estudo profissional, com o paciente passando de uma a duas noites no laboratório, monitorado por instrumentos que registram respiração, batimentos cardíacos, pressão sanguínea, movimentos corporais e o tempo gasto nos vários estágios do sono.
O outro tipo de insônia mais comum é o secundário e pode esconder um problema médico ou psiquiátrico, ser sequela de algum tipo de medicação ou fatores comportamentais como exposição excessiva à cafeína, bebidas alcoólicas, nicotina ou sonecas diurnas ou ainda de perturbações ambientais como fadiga de viagem (jet lag) e barulho ou luz excessivos – principalmente o brilho azulado de algum aparelho eletrônico no quarto.
Entre as muitas doenças que podem causar a insônia crônica estão a insuficiência cardíaca, o refluxo gastroesofágico, os problemas pulmonares, a artrite, o Alzheimer e a incontinência. O tratamento do problema, quando possível, geralmente diminui seus efeitos.
Higiene do bom sono
Peter J. Hauri, especialista do sono da Clínica Mayo, criou uma prática para ajudar as pessoas que sofrem de insônia não gerada por causas médicas. Conheça:
– Limite as sonecas a menos de meia hora por dia, de preferência no início da tarde.
– Evite o uso de estimulantes, sedativos e refeições pesadas, diminuindo a ingestão de líquidos duas ou três horas antes de se deitar.
– Pratique exercícios físicos moderados, de preferência pela manhã ou no início da tarde.
– Aumente a exposição a luzes fortes durante o dia e minimize-as durante a noite.
– Crie condições confortáveis de repouso.
– Deite-se somente quando começar a se sentir sonolento.
Se não resolver...
Especialistas dão mais dicas para quem não conseguir adormecer:
– Se você não pegar no sono em até 20 minutos, saia do quarto e faça alguma coisa relaxante, como ler um livro (impresso, não eletrônico), voltando somente quando começar a ter vontade de dormir.
– Não apele para a bebida alcoólica. Ela pode até estimular a pessoa a adormecer, mas produz um sono fragmentado.
– Se você ainda precisar de ajuda de um terapeuta para combater a insônia, a terapia cognitivo-comportamental provou ser a mais eficiente em triagens clínicas.
– Algumas mudanças na dieta também podem ajudar, como o consumo de banana, cereja, kiwi, aveia, leite e chá de camomila, embora sua eficiência não seja cientificamente comprovada.