A terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma linha psicoterápica de desenvolvimento recente, está se tornando cada vez mais comum no tratamento da insônia. Nesta década, ela tem se consolidado como opção preferencial.
– Existem evidências científicas suficientes para afirmar que o método mais efetivo e duradouro do tratamento da insônia é a terapia cognitivo-comportamental. Essa é a terapia mais aceita, com resultados superiores aos da medicação. Eu diria que é um consenso dos últimos dois ou três anos. O princípio da coisa é levar o paciente a racionalizar o que está acontecendo para ele não dormir – observa o especialista em medicina do sono Geraldo Rizzo, do Hospital Moinhos de Vento.
Nos últimos anos, multiplicaram-se os cursos para formar especialistas na chamada TCC para insônia. A neurologista Andrea Bacelar, do Rio de Janeiro, está entre os profissionais que oferecem a modalidade. Ela explica que a terapia envolve oito sessões, cada uma delas focada em um determinado objetivo.
O primeiro encontro é dedicado à chamada higiene do sono, relacionada a mudança de hábitos e rotinas, com adoção de práticas que colaboram para uma boa noite de repouso, como deitar e levantar sempre no mesmo horário ou diminuir a iluminação dentro de casa no período noturno. Outra sessão é voltada a trabalhar técnicas de relaxamento, que podem ser usadas à noite para favorecer o processo de recolhimento.
– É uma terapia não farmacológica, que tem como objetivo desconstruir o medo que começa a ser gerado com a próxima noite. É bem específica, para que o indivíduo ajude o cérebro a produzir hormônios que gerem sono, diminuir hormônios de alerta, reduzir descargas que aumentam a temperatura do corpo, a frequência cardíaca, a pressão arterial – diz Andrea.
Uma das técnicas usadas é pedir ao paciente que mantenha um diário do sono, no qual anota os horários em que dormiu e acordou e detalha como foi a noite. É uma medida importante porque as pessoas tendem a ter uma percepção inacurada de como estão dormindo e permite fazer comparações ao longo do tempo. Andrea também pede que, antes de dormir, as vítimas de insônia anotem todas as preocupações em um papel.
– Essa é uma forma de trabalhar o pensamento. Ao anotar as preocupações antes de dormir, a pessoa não fica pensando naquilo ou com ansiedade de ter de lembrar os compromissos – explica.
Apesar de ser a opção mais recomendada, a difusão da terapia cognitivo-comportamental para insônia esbarra em uma série de obstáculos, a começar pela escassez de profissionais habilitados. Outra dificuldade é o custo, já que a modalidade não é oferecida no SUS ou por convênio. Para garantir uma opção mais em conta, já surgiram modalidades de terapia em grupo ou mesmo online. Outra razão para a TCC não ser adotada mais amplamente é que exige disponibilidade de tempo e um esforço por parte do paciente.
– As pessoas resistem muito a fazer a terapia. Pedem o remédio, porque é mais fácil, é muito cômodo. Mas o profissional não pode ficar receitando medicamento para a insônia por meses ou anos. O tratamento farmacológico deve ser temporário, reservado a casos específicos. Não existe remédio seguro, não existe remédio ideal e não existe remédio que imite o sono fisiológico. O profissional tem de fazer com que o indivíduo se esforce para resolver seu problema – defende Rizzo.