Sabe quando você nota que as coisas não estão bem, mas, mesmo assim, não faz nada para mudar? É mais ou menos aquela história de estar mentindo para si mesmo. E como disse Renato Russo "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira". Parecia que a bronca não era comigo. Tipo empurrar as coisas com a barriga. No meu caso, literalmente. Sempre arrumava a desculpa da falta de tempo, devido à rotina corrida, de que era difícil encaixar uma atividade física. Conversa fiada. Ou me entupir de comida podia ser explicado pelos horários pouco usuais da rotina de trabalho.
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Na real, sempre tinha uma desculpa esfarrapada na ponta da língua. O fato é que eu estava extremamente pesado, vivia cansado, com dores nas articulações e comendo demais. Tinha um medo terrível de subir na balança. E fugia de exames de sangue e cardiológicos porque o resultado, certamente, me colocaria na marca do pênalti. De algum jeito, teria de fazer alguma coisa para modificar a situação de obeso e sedentário. Mas não mexia uma palha!
Em determinado momento, cheguei a cogitar fazer uma cirurgia bariátrica – método eficaz de cortar o mal pela raiz. Conversei com várias pessoas que haviam feito e com ótimos resultados. Hoje em dia, a medicina está extremamente avançada nesta área, e eu poderia emagrecer de forma rápida. Só que a minha cabeça não estava preparada. Quem passa por tal procedimento, precisa de acompanhamento psicológico para encarar uma nova forma de lidar com a alimentação. Eu, que vivia de excessos, teria de mudar radicalmente de postura. A opção pela cirurgia bariátrica deve partir do acordo entre médico e paciente, quando a adoção de dieta e exercícios ou o uso de remédios emagrecedores não estão surtindo efeito no tratamento da obesidade. Mesmo sabendo disso, seguia estático, sem fazer nada para ter uma vida mais saudável.
No começo de 2016, surgiu a ideia do Te Mexe, Gigante! com a produção de um material multimídia nos veículos da RBS, mostrando que qualquer pessoa, até mesmo eu, com meu histórico que me condenava, pode começar a praticar uma atividade física, ter bons hábitos alimentares, emagrecer e ter mais saúde. Óbvio que, de saída, eu rechacei a ideia. Primeiro por achar que iria me expor, que jornalista não é notícia e que acabaria tendo mais uma tarefa no meu já atribulado cotidiano profissional. Não acreditava na minha disciplina para seguir uma rotina de exercícios e fechar a boca.
Depois de pensar muito, ouvir amigos da rádio e pessoas da família, resolvi topar. A coisa mais importante de todo esse processo foi descobrir que eu estava diabético. Daí, bateu o pavor. Sabia de todos os efeitos devastadores da doença. Mas aprendi logo que ela pode ser encarada de frente. Pouco mais de dois meses depois de começar a pauleira, vejo que escolhi o caminho correto. Entre a redução, que eu temia, e a reeducação, de que eu fugia, preferi a segunda opção.
Estou feliz com os resultados e tenho certeza de que não estou decepcionando quem apostou em mim. Subir na balança e ver que o peso foi reduzido em 15 quilos tem um sabor especial. Que a atividade física pode ser prazerosa e incorporada ao dia a dia. Que é possível não deixar de comer o que se gosta, apenas apreciar com moderação. Nessa trajetória, agradeço demais pela confiança de um timaço do Hospital Moinhos de Vento, que comprou a ideia: os médicos Guilherme Rollin e Charles Stefani, a nutricionista Fernanda Schumacher e a colega Shirlei Manteufel. Sem esquecer do cara que tem mais me aguentado durante todo esse período – e vai ter de aturar por mais tempo – o professor Alexandre Travi, da Optima. Vamos em frente, porque o caminho é longo.