A sucralose é um dos adoçantes artificiais mais conhecidos no mundo. Cerca de 400 vezes mais doce do que o açúcar, o ingrediente é muito usado para adoçar diferentes alimentos e bebidas, especialmente chás e cafés. Diferentes pesquisas já mostraram que a sucralose se degrada em altas temperaturas.
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Porém, um estudo feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que os efeitos do calor podem ir muito mais além da degradação: quando aquecido a 98ºC, a sucralose pode se tornar instável e liberar compostos potencialmente tóxicos. Os resultados foram publicados na semana passada na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
– Observamos que isso (a liberação de compostos) ocorre a 98 ºC, calor facilmente atingível durante o preparo de alimentos. Foi uma surpresa – disse um dos líderes do estudo, Rodrigo Ramos Catharino, coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores da Unicamp, em entrevista ao Jornal da Unicamp.
Durante o estudo, os pesquisadores aqueceram a sucralose por cerca de dois minutos em banho-maria e notaram a liberação de organoclorados no gás proveniente da fervura e no caramelo que se formou quando esfriou e se solidificou. Os organoclorados são compostos considerados potencialmente tóxicos e têm efeito cumulativo no organismo.
– No gás, observamos a presença de ácido clorídrico, que pode ser irritante se inalado. Na fase sólida, encontramos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos clorados (HPACs), uma classe de substâncias recentemente descoberta, sobre a qual se sabe muito pouco. Observamos, porém, que estes átomos de cloro aumentam não só o poder adoçante dela, mas a reatividade. Quimicamente ela se transforma em algo que vai reagir mais facilmente. Isso, portanto, explica essa instabilidade da sucralose em temperaturas mais quentes – explicou Catharino, que apontou que já se sabe que os HCPACs têm efeito mutagênico e carcinogênico. Ou seja, é capaz de estimular o aparecimento de células cancerígenas.
No entanto, quando não aquecido, o adoçante continua sendo seguro.
– Se não aquecer a sucralose não tem problema nenhum, é completamente inofensiva – apontou Catharino.
Criada em laboratório, a sucralose contém três átomos de cloro, responsável por aumentar o sabor doce e que impedem o organismo de usar o item como fonte de energia – como ocorre com o açúcar de mesa. A substância é liberada sem restrições por importantes órgãos de segurança alimentar mundiais, como o Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, o Joint Expert Committee on Food Additivies (JECFA), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil.
– Os resultados da nossa pesquisa apontam dados novos na área de toxicologia de alimentos, indicando que a exposição crônica de seres humanos ao adoçante, caso, por exemplo, de diabéticos e de quem faz dietas especiais, pode causar efeitos nocivos à saúde. O uso deste edulcorante artificial merece, portanto, muita atenção dos consumidores, além do desenvolvimento de outras pesquisas por parte de órgãos de regulamentação – indica.