Doutor em microbiologia pela University of Iowa, nos Estados Unidos, e com pós-doutorado na University of British Columbia, no Canadá, Luis Caetano Martha Antunes é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde desenvolve trabalhos relacionados à microbiota, entre outros. Ele afirma que, como os estudos da nossa população de microrganismos são recentes – os mais significativos foram publicados na última década –, os cientistas ainda não conseguiram identificar o que é uma microbiota saudável, pois isso pode variar de pessoa para pessoa. Confiante nos avanços da ciência na área, estima um futuro em que possamos curar nossas doenças com coquetéis de bactérias.
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Por ter mais bactérias, a microbiota do trato gastrointestinal é a mais importante?
Ela é a que foi mais estudada, pois existem associações mais óbvias. Você come, então tudo que ingere passará pelo trato gastrointestinal. É uma superfície muito grande de contato com o meio externo e com o sistema imunológico. Mas, cada vez mais, a microbiota do trato respiratório tem ganhado importância para a saúde, assim como a da pele, com estudos um pouco mais avançados. A expectativa é de que as microbiotas sejam igualmente importantes.
A quais doenças os estudos relacionam a microbiota?
A microbiota (gastrointestinal) é associada tanto a doenças locais – como síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, úlceras e câncer gástrico – quanto a problemas de saúde sistêmico, como asma. Existe um conjunto de evidências da composição da microbiota no desenvolvimento de asma e coisas que nem se imaginaria, como autismo. Também é associada à obesidade e à síndrome metabólica, doenças que começaram a crescer nas últimas décadas, pareadas com a industrialização e o aumento dos antibióticos. Quanto mais se vive uma vida mais limpa, mais se adquire doenças relacionadas à microbiota. Também existem estudos a relacionando com ansiedade e doenças psiquiátricas, como depressão.
Como cuidar da microbiota intestinal?
Ainda não conseguimos dizer o que é uma microbiota saudável. Uma composição da microbiota pode ser saudável para um e não para outro, dependendo da genética e do estado imunológico. Conforme formos entendendo mais dessas comunidades de microrganismos, no futuro, teremos coquetéis de probióticos para tomar quando estivermos doentes. Já existem estudos no Canadá tentando desenvolver um grupo de bactérias saudáveis para usar como método de reposição da microbiota quando afetarmos sua composição.
Qual é o maior desafio nos estudos da microbiota?
Crescer algumas dessas bactérias em laboratório hoje já não está tão difícil como há 30 anos. Como algumas bactérias não crescem sozinhas, foi desenvolvido um robô que mimetiza o sistema gastrointestinal, no Canadá. Na minha opinião, o maior desafio é fazermos essa associação causal entre certa bactéria e o processo que ela faz, pois certas espécies variam de pessoa para pessoa.
O que podemos esperar para o futuro?
É uma área de estudos que vai crescer muito, pois poderemos produzir novas drogas. Mostrei em um estudo que a microbiota produz milhares de moléculas que ainda não conhecemos, não sabemos o que são e o que fazem. Consegui isolar uma dessas moléculas e vi que ela age contra uma bactéria patogênica, poderia ser isolada e virar um medicamento. Eu acho que nós vamos aprender, no futuro, como modular a microbiota de forma a favorecer a saúde. Se você conseguir modular para um lado ou para outro, com coquetéis de probióticos, será possível aplicá-los nos casos de doenças.