Completa meio século, neste sábado, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Santa Maria. A instituição mudou bastante ao longo das cinco décadas de existência, hoje, vive o seu auge, considerando a estrutura física e de profissionais oferecida aos alunos, a estabilidade financeira e o número de atendimentos realizados.
A entidade também comemora a recente formalização de novos serviços, como a escola, reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação, o projeto de estimulação precoce de crianças e o Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual, que ampliou a abrangência da instituição, incluindo, entre os atendidos, pessoas com deficiência física, além das com deficiência intelectual.
– Tudo isso simboliza um grande passo para todos. Mesmo a comunidade vizinha à Apae, na região Oeste, pode contar com serviços, como fisioterapia. Além das próteses, que dão muito mais qualidade de vida para quem precisa – diz o presidente da Apae, Julio Brenner.
Um dos alunos da entidade é Jonathas de Oliveira Pompeu, 17 anos. Há cinco anos, o adolescente vai quatro vezes por semana à instituição, onde frequenta as aulas da Escola Jandira Tolentino, além dos atendimentos de saúde e estimulações que ele precisa para se desenvolver.
Com paralisia cerebral, Jonathas é cadeirante e tem dificuldades intelectuais e motoras. Mas, desde que trocou a escola regular pela Apae, tem superado pouco a pouco os desafios.
– Dia a dia, eu percebo melhoras no desenvolvimento dele. Agora, ele tem mais autonomia e independência. Com a terapia, até consegue tomar banho sozinho agora. Quando chega em casa, à tardinha, conta com alegria tudo o que aconteceu, os passeios, as aulas, os colegas – conta a mãe de Jonathas, Ana Paula Kuplich de Oliveira, que conseguiu voltar a estudar com o ingresso do filho na Apae, onde ele recebe todo o suporte necessário.
Meta de crescer ainda mais
Para o presidente da Apae há cerca de 10 anos, com os esforços da diretoria e de toda a equipe de funcionários, a entidade tem avançado ao longo do tempo. Novos projetos e convênios têm possibilitado investimentos na estrutura física e profissional, e a entidade, que é mantida por doações e por verbas públicas repassadas para esses projetos específicos, vive um momento raro de estabilidade.
Mas a principal conquista é poder proporcionar atividades e desenvolvimento para cada um dos alunos:
– O que oferecemos aqui, a família da pessoa com deficiência só encontra aqui ou em poucas instituições semelhantes. Se ficarem em casa, eles não têm o que fazer, aqui aprendem, têm festas, educação física, oficinas e alguns até saem trabalhando – comemora Brenner.
Uma escola especial
Alunos que não se encaixam em turmas regulares, por meio da inclusão, têm lugar na Escola Jandira Tolentino, na Apae. A lista de espera por vagas chega a 70 pessoas. Os 92 alunos são divididos em turmas de até 10.
Em algumas delas, o foco é a convivência, e os alunos fazem atividades que estimulam a criatividade e a interação. Em outras, de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), os conteúdos do primeiro ao terceiro ano são ensinados, e os trabalhos se adequam às capacidades dos estudantes. Em uma turma em que os alunos são alfabetizados, por exemplo, as aulas estimulam a leitura e a escrita.
– Eles têm atividades variadas, como informática, educação física, oficina de padaria e, com isso, são capacitados para o trabalho. Um grupo terapêutico com os familiares ajuda que eles se adaptem a essa autonomia e permitam que os filhos trabalhem – diz Márcia Vendrusculo, coordenadora da Apae.
Conforme Julio Brenner, 23 ex-alunos da Apae estão empregados em supermercados da cidade. A escola gratuita é credenciada ao Conselho Estadual de Educação desde 2015, o que pode, no futuro, reverter-se em professores cedidos pela rede estadual de educação. Um convênio com a prefeitura destina um docente de Educação Especial para a escola.
Os pequenos agora também têm espaço na instituição
Desde o ano passado, as salas da sede da Apae de Santa Maria passaram a receber crianças. Até então, o público-alvo dos atendimentos e das aulas eram adultos, mas o projeto de Estimulação Precoce, aprovado junto ao Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e, para este ano, incluído no centro de reabilitação, ampliou o público da entidade.
Conforme a coordenadora Márcia Vendrusculo, se a criança começa a receber estimulação assim que o bebê é diagnosticado com a deficiência, as possibilidades de desenvolvimento de habilidades cresce muito. No projeto, bebês e crianças recebem terapia conjunta dos profissionais que mais podem ajudá-la.
Na mesma sessão, trabalham um fisioterapeuta e um fonoaudiólogo, por exemplo. A união do trabalho amplia a eficácia do tratamento e evita que os pequenos fiquem cansados. É assim com Maria Eduarda dos Passos de Lima, 4 anos. A pequena tem lisencefalia, malformação no cérebro que compromete fala, cognição e movimentos. Duas vezes por semana, ela frequenta as sessões comandadas pela terapeuta ocupacional Pâmela Lima e pela fonoaudióloga Luciele Dias.
– É crucial que a criança com deficiência receba estímulos precocemente, mas ela deve ser vista de forma integral, e não segmentada entre vários momentos, um com a fono, outro com a psicóloga. Enquanto brincamos, ela vai aprendendo, como toda criança – explica Pâmela.
O projeto também se dirige aos pais, para que a relação com os filhos seja a mais amorosa possível, apesar das dificuldades. Por isso, o responsável acompanha as sessões. Ao lado da neta Maria Eduarda, Rosemeri da Silva acompanha a evolução dela:
– Um dia é melhor que o outro, ela fica cada vez mais ativa e comunicativa.
Reabilitação física
Após três anos de esforço, desde o ano passado, a Apae atende também pessoas com deficiência física. No Centro Especializado de Reabilitação Física e Intelectual, pacientes da rede básica de saúde nos 33 municípios de abrangência da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS) têm acesso a tratamento com fisioterapia e também a próteses, órteses ou equipamentos como cadeiras de rodas que necessitam.
Os equipamentos são custeados pelo SUS, por meio de um convênio com o Ministério da Saúde. Outra parceria, com a Ulbra e a Unifra, oferece tratamento para pessoas da comunidade que precisem de fisioterapia.
– Foi um avanço grande a criação do centro, e vemos que está bem gerido. Poucos locais no Estado têm um lugar tão completo para os pacientes – diz Moacir Alves, coordenador da 4ª CRS.