A microcefalia causada pelo zika pode estar associada à problemas de visão. A relação foi apontada por uma pesquisa realizada no Recife, capital de Pernambuco, Estado com maior número de casos da má-formação causada pelo vírus no país.
Dos 55 recém-nascidos com suspeita de microcefalia associada ao zika examinados pelos pesquisadores em dezembro, 40 tiveram a ligação com o vírus confirmada. Nesse grupo, 40% dos bebês apresentaram alterações no nervo ótico ou na retina, que podem levar à cegueira.
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A pesquisa iniciou depois que os médicos começaram a perceber que muitas crianças que nasceram com microcefalia cuja causa suspeita era o zika apresentaram problemas na estrutura do olho, que iam desde a alteração pigmental à cicatrizes. Para o estudo, comandado pela Fundação Altino Ventura, foram realizados três mutirões de atendimento às crianças com microcefalia, entre dezembro e janeiro. O primeiro reuniu as 55 crianças cujos dados já foram analisados pelos pesquisadores.
Conforme a oftalmologista coordenadora da pesquisa, Camila Ventura, os problemas mais graves foram detectados na visão das crianças cujas mães tiveram os sintomas do zika vírus – como febre, vermelhidão e dores no corpo – no primeiro trimestre da gravidez.
– Notamos que a maioria das crianças apresentou alteração na mácula, parte da retina responsável pela nossa visão central – explica a médica.
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Como a retina é a camada mais interna do olho, que capta as imagens e manda para o cérebro, a lesão na mácula deixa a visão pobre, conforme Camila. Por isso, segundo a especialista, é preciso que essas crianças iniciem um tratamento com oftalmologistas o mais rápido possível.
– Quando mais cedo essas crianças iniciarem o tratamento, melhores serão os resultados. Todos os que participaram da pesquisa foram avaliados e passarão por uma estimulação visual, uma forma de fisioterapia para o olho – acrescenta a oftalmologista.
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A periodicidade da estimulação varia de caso para caso, dependendo da gravidade. Bebês com problemas mais sérios de visão passaram pela fisioterapia semanalmente, enquanto outros poderão receber o tratamento uma vez por mês.
– Também estamos orientando as mães para que sigam com o tratamento em casa – completa a oftalmologista.
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A orientação da médica é que todas as mulheres que tiveram filhos com microcefalia cuja causa suspeita é o zika procurem urgentemente um oftalmologista, que poderá avaliar possíveis alterações na visão da criança e iniciar o tratamento.
Nos dois últimos mutirões realizados pelos pesquisadores, foram examinadas respectivamente 29 e 50 crianças, cujos dados ainda estão sendo analisados e, depois, serão incluídos no estudo. A pesquisa conta com a participação de 24 profissionais, entre eles oftalmologistas, infectologistas e neurologistas.
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