A chegada do bebê prematuro em casa é motivo para muita alegria dos pais, mas também de aflição. Enquanto no hospital os nascidos antes de completar 37 semanas têm suas funções vitais - como respiração - auxiliadas por aparelhos, no lar, a responsabilidade se volta para a família.
Mesmo que o bebê só tenha alta quando já se encontra em uma situação mais próxima de um recém-nascido não prematuro, há cuidados adicionais que precisam ser observados, seja para garantir a saúde imediata ou para evitar problemas futuros, ajudando no desenvolvimento das funções vitais.
Conheça os cuidados necessários após a alta hospitalar do bebê prematuro
- É fundamental o papel dos pais para ajudar no desenvolvimento do bebê, seja neurológico ou pulmonar, por exemplo. É importante que os pais conheçam as necessidades dele para avaliar como poderão auxiliar - explica a pediatra americana e especialista em neurodesenvolvimento Myriam Peralta-Carcelen, que esteve na Capital na semana passada participando do 4º Encontro Internacional de Neonatologia e 2º Simpósio Interdisciplinar de Atenção ao Prematuro, promovido pelo Hospital de Clínicas.
A importância da vacina contra a gripe
Sem o desenvolvimento normal dos órgãos, os problemas respiratórios são os mais comuns, mas também há risco de complicações cardíaca e intestinal e na formação do sistema neurológico. Os prematuros também são mais sensíveis a doenças infecciosas, porque a formação dos anticorpos na placenta ocorre apenas na 32ª semana.
- O momento de sair do hospital e ir para casa é crítico, pois o bebê fica mais exposto a infecções virais. É importante os pais redobrarem os cuidados no contato com o pequeno, tomando eles mesmos, e outros familiares, a vacina contra a gripe - exemplifica Rita de Cassia Silveira, pediatra do Hospital de Clínicas e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Todos os cuidados são importantes para reduzir o risco de sequelas. Bebês que tiveram alguma dificuldade respiratória podem sair do berçário com uma doença pulmonar crônica, por exemplo. Por isso, o ideal é os pais levarem o filho regularmente a especialistas nos primeiros três anos para monitorar o estado de saúde e continuar os tratamentos iniciados na UTI Neonatal.
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Dos prematuros nascidos entre 23 e 25 semanas de gestação, até 35% poderão desenvolver deficiências graves, como paralisia cerebral, deficiência intelectual, cegueira, surdez, ou uma combinação desses problemas.
De 26 a 28 semanas, há até 60% de chance de ocorrer dificuldades de natureza leve, como formas sutis de deficiência visual, asma, problemas de aprendizagem e de comportamento, como déficit de atenção. Esses são riscos também, embora em escala menor, para prematuros de 29 a 32 semanas.
- Se os pais ajudam o desenvolvimento dos bebês, o risco de agravamento de quadros e sequelas se reduz. E há formas bem práticas de se fazer isso, por exemplo, conversando com o bebê durante a amamentação para ajudar no desenvolvimento neurológico - aponta Myriam.
Em casa, dúvidas e atenção constante
Tamires e Josué estão buscando informações para saber como lidar com o pequeno Josué Júnior quando ele for para casa
Com diabetes gestacional, Tamires Chaves da Silva, 20 anos, já sabia que seu bebê nasceria antes de completar as 38 semanas normais de gestação. Mas quando Josué Júnior chegou, foi um susto. Ela convulsionou, e foi preciso fazer a cesárea às pressas. O bebê nasceu após 30 semanas de gestação, com apenas 1,4kg e 42cm. Foi mais de um mês de aparelhos para ajudar na respiração e na alimentação. Agora, ela e o pai do bebê, Josué Silva, 22 anos, preparam-se para levá-lo para casa - a previsão era de que Josué teria alta ontem.
- Ele é tão pequeninho e tão frágil que dá até medo de pegar - resume Tamires.
O casal tem recorrido à internet para saber como lidar com a nova fase. Tamires sabe que terá de amamentá-lo de lado, para evitar que sufoque em razão da dificuldade de respirar pelo nariz, e mantê-lo aquecido principalmente antes e depois de entrar no banho, pois o sistema imunológico está subdesenvolvido.
- Acho que vamos aprender mais com a prática. Mas buscaremos orientação de médicos nesses primeiros meses para saber o que fazer para o bem da saúde dele - diz Josué.
A insegurança dos pais é mais do que normal, verifica o pediatra do Hospital de Clínicas e professor da UFRGS Renato Procianoy:
- Os pais ficam apreensivos, e não dá para dizer que não têm razão. Às vezes, os bebês deles passam dois meses no hospital, em vários aparelhos, e depois vão para a casa. Mas é preciso manter a calma e acompanhar o desenvolvimento nos primeiros anos de vida.
Incidência de prematuros é alta
No Brasil, cerca de 9% dos bebês são prematuros. Conforme médicos, é crescente a incidência em razão de gravidez na adolescência (pois o corpo de uma adolescente ainda não está bem formado e pode não conseguir levar a gestação até o fim), gestação tardia e gravidez de gêmeos por causa das fertilizações in vitro.
Mas a chance de sobrevida do prematuro também se elevou. Graças à tecnologia e ao avanço das técnicas medicinais, hoje os bebês têm mais chance de se desenvolver saudavelmente, tanto nos hospitais quanto depois que vão para a casa.