Pai e filho cultivam a terra e o convívio familiar
No final do ano passado, antes de se mudar oficialmente para a propriedade de dois hectares na zona rururbana de Porto Alegre, o administrador Mauro Weber Rosito prospectou informações sobre os componentes da tinta do jornal que empilhava em casa. Não encontrando empecilhos, colocou mãos à obra e, sobre uma pequena porção de terra, o papel cinzento ganhou a função de isolar as ervas daninhas do solo adubado.
Inspirada na permacultura, a técnica de montar canteiros a partir de jornal foi usada por Mauro e sua mulher, a arquiteta Ana Livi, nos seus primeiros experimentos rurais em Porto Alegre. Eles nunca foram agricultores - agora, aprendem a lidar com a terra para tentar colocar em prática uma série de valores que carregam consigo.
Transformar as palavras impressas em alimentos é uma estratégia para a revolução verde que Ana e Mauro pretendem semear - pelo menos na vida deles e de quem estiver por perto. Depois de quase 10 anos morando fora do Brasil e passando pelos mais diversos tipos de intercâmbios culturais - desde trabalho voluntário na África até caminhadas prolongadas na região do Himalaia -, o casal, em 2012, decidiu voltar. Aqui, o desafio é junto à família e aos amigos, entre carros e condomínios na Zona Sul.
O primeiro passo foi se aproximar de vez da terra. Em janeiro deste ano, ocuparam uma casa no sítio dos Rosito, que o pai de Mauro adquiriu há mais de 20 anos, nas costas do atual condomínio fechado Alphaville, e começaram a trocar o sistema de produção que um dia foi convencional, pela agroecologia. A mudança de cultura veio acompanhada de um novo nome para o local: Arvor(e)Ser. Mais do que o novo lar de Mauro e Ana, o espaço deverá abrigar, no futuro, um centro de convívio e educação ambiental.
Feliz com a chegada do filho e da nora, o professor de Química e produtor rural Carlos Roberto Rosito empolgou-se com a ideia de reativar as terras que passavam por um período de descanso. Ele costumava plantar, mas parou por causa de um machucado na perna. Com o retorno de Mauro, o espaço ganhou vida nova, ainda que algumas práticas ainda sejam "estranhas" para o pai.
- Ele mata formiga com água quente e cal, eu acho que tem de usar veneno - diz Rosito.
Veja como montar um canteiro utilizando jornal reciclado:
Apreciador de um bom churrasco, o pai brinca que a especialidade do filho é assar a comida no espeto - mas apenas abobrinhas e pimentões, já que Mauro e Ana são vegetarianos. É assim, convivendo com as diferenças, que pai e filho retomam a produtividade da terra e a vida em família. A perspectiva é de que renda bons frutos.
- Sempre quis que meus filhos morassem aqui - sorri Rosito.
Com a ajuda de um funcionário antigo da casa, eles lavraram a terra e construíram canteiros para produção de hortaliças. No pomar de frutas cítricas, ainda não deu tempo de mexer. Mas não faltarão oportunidades. Os novos agricultores têm paciência. Ana afirma:
- As coisas aqui não são imediatas, leva-se tempo para aprender como elas funcionam.
Entre um projeto e outro que desenvolve na consultoria EcoCultura, Mauro orgulha-se de ter conseguido implantar na casa da avó de Ana, no bairro Petrópolis, uma composteira (usada para transformar lixo orgânico em adubo). A pequena conquista, para eles, traduz uma enorme realização. A próxima vitória virá quando os pés de alface, rúculas, chicórias, flores de hibiscos e manjericão tailandês que eles testaram com o jornal, e agora plantam em larga escala com adubo verde, estiverem prontos para o consumo de um público que extrapole o círculo de amigos.
Em detalhes, veja a produção que Mauro e Ana: