Muitas pessoas com um corpo assustadoramente bem definido vivem por aqui. Em um sábado agradável, assim como antes do amanhecer de um gélido dia útil de inverno, um exército dessas pessoas saiu às ruas para correr e pedalar. Com seus intimidantes passos largos e suas rodas ágeis, eles demonstravam por que o Colorado é o menos obeso dos estados americanos.
Mas caminhar para chegar a algum lugar? Isso é outra história.
Pessoas como Gosia Kung e o Doutor Andrew Freeman estão tentando mudar esse conceito de formas muito distintas e por razões diferentes - ela é arquiteta, ele é cardiologista. Eles querem reincorporar a atividade física ao espírito do lugar que, assim como a maior parte das cidades americanas e apesar de seu fantástico índice de massa corporal, já não pensa mais na caminhada como um meio de transporte.
Em 2011, Kung foi uma das fundadoras de uma entidade sem fins lucrativos chamada Walk Denver, que está tentando obter o certificado de "Comunidade Amiga da Caminhada" para a cidade. Ela também é defensora de um grupo que antes não tinha voz: o caminhante comum.
É o espaço físico de uma cidade que cria a visão de mundo de um pedestre, afirmou Kung durante uma recente caminhada pelo centro de Denver. Calçadas largas são fundamentais, afirmou, mas elas fornecem apenas os meios de acesso a um ambiente que deve, então, premiar os caminhantes com atrações como lojas e espetáculos voltados especificamente para o tráfego de pedestres.
Por sua vez, mais caminhantes reforçam a velha ideia que, segundo Kung, foi esquecida por muitas cidades: a melhoria da saúde pública e da vida econômica andam lado a lado.
- Eu sempre me interessei pelo projeto urbano, a forma como interagimos com o ambiente construído e como isso nos afeta - disse Kung, que cresceu em Cracóvia, Polônia.
Sua experiência nos Estados Unidos está imediatamente ligada às desvantagens da cultura do automóvel:
- Quando me mudei da Polônia para cá, em 1997, eu tirei minha carteira de motorista e engordei quase dez quilos - afirmou.
O doutor Freeman lidera um grupo chamado Walk With a Doc (Caminhe com um Médico), que encoraja os pacientes a saírem mais ou menos uma vez por mês para passear pela cidade com seus médicos. A caminhada mais recente do grupo, em janeiro, atraiu 135 pessoas, incluindo 10 médicos.
- Nós estamos na rua porque o exercício é o melhor remédio. É de graça e não tem efeitos colaterais - comentou.
Mas é possível construir uma cidade onde tudo possa ser feito a pé? Manhattan é, quase certamente, o espaço urbano mais dominado por pedestres dos Estados Unidos, mas nunca foi planejada para esse fim. A densidade e a construção da vida na ilha tornaram isso possível à medida em que a cidade cresceu. Muitas outras cidades foram tão separadas ou isoladas pela construção de estradas que o espaço dos pedestres desapareceu.
A cultura de vida ao ar livre no Colorado aumenta as esperanças de que a caminhada urbana volte a fazer parte do cotidiano. No Estado, a tradição de caminhadas e passeios de esqui tem ajudado a manter as taxas de obesidade no índice mais baixo do país, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
- Há fortes organizações de defesa dos interesses dos ciclistas na cidade, mas não havia nenhuma centrada especificamente nos pedestres - afirmou Cindy Patton, urbanista da Secretaria de Obras Públicas de Denver.
Kung está trabalhando com quatro escolas primárias para começar um programa de "caminhada escolar" no ano que vem. Crianças e líderes adultos caminhariam juntos para casa, queimando algumas calorias e, talvez, adquirindo um novo hábito.
Em junho, a Walk Denver e uma coalizão de outros grupos planejam ir até um quarteirão degradado no norte da cidade durante um fim de semana para demonstrar como a vida econômica e o tráfego de pedestres caminham lado a lado. A ideia, chamada de Better Block Project (Projeto Quadra Melhor), teve início em Dallas.
O projeto de Denver irá criar negócios temporários que venderão sorvete ou arte e que serão instalados em frente à fachada de lojas vazias. Cafés ao ar livre irão surgir como um flashmob por um fim de semana para depois desaparecerem, deixando um eco de inspiração.
O dinheiro para tornar os Estados Unidos, ou Denver, um ambiente mais acolhedor para os pedestres não está exatamente caindo do céu. Duas leis de transporte que estão no Congresso irão reduzir drasticamente ou mesmo eliminar programas de incentivo ao ciclismo e à caminhada. Cindy Patton afirmou que a necessidade de subsídios, ou "DDO, dinheiro dos outros", nunca foi tão grande.
Mas, por outro lado, caminhar ajuda a economizar com gasolina e com a tarifa de ônibus, e não custa nada além do couro dos sapatos. A página do Walk With a Doc de Denver, por exemplo, utiliza a palavra "grátis" três vezes em letras maiúsculas.
New York Times Service
Cidade americana trabalha para substituir carro por caminhada
Em Denver, capital do Estado americano com menor índice de obesidade, atividade não é vista como um meio de transporte
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