O olhar atento e as consultas frequentes com o dermatologista são a melhor forma de garantir um diagnóstico precoce de câncer de pele, essencial para o sucesso do tratamento. Foi assim que a contadora Lidiane Borges Caetano, 39 anos, descobriu o primeiro dos 13 tumores que teve que retirar nos últimos quatro anos.
Com a pele clara, ela relata que tem muitos sinais no corpo e no rosto. Em 2020, um deles, perto do ombro esquerdo, chamou sua atenção. Era diferente das outras pintinhas e causava coceira. Quando conseguiu marcar consulta com o dermatologista, o sinal já era uma ulceração – uma ferida que não cicatriza. O resultado da biópsia apontou um carcinoma basocelular (CBC).
— Agora eu estou sempre olhando. Em casa, no banho, sempre fico atenta para ver se tem algo diferente. A gente tem que se cuidar, porque vai ficando com muitas cicatrizes no corpo. E para mim, que sou mulher, abala um pouco a vaidade, porque as cicatrizes são em lugares que ficam expostos — afirma.
Depois da primeira cirurgia, Lidiane precisou fazer outros dois procedimentos no mesmo ano: em um, retirou quatro tumores e, em outro, três. Nos anos seguintes, mais cinco apareceram e precisaram ser retirados. O último que precisou ser removido foi em 2022. Depois, em 2023, ela retirou duas pintas como prevenção.
O CBC, segundo Sabrina Dequi Sanvido, dermatologista do Hospital Santa Casa de Porto Alegre, é um dos tipos mais comuns de câncer de pele. A boa notícia é que também é o menos agressivo, já que a chance de metástase – disseminação do câncer para outros órgãos – é baixa. De acordo com o Ministério da Saúde, quando detectado e tratado precocemente, a chance de cura é alta.
— Os carcinomas basocelular e epidermoide têm alta morbidade. O que significa isso? Esses tumores geralmente crescem na própria pele e levam a diversas cirurgias e, muitas vezes, mutilações. Mas não é comum esses tumores darem metástases. O melanoma é o tipo menos frequente e é um tumor mais agressivo, tem esse risco de dar metástases, mas está associado ao período do diagnóstico. Quanto mais cedo e quanto menor for o tumor, menor a chance de dar metástase — pontua a médica.
O câncer de pele do tipo melanoma foi o diagnóstico da nutricionista Sabrina Fernandes, 46. Há dois meses, ela fez a cirurgia para retirar o tumor, localizado no braço.
— A gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Sempre me expus muito ao sol, nos horários mais impróprios, e achava que não ia acontecer nada porque minha pele é mais escura. Quando fiz a revisão anual com a doutora Sabrina, ela viu um sinal e disse que não gostou muito da aparência. Pediu para tirar e fazer a biópsia e era câncer de pele. As pessoas me perguntam como era esse sinal, mas era igual aos outros que eu tenho. Só a médica para notar — relata.
Embora a exposição excessiva ao sol seja a principal causa do câncer de pele, outros fatores aumentam o risco. Pessoas de pele clara, olhos claros e cabelos ruivos ou loiros estão entre os mais vulneráveis, mas as com pele escura também podem desenvolver o tumor. Histórico familiar, doenças de pele prévias e sistema imunológico debilitado são aspectos importantes.
A médica da Santa Casa garante que o olhar dos pacientes é fundamental. Ela explica que os carcinomas podem ser facilmente notados, uma vez que costumam ser feridas, lesões vermelhas ou com uma casca mais dura, e que acabam não cicatrizando. Já os melanomas podem ser reconhecidos pela Regra do ABCDE:
— No caso do melanoma da Sabrina, era uma lesão que só poderia ser identificada por um dermatologista fazendo dermatoscopia. Já no caso dos carcinomas, não é normal a pessoa ter lesões, assim, tipo feridas na pele que não cicatrizam. Principalmente em áreas que foram expostas ao sol, como orelha, nariz, couro cabeludo de pessoas calvas, tórax, peito. Essas são áreas que geralmente têm uma maior incidência de câncer de pele — acrescenta a dermatologista.
Prevenção
Agora, após a retirada dos tumores, as duas pacientes da dermatologista Sabrina contam que fazem consultas e exames a cada três meses. O foco da contadora e da nutricionista é prevenir o retorno da doença. Para Lidiane, chapéu, protetor solar fator 99 e saída de praia que tape os braços já fazem parte da rotina.
Sabrina Fernandes se prepara para o primeiro verão após o diagnóstico:
— Eu nem fui ainda para o sol, mas já comprei minha blusa UV, com proteção solar, de manga comprida. Vou ir para o mar e para a piscina em horários bons, que não sejam das 10h às 16h, e vou repassar o protetor solar a cada duas horas. Comprei um com FPS 99.
A dermatologista da Santa Casa garante que o câncer de pele é prevenível e que os cuidados começam com medidas simples, como as exemplificadas pelas pacientes.
Confira as dicas:
- Evite o sol nos horários de maior intensidade: a radiação ultravioleta (UV) é mais forte entre 10h e 16h. Durante esse período, busque sombra e proteja-se, mesmo em dias de mormaço
- Use protetor solar corretamente: o filtro deve ter FPS mínimo de 30 (ou mais, conforme orientação do dermatologista) e ser reaplicado a cada duas horas na pele, especialmente após transpiração ou contato com a água
- Aposte em acessórios: chapéus de abas largas, óculos com lentes UV e roupas com proteção solar são aliados
- Crie o hábito diário de proteção: mesmo em dias nublados ou durante o inverno, a radiação UV pode afetar a pele
- Faça revisão: visite o dermatologista anualmente, se não tem histórico de câncer de pele, ou a cada seis meses, se já teve um tumor ou se alguém da família já foi diagnosticado