O Rio Grande do Sul teve mais de 5 mil casos de câncer de mama em mulheres e 1,5 mil mortes no ano passado, conforme dados levantados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Até 10 de outubro deste ano, foram 2.005 novas pacientes confirmadas e 980 que morreram pela doença.
O Estado estima que as causas para a mortalidade por câncer de mama estão relacionadas ao baixo rastreamento da população assintomática e ao diagnóstico tardio. De acordo com o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama), uma paciente tem levado uma média de seis meses para ter um diagnóstico pelo Sistema Único de Saúde (SUS), prazo seis vezes maior do que o estabelecido pela legislação federal (Lei 13.896, de 30 de outubro 2019), que prevê até 30 dias para que os exames necessários sejam realizados pela rede pública de saúde quando a suspeita for de câncer.
A diretora-executiva do Imama, Rita Cunha, explica que uma paciente com mais de 40 anos tem o direito de fazer o exame clínico e a mamografia anualmente. Ao perceber algum sintoma, deve procurar o posto de saúde.
Hoje, como instituição que atende pacientes e recebe o relato das mulheres, a gente percebe que hoje para a mulher conseguir fazer um diagnóstico negativo ou positivo para o câncer, está demorando em torno de seis meses. Às vezes um pouco menos, às vezes um pouco mais, depende da região onde mora essa paciente. E aí eu tô falando do Estado do Rio Grande do Sul
RITA CUNHA
diretora-executiva do Imama
Atualmente, o Imama acompanha 1.200 pacientes com câncer de mama no Estado. Para a diretora, o ideal é que a paciente consiga fazer todos os procedimentos o mais rápido possível para evitar um diagnóstico tardio, mas há ainda uma questão comportamental entre as mulheres, que precisam dedicar tempo entre trabalho e compromissos para cuidar da saúde.
— A gente entende também que tem a questão da própria mulher que precisa ter esse cuidado com ela e reservar esse tempo para fazer esses exames. Muitas vezes, pela questão econômica e social, essa mulher não dá a devida atenção para a sua saúde e, por isso, muitas vezes ela chega com um diagnóstico tardio. Ela prioriza outras coisas e não essa questão da saúde — alerta Rita.
Cobertura da mamografia de rastreamento ficou em 35% em 2022 e 2023
Conforme o Observatório do Câncer, um painel com informações compiladas pela Secretaria Estadual de Saúde, o percentual de cobertura da mamografia de rastreamento ficou em 35% em 2022 e 2023. Isso significa que, de toda a população-alvo (mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos), esse foi o percentual que realizou o exame. Foi uma elevação em relação a 2021 (29,8%), e 2020 (23,7%), anos marcados pela pandemia de covid-19. De 2015 a 2019, os percentuais variaram de 36,7% a 38,5%.
A Secretaria segue uma orientação do Ministério da Saúde, que diz que o exame deve ser realizado a cada dois anos. Por essa razão, a meta é considerada atingida se fica acima de 32%. O governo estadual diz que projeta, gradativamente, elevar o objetivo para os 70% de cobertura preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já o Imama segue a chamada Lei da Mamografia (Lei Federal 11.664, de 2008), que estabelece que o exame seja feito a partir dos 40 anos, anualmente.
Para aumentar o rastreamento na população-alvo, a Secretaria da Saúde cita a divulgação da importância dos exames, a busca ativa das pessoas no território de unidades de saúde e o engajamento de toda a população, incluindo práticas de promoção à saúde e autocuidado. A SES também afirma que o Programa Avançar tem fornecido recursos para a aquisição de mamógrafos em uma tentativa de combate ao diagnóstico tardio.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontou que, de 2023 a 2025, são estimados 3.720 novos casos de câncer de mama em cada ano no Rio Grande do Sul, taxa de incidência de 36,60 casos por 100 mil mulheres.
As previsões apontam o câncer de mama como o mais incidente na população feminina do Brasil, ocupando o primeiro lugar (com exceção do câncer de pele não melanoma), com 73.610 novos casos em cada ano do triênio 2023/2025. Isso representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100 mil mulheres.
Estado vai lançar programa para atendimentos especializados
Para Rita Cunha, a chamada navegação do paciente tem um papel extremamente importante no momento do tratamento do câncer de mama. Dentro do sistema de saúde, há alguns hospitais oncológicos que oferecem um profissional para auxiliar esse paciente nas etapas necessárias. A diretora-executiva do Imama estima que 40% do êxito vem desse tipo de acompanhamento.
— É fundamental que tenha um profissional que ajude essa paciente a tirar dúvidas, a esclarecer, a informar sobre por que ela está fazendo tal tratamento, por que não está fazendo aquele outro. É uma saúde mais humanizada, é uma saúde personalizada. É entender que cada paciente tem as suas dificuldades diferenciadas e esse profissional hoje, disponibilizado pela rede pública, faz toda a diferença no tratamento e no êxito — salienta Rita.
No Estado, será lançado nos próximos dias o programa de Serviços Especializados de Referência à Saúde da Mulher (SERMulher), que pretende promover o diagnóstico em tempo oportuno. Ele também pressupõe a existência de profissionais navegadores, que deverão acompanhar a usuária e apoiar no agendamento e encaminhamento para serviços terciários.
Com atendimento ambulatorial especializado, o projeto promete ser um serviço de retaguarda da atenção primária à saúde para mulheres com alterações nos exames de rastreamento de câncer de colo do útero e de mama, com suspeita de endometriose/adenomiose/miomatose, para investigação de infertilidade e no climatério (transição para a menopausa).
O objetivo é melhorar o acesso às consultas com especialistas e aos procedimentos ambulatoriais para reduzir a mortalidade por câncer de colo uterino e mama na população feminina, otimizando o tempo entre a diagnóstico da doença e o início do tratamento.
O programa contempla as sete macrorregiões do Estado e as inscrições para entes públicos ou prestadores de serviços interessados encerrou na semana passada. Os selecionados receberão incentivo financeiro estadual de R$ 200 mil para implantação; e R$ 125 mil para custeio mensal dos serviços.
Na Assembleia Legislativa, foi aprovado um projeto de lei de autoria da deputada Delegada Nadine, que institui o Programa Estadual de Navegação de Pacientes para Pessoas com Neoplasia Maligna de Mama no Estado. Na prática, o projeto também quer aprimorar a assistência aos pacientes, assegurando o tratamento necessário. O texto foi sancionado pelo governador Eduardo Leite. Segundo a SES, a medida será incorporada dentro do novo programa.
Alerta
A Secretaria Estadual de Saúde orienta que as pessoas observem, sintam e percebam o que é normal em suas mamas. Entre os sinais e sintomas de alerta estão:
- Caroço (nódulo) fixo, endurecido e geralmente indolor
- Alterações no bico do peito (mamilo)
- Pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas)
- Saída espontânea de líquido de um dos mamilos
- Pele da mama vermelha ou parecida com casca de laranja