Insônia, falta de concentração, ansiedade, constrangimento e tristeza estão entre os impactos emocionais sentidos pela maioria dos endividados no Brasil, conforme uma pesquisa divulgada pela Serasa em novembro de 2023. Especialistas alertam que esses reflexos do acúmulo de contas em atraso podem agravar problemas de saúde mental, prejudicar relações pessoais e afetar o desempenho no trabalho. Mas há diferentes formas de contornar essa situação, seja buscando ajuda psicológica ou financeira.
Em sua sexta edição, a pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro aponta que 90% das pessoas já sentiram vergonha por ter contas em atraso, enquanto 86% tiveram dificuldade de dormir por estarem preocupados com as dívidas e 59% sentiram muita tristeza e medo do futuro. Para Nicolas de Oliveira Cardoso, psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), os principais sinais de alerta envolvem justamente as alterações de sono e os pensamentos ruminativos.
Desânimo, irritabilidade e sentimento de culpa, quando manifestados de forma excessiva, também são indicativos de que o endividamento está impactando na saúde mental. Nesse cenário, a terapia cognitivo-comportamental pode ajudar bastante, principalmente no controle da impulsividade — característica comum de muitas pessoas que estão nessa situação —, enfatiza Cardoso.
Denise Valle Machado, psicóloga e analista social do Projeto Apoio às Famílias em Situação de Superendividamento da Unisinos, acrescenta que o estresse e a pressão relacionados às dívidas podem ocasionar quadros de depressão e ansiedade — 64% das pessoas que participaram do levantamento afirmaram que já tiveram crises de ansiedade, por exemplo.
A especialista ressalta, contudo, que essa situação também pode gerar reflexos na saúde física, agravando problemas como hipertensão e diabetes, e na vida social desses indivíduos. Segundo a pesquisa da Serasa, 73% das pessoas com contas em atraso já enfrentaram problemas para se concentrar no trabalho e 61% sentiram que as dívidas impactaram no relacionamento com familiares, amigos e parceiros.
— É comum, tanto na literatura quanto no nosso projeto, citarem esses sintomas: insônia, tristeza, medo de não dar conta, conflitos com a família ou com pessoas do entorno. Então, também impacta nas relações conjugais, de amizade e no âmbito do trabalho, na produtividade ou até na dificuldade para conseguir emprego por estar com o nome nos órgãos de restrição ao crédito. Ou seja, esse tema pode interferir em todas as áreas da vida das pessoas — comenta.
Outros comportamentos decorrentes de não conseguir arcar com suas contas são o isolamento social e a privação de momentos de lazer, o que também impacta na qualidade de vida dos indivíduos. Para Denise, é fundamental buscar o apoio de familiares e de pessoas de confiança, bem como atendimento médico e psicológico, já que uma escuta especializada poderá auxiliar no autoconhecimento, a lidar com as emoções, a desenvolver novas percepções, aprendizados e forças para o enfrentamento dos desafios diários. Além disso, é recomendado procurar orientação jurídica e de especialistas em finanças, para que possam indicar as possíveis soluções:
— A pessoa precisa saber que existem saídas e que, buscando ajuda e apoio, poderá adquirir novas informações, compreender e pensar melhor sobre as suas opções. Em uma situação de superendividamento, pode levar tempo para se restabelecer, pode demorar mais ou menos, mas é importante sair da culpabilização e entender que existe um sistema econômico por trás disso e que vai além do controle individual.
Cardoso também destaca a importância de criar uma reserva de emergência e guardar dinheiro quando for possível, mesmo que seja R$ 50 por mês. Isso servirá como uma margem de segurança para futuros imprevistos, que são inerentes e podem surgir a qualquer momento.
— Quem tem reserva de emergência consegue passar um pouco melhor por esses estresses financeiros. Gera uma tranquilidade maior saber que tem reserva. Sempre vão ter imprevistos, então tem que estar preparado — recomenda.
Busque ajuda
Denise enfatiza que existem serviços que oferecem atendimento gratuito em todas as áreas que envolvem a superação do endividamento. O projeto da Unisinos é desenvolvido em parceria com o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) e tem como público-alvo residentes de São Leopoldo, que recebem até cinco salários-mínimos e estão em situação de superendividamento. A pessoa que será atendida também precisa ter recursos para pagar a negociação, mas não pode ter processo judicial prévio da dívida em questão. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail projetoapoio@unisinos.br, pelo Instagram @projetoapoio.unisinos ou pelo WhatsApp (51) 99770-6418.