Dispositivo que une uma minicâmera e inteligência artificial é usado para ajudar no diagnóstico dos exames de doenças gástricas no Hospital Dom João Becker, em Gravataí, Região Metropolitana. A cápsula gástrica é semelhante a um comprimido, que tem uma minicâmera, transmissor de ondas de rádio e uma bateria para manter o objeto em funcionamento. Assim como uma medicação, o paciente engole a cápsula para que o exame tenha início.
O equipamento registra de duas a seis imagens por segundo. Elas são transmitidas em tempo real por um monitor, que é carregado pelo paciente. O número de capturas varia conforme a velocidade do trânsito intestinal, segundo o gastroenterologista José Renato Hauck, chefe do serviço de endoscopia da instituição. Um sistema de inteligência artificial ajusta tal velocidade, para não perder nenhuma imagem no trajeto.
— Se o movimento é muito rápido, ele bate mais fotos para não perder imagem. Se ele é mais lento, bate menos fotos para poupar a bateria. São muitos frames para análise, e isso aumenta a nossa capacidade de diagnóstico — explica Hauck.
Depois de o exame ser encerrado, a cápsula é expelida pelo paciente. Ela não é reutilizável, e tem como destino depósitos de lixo eletrônico, segundo Hauck.
O exame é celebrado pelos médicos porque chega a pontos que não seriam alcançados pela endoscopia convencional.
— O intestino delgado tem entre cinco e sete metros. Ele não possui nenhuma ancoragem como outras áreas do sistema digestório, e nós temos dificuldade de chegar com endoscópios convencionais. Com essa forma de endoscopia, que filma todos os segmentos, nós podemos ver tudo de uma forma que denominamos fisiológica. Como se fosse natural — afirma o especialista.
O exame ajuda na descoberta de tumores, úlceras, inflamações, sangramentos e outras doenças do trato gastrointestinal.
"Não senti nada"
A empresária Dolai Rosa Polese convive com frequentes quadros de anemia, e um desconforto abdominal que nunca cessa. Ela teve, então, a recomendação da cápsula endoscópica, paga pelo seu plano de saúde. O procedimento foi realizado no Hospital Dom João Becker no dia 9 de julho.
— Não senti nada. É do tamanho de um comprimido normal. Geralmente eu tomo uns comprimidos que são um pouco maiores, mas o tamanho é bem parecido — conta.
Dolai carregou um monitor por algumas horas, como se leva uma bolsa. No visor, era possível ver a imagem captada em tempo real pela cápsula. Depois, as fotos foram baixadas para o computador, e o diagnóstico finalmente foi conhecido: ela está com uma úlcera, que será tratada em uma intervenção ainda em debate pela equipe médica.
Cápsula não substitui exames tradicionais
A tecnologia é importada de Israel, no Oriente Médio, e hoje pode ser custeada via planos de saúde. Em média, ela custa R$ 6 mil. Não há previsão de o exame ser incluído no rol de procedimentos gratuitos do Sistema Único de Saúde (SUS).
— Hoje inclusive já é regra que o paciente que apresenta essas características, as operadoras de planos de saúde precisam disponibilizar a cápsula endoscópica para completar o diagnóstico — afirma Hauck.
Segundo ele, a dificuldade em oferecer pelo SUS realmente é o custo dessa cápsula. E o tempo de leitura dela é muito longo. São mais de 80 mil imagens, é necessário muito tempo de análise da equipe.
Hauck traz outro alerta: a cápsula serve para investigar além do que já foi mostrado nos exames tradicionais:
— Há uma impressão de que a cápsula substitui os exames endoscópicos. Não. Ela complementa investigando o intestino delgado. Não é substituição da endoscopia e colonoscopia convencionais. A cápsula também não compete com exames eventualmente de imagem. Às vezes precisa fazer exames do tipo tomografia, ressonância, com uma abordagem e a cápsula entra nesse conjunto de opções.