Há mais de um século ocorria uma das descobertas mais importantes da medicina: no dia 1º de julho de 1921 os pesquisadores franceses Léon Calmette e Alphonse Guérin anunciaram a neutralização do primeiro bacilo da tuberculose, uma das doenças mais mortais da história. O fato deu origem à BCG, vacina aplicada em recém-nascidos do mundo todo para o desenvolvimento de anticorpos contra a doença.
A partir da injeção de um bacilo vivo e enfraquecido da tuberculose no organismo, o imunizante estimula o sistema imunológico a desenvolver defesas contra a doença. Estima-se que o índice de proteção da vacina seja de 78%, o que auxilia na prevenção de casos graves de diferentes formas de manifestação da tuberculose, especialmente de casos extrapulmonares. No Brasil, o imunizante é disponibilizado gratuitamente em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Especialistas recomendam que a vacina seja aplicada logo após o nascimento, para prevenir casos graves de tuberculose antes do primeiro ano de vida do bebê. Em Porto Alegre, a cobertura vacinal chegou a 107% nos quatro primeiros meses de 2024. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, foram administradas 4.883 doses do imunizante, número superior ao de recém-nascidos na Capital no mesmo período, o que indica a vacinação de crianças vindas de outros municípios.
Chefe do serviço de pediatria do Hospital Moinhos de Vento, João Ronaldo Krauzer ressalta que a BCG auxilia na prevenção de diferentes quadros clínicos ligados à tuberculose. Conforme o especialista, o imunizante deve ser aplicado preferencialmente até o primeiro mês de vida do bebê.
— É uma vacina muito importante para combater uma doença extremamente grave que pode acometer crianças e até mesmo adultos. O entendimento é que ela não tem uma prevenção específica apenas para a tuberculose pulmonar. Ela previne principalmente as formas extrapulmonares de tuberculose, as meningites por tuberculose, tuberculose de pele, uma outra que as crianças têm um risco maior chamada tuberculose miliar, que é uma tuberculose disseminada pelos vários órgãos da criança — explica.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES) apontam que a cobertura vacinal de recém-nascidos deste ano em todo o Estado chegou à marca de 90,81% até maio, número superior a meta previamente estabelecida em 90%.
De acordo com o Informe Epidemiológico mais recente da SES, divulgado em 2023, o Rio Grande do Sul registrou mais de 5,2 mil novos casos de tuberculose em 2022, com incidência superior à média nacional. A cada 100 mil habitantes, o RS notifica 45,4 casos, enquanto no panorama nacional são 36,3 diagnósticos da doença. Dados do Ministério da Saúde indicam que a cobertura vacinal no país é de 75,3% neste ano.
— Reduzindo a cobertura vacinal, a gente tem risco de aumentar essas doenças, como a tuberculose extrapulmonar — pondera Krauzer.
O Ministério da Saúde recomenda a vacinação de crianças menores de cinco anos, após esta idade o imunizante não surte mais efeito e não deve ser aplicado. Em caso de prematuros, enquanto o bebê não superar dois quilos de peso corporal, a vacina não pode ser administrada.
— Na rede pública a vacina não é feita após o nascimento, é feita após a alta hospitalar, preferencialmente no primeiro mês de vida. Tem serviços privados que oferecem a vacina ainda no hospital, antes da alta — explica Krauzer.
Produção: Lucas de Oliveira