O cantor Luan Santana, 33 anos, foi hospitalizado e precisou cancelar seu show em Divinópolis, Minas Gerais, após sofrer um mal súbito neste sábado (1º). Caraterizado como um evento inesperado, o mal súbito pode acometer pessoas de qualquer idade e consiste na perda de consciência após passar mal. Na maioria das vezes, os casos não são fatais, mas é preciso investigar as causas para não agravar a saúde.
Em pessoas até 35 anos, problemas cardíacos são a principal causa de mal súbito. Nesta faixa etária, os casos estão relacionados a doenças hereditárias, como cardiomiopatia hipertrófrica, displasia arritmogênica do ventrículo direito, síndrome de Brugada e outras patologias que afetam o coração.
— O mal súbito mais comumente acontece na idade adolescente ou em adultos jovens, principalmente mulheres. Idosos também são mais predispostos, principalmente devido a doenças neurodegenerativas, como Parkinson — destaca o neurologista Arthur Pille, do Hospital Moinhos de Vento, que ressalta que, ainda que com menos frequência, o evento pode ter causas neurológicas também.
Na faixa etária acima dos 35 anos, o mal súbito está mais atrelado a condições decorrentes à doença arterial coronariana, que obstrui as artérias coronárias. Neste caso, há risco de infarto ou arritmia maligna.
Além disso, a disautonomia (doença que afeta o sistema nervoso autônomo) e a síndrome vasovagal podem explicar desmaios, principalmente em pessoas jovens, segundo Pille. As mulheres jovens são mais acometidas, sobretudo após muito tempo em pé ou em ambientes fechados e quentes. Assim, acabam passando mal, com sensação de queda de pressão e escurecimento da visão, mas, geralmente, recobram a consciência após o desmaio.
No caso de doenças mais graves, como epilepsia e crises convulsivas, o paciente pode perder a consciência, mas geralmente há outro movimento anormal ou tremores associados. Em relação a doenças ainda mais graves, como as neurovasculares, que incluem, por exemplo, o acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico ou a hemorragia subaracnóidea, também ocorre a perda de consciência. Ela é causada pelo aumento brusco da pressão intracraniana e é comumente acompanhada de forte dor de cabeça e perda de força em algum lado do corpo.
Sintomas e sinais de alerta
É preciso analisar a idade do paciente e seus hábitos. Em 90% das vezes, a perda de consciência está relacionada a uma causa cardíaca – sendo a principal, em pacientes jovens, a arritmia cardíaca, explica o cardiologista e arritmologista Carlos Kalil, responsável pelo Centro de Arritmias da Santa Casa de Porto Alegre e membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas.
Os sinais de alerta do mal súbito são os próprios sintomas, conforme os especialistas:
- Perda de consciência (síncope, ou desmaio)
- Alteração da respiração
- Alteração ou cessação do pulso cardíaco
- Dor no peito, principalmente em pacientes de mais idade
- Obstrução ou infarto agudo do miocárdio
- Turvação ou escurecimento visual
- Palpitação
- Taquicardia
- Hipotensão
- Sudorese
- Frio nas extremidades
- Tremores
Há ainda gatilhos que podem causar mal súbito. Apesar de ser extremamente saudável e benéfico, o esporte pode ser um deles, ao levar a um evento arrítmico – em indivíduos desconhecedores de sua patologia - normalmente, em função de uma doença genética silenciosa, que na maioria das vezes não apresenta sintomas.
— Provavelmente o paciente herdou geneticamente a doença, só que, muitas vezes, os familiares não tiveram sintomas, (o evento) pode ser a primeira manifestação de uma doença em uma família. Hoje há maneiras de descartar a maioria das doenças herdadas geneticamente por meio de uma boa avaliação, com eletrocardiograma, ecocardiograma, ressonância cardíaca e, principalmente, através do exame genético — destaca o cardiologista Carlos Kalil.
Prevenção
Quadros de epilepsia não têm prevenção, pois são genéticos, afirma o neurologista. Em casos relacionados a outras doenças, é importante seguir o tratamento adequado em dia, com acompanhamento médico e realização de exames periodicamente.
Além disso, em relação a questões cardíacas, atualmente já existem recomendações para realizar avaliações com eletrocardiograma a partir dos 12 anos. O cardiologista da Santa Casa frisa ainda a importância de fazer o rastreio de qualquer pessoa que será submetida a atividades físicas – sobretudo competitivas, em qualquer nível –, com análise de exames e histórico clínico. Conforme o grau de competitividade, serão exigidos testes adicionais. O médico alerta para o crescimento da competitividade, com atividades que deixam de se caracterizar como lazer, inclusive em campeonatos escolares e infantis. Além disso, a existência de histórico de morte súbita na família também deve ser avaliada.
— Todo indivíduo que tem alguma história familiar, antes de qualquer tipo de atividade, tem de ser investigado. É muito importante. Muitas vezes, a avaliação básica consegue tirar dúvidas do risco — salienta.