A morte do vereador de Porto Alegre Mauro Zacher, no domingo (26), chamou a atenção para casos de mal súbito durante prática de exercícios físicos. O parlamentar de 46 anos participava de uma competição de natação em uma praia do Ceará e suspeita-se que ele tenha sofrido uma parada cardíaca, embora o laudo médico explicando o que provocou o óbito ainda não tenha sido concluído. O médico cardiologista Leandro Zimerman alerta que o mal súbito pode ocorrer principalmente em situação de prática esportiva de forma intensa.
No atestado de óbito ao qual familiares tiveram acesso nesta segunda-feira (27), consta que a morte do parlamentar do PDT foi por "asfixia em meio líquido - afogamento". Um laudo complementar deve sair daqui a 30 dias. Segundo o chefe de gabinete do vereador, Rafael Fleck, que também era seu primo, Zacher reclamou de dores no peito na quinta-feira (23), enquanto viajava pelo interior do Rio Grande do Sul, e por isso chegou a cancelar os compromissos.
- O estranho foi na quinta-feira, quando ele teve um mal súbito em viagem a São Lourenço. Ele disse que tinha dores no peito. Foi para o hospital e constataram que era dor muscular, então foi liberado. Mas a saúde dele era maravilhosa, nadava cerca de 3 mil metros todas as manhãs, fizesse frio ou calor - conta Fleck.
Zacher foi a Fortaleza na sexta-feira (24) para participar da competição, e, segundo Fleck, havia feito um exame médico atestando sua boa condição de saúde.
De acordo com Zimerman, chefe dos setores de Arritmias Cardíacas dos hospitais Moinhos de Vento e de Clínicas, duas das maiores instituições hospitalares da Capital, mortes súbitas durante a prática de exercícios são raras, mas as chances aumentam se a pessoa, além de exagerar na intensidade, tiver mais de 35 anos e pertencer a grupos de risco, como obesos, fumantes e diabéticos.
- É raro? É. Mas, infelizmente, não foi a primeira nem será a última vez de uma morte súbita praticando esporte. Se o exercício físico é de leve a moderado, acaba agindo como prevenção de problemas cardíacos. Mas, se for extenuante, o risco aumenta. Obeso tem mais risco, sedentário tem mais risco, quem fuma e quem tem diabetes, também. Tem que tomar cuidado, não é discurso vazio - diz.
O esforço excessivo pode desencadear uma série de problemas que, em pessoas abaixo dos 30 anos, estão relacionados a doenças congênitas, como uma miocardiopatia hipertrófica. Já em quem tem mais de 35 anos, geralmente pode resultar em um infarto, que é a obstrução da artéria coronária - e aí, sim, levar à parada cardíaca. Além de problemas no coração, pode ocorrer um acidente vascular cerebral (AVC).
Costuma acontecer de o corpo, dias antes, emitir sinais alertando para a iminência de algo maior - como as próprias dores no peito que antecedem um infarto. Mas geralmente são manifestações que passam batido ou até são minimizadas pelos pacientes.
Por isso, alerta Zimerman, avaliações médicas periódicas são altamente recomendadas a pessoas acima dos 35 anos que praticam exercícios físicos intensos, principalmente antes de participarem de competições ou maratonas, o que vem ficando cada vez mais popular.
- Tem que fazer avaliação com especialista para confirmar se está tudo bem. É uma conversa com o médico para contar sua trajetória, se sentiu alguma dor, alguma palpitação diferente e, se necessário, fazer exames complementares, como eletrocardiograma. Nessas avaliações, identificamos o que pode colocar o paciente em risco - orienta o cardiologista.
O que não pode, ressalta o médico, é achar que investir em uma rotina diária de exercícios vai ameaçar a saúde da pessoa - quando é exatamente o contrário.
- Quando há uma morte súbita em pessoas jovens, a mensagem pode ser a de que exercícios físicos são um perigo. Atividade física regular, de baixa intensidade, é muito mais benéfica do que maléfica. Isso evita derrames e problemas cardiovasculares - garante.