Vários estudos comprovam a associação entre o consumo de ultraprocessados e o desenvolvimento de problemas de saúde. Mas afinal, todos os alimentos industrializados são igualmente nocivos? Quais deles são os grandes vilões da alimentação saudável? Segundo um novo estudo publicado na revista científica The Lancet Regional Health – Europe, não podemos colocar todos esses produtos no mesmo “barco”.
A pesquisa aponta que alguns alimentos são mais prejudiciais à saúde do que outros, sendo que alguns podem até mesmo trazer benefícios, como pães e cereais. O trabalho aponta que o aumento do consumo de ultraprocessados está ligado a um risco elevado de multimorbidade, envolvendo câncer e doenças cardiometabólicas.
Mas isso varia conforme o tipo de alimento ingerido, conforme a descoberta. Entre os exemplos de alimentos ultraprocessados estão maionese e outros molhos prontos, produtos congelados e prontos para consumo (nuggets, pizza congelada, salsichas, entre outros), pães de forma industrializados, bolachas, sorvetes e guloseimas, doces e chocolates, refrigerantes, cereais matinais, salgadinhos, iogurtes e bebidas lácteas adoçadas, etc.
O estudo foi realizado por meio de parceria entre a Universidade de Viena, na Áustria, e investigadores da International Agency for Research on Cancer (IARC), agência da Organização Mundial da Saúde (OMS) que promove pesquisas sobre câncer.
"O que é particularmente significativo neste grande estudo é que o consumo de mais alimentos ultraprocessados, em particular produtos de origem animal e bebidas açucaradas, estava associado a um risco aumentado de desenvolver câncer juntamente com outra doença, como acidente vascular cerebral ou diabetes", afirmou em comunicado a diretora assistente de pesquisa e política do World Cancer Research Fund International, Helen Croker. A instituição contribuiu para financiar o estudo.
Para produzir o trabalho, um grupo de pesquisadores acompanhou, ao longo de 11 anos, o histórico alimentar e as doenças desenvolvidas por 266,6 mil pessoas em sete países da Europa. Nesse continente, o consumo de alimentos ultraprocessados é muito alto – representa mais da metade da alimentação diária de uma pessoa. No Brasil, o consumo vem aumentando.
A cada ano, os investigadores pediram que cada pessoa informasse o que normalmente comeu nos últimos 12 meses. Os alimentos foram categorizados conforme o sistema NOVA. Trata-se de uma classificação usada por cientistas que leva em consideração somente os nutrientes, mas também a forma como as comidas são produzidas.
Os resultados da análise indicam que o consumo regular de produtos ultraprocessados à base de carne, como salsicha e hambúrguer, e de bebidas açucaradas, foi associado ao aumento da probabilidade de desenvolver câncer, doenças cardíacas e diabetes.
Por outro lado, a ingestão de pães e cereais diminui o risco desses problemas, devido à presença de fibras, por mais que não sejam alimentos in natura e não processados. Alimentos como molho de tomate e condimentos também são prejudiciais à saúde, mas não tanto quanto os produtos de origem animal e os refrigerantes. Nesse caso, o risco de desenvolver as doenças é mais modesto.
As descobertas também revelam que doces e sobremesas, refeições prontas, salgadinhos e alternativas vegetais “não estão associados ao risco de multimorbidade”. Essa condição ocorre quando alguém tem pelo menos duas doenças que encurtam a vida ao mesmo tempo, como câncer e doenças cardíacas.