O Rio Grande do Sul, junto com Santa Catarina e Paraná, está entre os Estados em que menos de 20% da sua população está em situação de insegurança alimentar em algum grau. Conforme definição adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma família está em situação de segurança alimentar quando tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
O RS tem 18,7% das famílias em situação de insegurança, o equivalente a 839 mil lares. Ou seja, quando não há comida o suficiente na mesa. O valor está abaixo da taxa nacional, de 27,6%. Isso representa 21,6 milhões de domicílios. Na frente, estão o Paraná, com 17,9% da população em insegurança alimentar, e Santa Catarina (primeiro lugar), com taxa de 11,2%. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, que divulgou nesta quinta-feira (25) o módulo sobre segurança alimentar do levantamento, com dados de 2023.
De acordo com o coordenador da Pnad Contínua no RS, Walter Paulo de Sousa Rodrigues, isso é reflexo do desenvolvimento econômico da região.
— Temos desemprego menor do que em outras regiões e, com isso, um percentual maior de pessoas ocupadas e mais domicílios com rendimento. Além disso, no caso do RS, temos uma população mais envelhecida, ou seja, mais pessoas recebendo aposentadoria — explica.
O problema também vem recuando no país, como um todo. Entre 2017 e 2018, a taxa de insegurança era de 36,7%, conforme a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Ou seja, o Brasil está em um momento de recuperação. No entanto, a redução não foi suficiente para atingir os patamares registrados há 11 anos. Em 2013, cerca de 22,6% dos domicílios brasileiros estavam em insegurança alimentar, de acordo com a Pnad daquele ano.
Os resultados da Pnad Contínua do ano passado apontam também o aumento da proporção de lares em segurança alimentar em todas as regiões. Os dados mostram que entre 2018 e 2023, o índice de lares em situação de segurança passou de 76,5% para 81,3% no Estado. Isso representa 6,3 milhões de lares. Já no Brasil, no mesmo período, aumentou de 63,3% para 72,4%, equivalente a 56,7 milhões. Segundo Walter, do IBGE, a insegurança alimentar é inversamente proporcional à economia e à situação do mercado trabalho.
— Em 2013 estávamos no auge da economia. Já em 2017 e 2018, ainda estávamos passando pela recessão que começou em 2016, o que explica o cenário desfavorável. Quando aumenta o rendimento, a tendência é haver uma redução na insegurança alimentar, porque as pessoas têm mais condições de comprar os alimentos. No ano passado, tivemos alcance maior de programas sociais e uma recuperação no mercado de trabalho, com um crescimento da economia maior do que o previsto — destaca.
Fome recua, mas desigualdade persiste
As regiões Norte e Nordeste seguem concentrando as maiores taxas de insegurança alimentar. No Norte, há cerca de quatro vezes mais domicílios convivendo com insegurança alimentar grave, em que as pessoas relataram chegar a passar fome, em comparação com a região Sul.
No Norte, a fome esteve presente em pelo menos 7,7% dos domicílios em 2023. Já na Região Sul, foram atingidas pela fome grave 2% das famílias. No RS, a taxa é um pouco maior. Cerca de 2,2% dos lares eram afetados pela restrição severa de acesso aos alimentos em 2023, sendo que a taxa era de 2,4% entre 2017 e 2018.
A pesquisa indica, ainda, que 4,5% da população de zero a quatro anos de idade no país, e 4,9% da população de cinco a 17 anos conviviam com insegurança alimentar grave. Por outro lado, quando se trata da população de 65 anos ou mais, essa proporção sobe para 2,8%. Ou seja, há maior vulnerabilidade à restrição alimentar nos domicílios onde residem crianças e/ou adolescentes. De acordo com Walter, essa relação entre segurança alimentar e grupos etários é um fator relevante para explicar o cenário do RS.
Quanto aos graus de insegurança alimentar, o IBGE considera o seguinte:
- Leve: quando existe preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro, qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias para não comprometer a quantidade de alimentos
- Moderado: quando há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação porque falta comida
- Grave: trata-se de privação severa no consumo de alimentos, podendo chegar à fome. Ou seja, quando há redução da quantidade de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação de toda a família porque faltam alimentos