Conforme o boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) nesta quarta-feira (24), o Rio Grande do Sul atingiu 102 óbitos pela dengue em 2024. Em meio a já considerada como a maior epidemia da doença na série histórica do Estado, o diretor-adjunto do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Marcelo Vallandro, salienta que a proximidade com a chegada do inverno não deve diminuir os cuidados contra a dengue.
Apesar do mosquito Aedes aegypti ter maior prevalência no verão, com a temperatura mais alta e o tempo chuvoso, a chegada do clima mais ameno não é garantia de uma baixa na proliferação da doença. De acordo com Vallandro, o combate ao vetor precisa ser constante:
— A gente tem visto nos últimos anos que, mesmo no inverno, apesar da diminuição, ainda tem a possibilidade de ter a doença. Nós precisamos combater a dengue durante todo o ano. Não adianta baixarmos a guarda agora, quando começar a diminuir os casos no inverno. Depois, todos esses criadouros, esses ovos que foram depositados, quando o tempo melhorar, eles eclodem e voltam a causar o problema da doença.
Para Eduardo Sprinz, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o aumento nos casos da doença poderia ser previsto em razão das mudanças climáticas.
— A gente já sabia há algum tempo que o Aedes aegypti circula pelo nosso Estado na Zona Oeste, no Noroeste, na Capital e em diversas regiões. O que faltava primeiro eram os casos importados, eles vieram. Depois, naturalmente, viriam os casos autóctones. Depois disso, havendo uma condição climática propícia, sem frio intenso, sem calor excessivo, sem seca, seria a combinação ideal para que houvesse uma explosão no número de casos — avalia Sprinz.
Entre as orientações dadas pela SES estão o cuidado com os focos de água parada e a hidratação pessoal. O primeiro diz respeito a ações coletivas, tirar alguns minutos para cuidar da casa e assim eliminar criadouros. O segundo se refere a um cuidado individual, que visa minimizar a chance da doença evoluir para um caso grave.
— É a gente estar atento, manter uma boa hidratação do ponto de vista individual, atentar aos sintomas e também às condições, principalmente, das pessoas mais vulneráveis, que são as crianças e os idosos — explica Vallandro.
Fique atento aos sintomas
Conforme o infectologista Eduardo Sprinz, o monitoramento correto dos sintomas da doença também é fundamental. Nos primeiros dois, três dias, dores musculares e febre são comuns. Depois, a partir do terceiro e quarto dia, podem ocorrer os indicativos mais graves: náuseas, vômitos, dores na barriga, inchaço e manchas pelo corpo.
— A dengue, por si só, dificilmente leva à morte. O que leva à morte são as complicações da infecção. Como nós, profissionais da saúde, não estamos tão acostumados a lidar com essa doença e, tendo uma população suscetível, a gente às vezes pode falhar na identificação de sinais de sintomas que podem dizer que essa pessoa poderá evoluir para casos de dengue grave, que é aquela associada com sangramento — explica o especialista.
A principal orientação dos órgãos é que, nos primeiros sintomas, a população procure as unidades de saúde para realizar o teste e começar o tratamento. O uso do repelente, principalmente nas pernas, a hidratação e o combate ao vetor também são recomendações reforçadas pelos médicos.
Disputa por leitos e falta de vacina
A chegada do inverno também aumenta a preocupação da concorrência por leitos nos hospitais entre pacientes com dengue e com vírus respiratórios, além de outras doenças. A falta de vacinas acessíveis contra a doença também preocupa. Para Sprinz, a decisão do Ministério da Saúde de não incluir o Rio Grande do Sul na estratégia de distribuição de vacinas foi um equívoco do ponto de vista epidemiológico:
— O ideal seria a gente conseguir uma grande quantidade de vacinas para a população, mas isso, nesse momento, não é viável. Infelizmente, temos que torcer para que as pessoas saibam se cuidar.
A SES ressaltou que busca que o RS seja incluído no programa e diz aguardar posicionamento do Ministério da Saúde. Mesmo assim, as doses disponibilizadas seriam consideradas insuficientes e não aprovadas para o público idoso, que tem apresentado mais risco.