Doenças oculares, anteriormente consideradas puramente genéticas, podem ser parcialmente causadas por bactérias que escapam do intestino e alcançam a retina. A descoberta, publicada na revista científica Cell, desafia a crença de que os olhos são protegidos por uma camada de tecido impenetrável por bactérias, resultado surpreendente para os cientistas.
De acordo com o estudo, doenças retinianas hereditárias, como a retinose pigmentar, afetam cerca de 5,5 milhões de pessoas em todo o mundo. Mutações no gene CRB1 estão entre as principais causas dessas condições, que podem levar à cegueira. Estudos anteriores já indicavam que as bactérias nos olhos poderiam ser mais comuns do que os oftalmologistas pensavam, levando os cientistas a investigar o poder desses microrganismos de causar doenças.
Na pesquisa, foi possível demonstrar, com base em testes feitos com camundongos, que as retinas portadoras de mutações no gene CRB1 são caracterizadas pela presença de bactérias intestinais. Os cientistas descobriram, também, que as mutações no CRB1 enfraquecem as conexões entre as células que revestem o cólon, além de seu papel já conhecido em enfraquecer a barreira protetora ao redor do olho.
Experimentos com camundongos mutantes para o CRB1 e com níveis reduzidos de bactérias indicaram que esses animais não apresentaram evidências de camadas celulares distorcidas na retina, ao contrário dos que possuíam flora intestinal típica.
Além disso, tratamentos com antibióticos reduziram os danos nos olhos dos camundongos mutantes, sugerindo que pessoas com mutações no CRB1 podem se beneficiar de antibióticos ou medicamentos anti-inflamatórios que diminuem os efeitos das bactérias.