Atualmente, as principais causas de cegueira no mundo, segundo a Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, são os erros de refração não corrigidos — miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia —, a catarata, a degeneração macular relacionada à idade e o glaucoma. Outra causa significativa é a retinopatia diabética — lesão na retina causada pelo diabetes.
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, a cada cinco segundos, um adulto perde a visão no mundo. A cada minuto, uma criança enfrenta o mesmo problema.
Os erros refrativos caracterizam-se pela falta de foco da retina nos raios de luz que entram nos olhos. De acordo com a oftalmologista Érika Sayuri Yasaki, especialista em retina e vítreo pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e médica no Hospital Albert Einstein, estes erros são os maiores responsáveis por causar cegueira na população infantil no mundo.
— Estima-se que 2% a 10% das crianças apresentam erro refrativo significativo. Outras causas de cegueira infantil são infecções congênitas (rubéola, sarampo e toxoplasmose congênita), retinopatia da prematuridade, catarata congênita e distrofias retinianas — diz.
Um dos fatores que pode explicar este cenário é o uso excessivo e cada vez mais cedo de celulares, tablets e aparelhos eletrônicos com tela. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, até o ano de 2050, metade da população mundial será míope e terá dificuldade de ver a distância.
A OMS recomenda que crianças menores de dois anos não tenham acesso a telas. Entre dois e cinco anos, o tempo máximo diário recomendado é de uma hora. Dos seis aos 10 anos, o tempo máximo é de uma a duas horas por dia. Para jovens de 11 a 17 anos, o limite é de duas a três horas por dia. A orientação da OMS ressalta a importância de os pais ou responsáveis supervisionarem sempre os conteúdos que os filhos acessam.
— Há uma expectativa de aumento da miopia nas próximas décadas como resultado da urbanização e mudanças no estilo de vida, tais como menor tempo exposto ao ar livre e ampliação das atividades de perto, como o uso das telas. Houve ainda um crescimento da prevalência global de diabetes como resultado dos avanços da urbanização, consumo de alimentos menos nutritivos e hábitos sedentários que contribuem para a obesidade — alerta a oftalmologista.
Panorama no Brasil
No Brasil, há pelo menos 1 milhão de pessoas cegas e 4 milhões têm deficiências visuais, possuindo até 30% da capacidade de visão, conforme dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Conforme especialistas ouvidos pela Agência Einstein, a prevalência de doenças oculares no país está relacionada ao acesso restrito de atendimento oftalmológico nos postos de saúde e a ausência do uso de proteção ocular para indivíduos com atividades específicas.
— As variações geográficas e econômicas também influenciam nas causas de deficiência visual. Por fim, existem desafios específicos relacionados ao tratamento de certas enfermidades, como a necessidade de cirurgiões especializados para catarata e a facilidade de correção do erro refrativo com o uso de óculos ou lentes de contato — destaca o médico oftalmologista Paulo Phillipe Moreira, chefe do setor de córnea do Hospital Federal de Bonsucesso e do Hospital de Olhos de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Prevenção e tratamentos
A realização regular de exames oftalmológicos completos é essencial para a detecção precoce de doenças oculares. Esses exames devem incluir toda a avaliação clínica dos olhos, como acuidade visual, percepção de profundidade, alinhamento e movimento dos olhos, além de exame de pressão ocular e de fundo de olho.
Já para os recém-nascidos, um exame importante é o Teste do Olhinho, que deve ser feito pelo pediatra logo após o nascimento. As maternidades públicas e particulares são obrigadas por lei a realizar o exame até a alta do recém-nascido.
— Para crianças, é recomendada a triagem visual, pelo menos, uma vez ao ano. Indivíduos com diabetes devem se submeter a um mapeamento de retina anualmente. Já pessoas com alto risco de desenvolver glaucoma, incluindo afro-americanos acima de 40 anos e adultos em geral acima de 60 anos, devem realizar esses exames, no mínimo, a cada dois anos — orienta Moreira.
Diversos estudos sugerem que uma maior exposição à luz natural e mais tempo gasto olhando para objetos distantes podem ser fatores-chave para a prevenção de doenças oculares, como a miopia.
— A luz natural está relacionada à liberação de dopamina, substância que, na retina, contribui para o controle da miopia. Sendo assim, são recomendadas atividades ao ar livre por pelo menos três horas por dia, sobretudo para as crianças, além do controle dos minutos de tela — orienta Yasaki.