Muitos nem sabiam que trocar a cor dos olhos é possível até a modelo brasileira Layyons Valença, 24 anos, aparecer no Fantástico, no último domingo (21) mostrando o resultado da cirurgia que realizou na Suíça. O procedimento que transformou os olhos castanhos de Layyons em azuis funciona como uma espécie de tatuagem na córnea e tem uma série de riscos.
Conhecida pelos nomes de ceratopigmentação ou queratopigmentação, a cirurgia de troca de cor dos olhos não é uma novidade na oftalmologia. A operação costumava ser feita apenas em pacientes que já apresentavam perda de visão e gostariam de deixar o olho cego com uma aparência semelhante ao olho saudável, tingindo as partes esbranquiçadas com pigmentos que se parecem com a coloração natural do olho do paciente.
Com essa finalidade, a cirurgia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), mas é considerada pouco comum. Já no caso da modelo Layyons, que tem olhos saudáveis, o procedimento é considerado mais arriscado e o CFM proíbe a realização.
— Não dá para dizer que é saudável ou que é horrível e todos que fizerem esse procedimento ficarão cegos. Com essa finalidade, é algo novo. Ou seja, não tem follow-up (acompanhamento de casos) para sabermos o que vai acontecer — defende o preceptor do setor de Córnea e Doenças Externas do Hospital Banco de Olhos São Pietro, Otávio Magalhães.
Ainda assim, é preciso considerar alguns riscos e complicações que a ceratopigmentação pode causar. O procedimento pode acarretar infecções, reações alérgicas e, até mesmo, cicatrizações inadequadas, uma vez que esses riscos são comuns em cirurgias oftalmológicas ou procedimentos envolvendo pigmentação da pele ou dos olhos.
— Se a pessoa tiver uma úlcera de córnea, por exemplo, que é uma infecção que perfura a córnea, ela muito provavelmente vai ter que fazer um transplante. Além disso, talvez a pessoa fique sem o ângulo visual que tinha antes, como se tivesse um anel no olho, perdendo um pouco da visão periférica — explica a oftalmologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Daniela Osório.
Como funciona o procedimento?
O olho humano é composto por diferentes estruturas, sendo a córnea a camada transparente que protege a frente do olho e ajuda a focalizar a luz. A íris, localizada atrás da córnea, é a parte colorida do olho que regula a quantidade de luz que entra, ajustando o tamanho da pupila. Essas estruturas trabalham em conjunto para permitir a visão.
A ceratopigmentação pode ser feita de duas formas, com microagulhas ou com laser. Ambos procedimentos são realizados na córnea. Ou seja, não mudam a cor do olho em si, mas pigmentam a estrutura externa do olho para modificar a aparência.
Da primeira maneira, o cirurgião utiliza as mesmas microagulhas usadas para fazer o tratamento de micropuntura. Com elas, são feitas pequenas perfurações na córnea, onde o pigmento é depositado. Da mesma forma que uma tatuagem, o cirurgião movimenta as agulhas para conseguir colorir toda extensão da córnea.
A outra opção, considerada mais comum e menos agressiva, é com o laser de femtoseguro, equipamento já conhecido e utilizado em outras operações oftalmológicas. Com o laser, o cirurgião abre um espaço na córnea e deposita todo o pigmento de uma só vez, banhando o local com a nova cor.
— O médico de Layyons, na Suíça, disse que o pigmento utilizado na cirurgia é derivado de minerais. Mas, em princípio, é a mesma tinta comercialmente disponível para tatuagens de pele, dermatológicas e oftalmológicas — afirma Magalhães.
A ceratopigmentação da modelo foi feita em uma clínica oftalmológica em Lausanne, perto de Genebra, na Suíça, onde ela vive atualmente. É sabido, ainda, que outras clínicas espalhadas pela Europa e pelos Estados Unidos também já realizam o procedimento.
Na entrevista ao Fantástico, Layyons afirmou que pagou cerca de R$ 45 mil pelo procedimento. Nos Estados Unidos, o valor pode chegar a US$ 15 mil, o que se aproximaria dos R$ 73 mil, levando em consideração o dólar a R$ 4,90.
*Produção: Yasmim Girardi