A equipe que atua no ambulatório de quimioterapia do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), da Santa Casa de Porto Alegre, foi surpreendida nesta terça-feira (26) com uma homenagem. Após superar dois tratamentos contra câncer, a estudante de Eletroeletrônica Laura Dalpra Chionha realizou o sonho de comemorar o aniversário de 15 anos no hospital. A celebração foi uma forma de demonstrar gratidão a médicos e profissionais de enfermagem que a acompanharam desde 2018.
À época, ela foi diagnosticada com um medulablastoma, um tipo de tumor cerebral. Depois de três cirurgias – a última em maio de 2021 –, 61 sessões de radioterapia, oito ciclos de quimioterapia e mais de 30 transfusões de sangue, Laura completou em fevereiro dois anos de remissão, quando não precisa mais de tratamento. Com vestido azul, ela ingressou no ambulatório acompanhada dos pais, Marciana de Melo Dalpra, 40 anos, e Ademar Chionha, 49, e de amigos de Campo Bom, no Vale do Sinos, onde a família reside.
O técnico de enfermagem Raul Lauruz Galiano Junior, 43, foi convidado para dançar a tradicional valsa com a debutante. Durante os tratamentos, ele destacava a importância da paciente estar forte para poder dançar a valsa dos 15 anos. Ao som do violino executado pela professora de música Elenara Ibaldo Vargas, os dois dançaram no ambulatório. Em seguida, os convidados cantaram parabéns. Houve distribuição de lembranças e cupcakes.
Surpreso com a homenagem, Galiano Junior não escondia a emoção de participar de um momento tão especial e de receber o carinho da família:
— É uma satisfação (ela) ter me escolhido. Não imaginei que pudesse ter lembrado de mim, porque se passou tanto tempo. Pra mim é uma gratidão a Deus, à vida, ao universo por poder participar junto com ela desse momento tão maravilhoso que é a vida, a saúde. Eu vi esses pais, o jeito que eles ficaram quando souberam da doença — relembra Galiano Junior, que atua no ambulatório há 16 anos.
Vínculo com os profissionais começou em 2019
O técnico de enfermagem acompanhou a jovem desde o início do tratamento, em 2019. À época, Laura tinha apenas nove anos, e começou a apresentar sintomas como desequilíbrio e tontura. Os pais de Laura decidiram fazer exames mais detalhados na jovem após ela sofrer um tombo na escola, que deixou um machucado na cabeça. O resultado da ressonância apontou a existência do tumor. A primeira cirurgia para retirada do tumor ocorreu em janeiro daquele ano.
Uma semana depois, em decorrência de uma hidrocefalia - que é o acúmulo de líquido excedente no cérebro -, ela precisou passar por uma segunda cirurgia para drenar o líquido. Durante praticamente um ano, foram 31 sessões de radioterapia junto com outras sessões de quimioterapia. Por conta do tratamento, Marciana lembra que filha chegou a pesar 23 quilos.
O tratamento é pesado, a rotina de toda a família muda, mas no fim vale a pena, porque as crianças entram em remissão e voltam a ter uma vida normal.
AMANDA DA FONTOURA SAN MARTIN
Oncologista pediátrica
— Em 2020, ela venceu o câncer e viveu dias de glória. Porém, em janeiro 2021, em um exame de rotina, descobrimos que o câncer retomava no mesmo lugar. Passamos novamente pela mesma batalha — relembra a mãe.
A terceira cirurgia, dessa vez para a retirada do novo tumor, ocorreu em maio de 2021. Segundo Marciana, foram mais 30 sessões de radioterapia.
Conforme Laura, a alegria dos profissionais durante o tratamento ajudou a superar os momentos mais difíceis. Ela afirma que a ideia de dançar a valsa foi dela e da mãe.
— Estou muito feliz, porque sempre me ajudaram com todo o tratamento, desde o começo, quando eu tinha nove anos — completa a jovem.
"A Laurinha é uma guerreira", diz neurocirurgião pediátrico
O neurocirurgião pediátrico André Bedin, do Hospital da Criança Santo Antônio, se emocionou com a homenagem. Responsável pelas cirurgias para retirada do tumor cerebral, Bedin afirma que Laura "sempre se ajudou". Ele explica que o medulablastoma é o mais frequente câncer da parte posterior da cabeça em criança. E o de Laura era o tipo clássico. O especialista comemora a recuperação da paciente:
Pra mim é uma gratidão a Deus, à vida, ao universo por poder participar junto com ela desse momento tão maravilhoso.
RAUL LAURUZ GALIANO JUNIOR
Técnico de enfermagem
— A Laurinha é uma guerreira, são poucos que chegam no estágio dela.
Uma das médicas que acompanharam toda a recuperação da jovem, a oncologista pediátrica Amanda da Fontoura San Martin também foi homenageada. Ela explica que os tumores do sistema nervoso central, como o medulablastoma, são o segundo tipo mais comum de doença de câncer em crianças. Em primeiro lugar vem as leucemias.
— É um tumor muito agressivo e costuma ter um crescimento rápido. E, pela localização, a gente consegue diagnosticar através dos sintomas que a criança apresenta. No caso da Laurinha, quando ela descobriu a doença, tinha perda de equilíbrio — destaca.
A médica lembra que o primeiro diagnóstico apontou um tumor na face posterior:
— Por ser um tipo de câncer, uma neoplasia maligna, pode fazer metástase para a coluna espinhal, que é como a gente chama. O da Laurinha sempre foi um tumor localizado.
Para Amanda, a jovem sempre demonstrou força e coragem e "não deixou a peteca cair".
— Quando a gente vê esses casos de pacientes com remissão completa da doença, que estão tantos anos fora de tratamento, dá uma esperança para todo mundo, porque faz sentido em tudo o que está fazendo. O tratamento é pesado, a rotina de toda a família muda, mas no fim vale a pena, porque as crianças entram em remissão e voltam a ter uma vida normal — afirma.