A vacina intranasal contra covid-19 desenvolvida no Brasil apresentou 100% de eficácia em camundongos. O imunizante seria uma alternativa às opções atualmente disponíveis, de aplicação intramuscular. O novo spray, que pode ser nasal ou bucal, induz imunidade pela mucosa do corpo.
— Como o SARS-CoV-2 é um vírus respiratório, foi natural propor uma vacina que pudesse neutralizá-lo já na área mais propensa às suas tentativas de entrada no corpo humano, ou seja, nas vias aéreas superiores — explica Momtchilo Russo, professor do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e um dos coordenadores do estudo.
A comprovação da eficácia em camundongos é resultado da pesquisa, publicada na revista Vaccines, desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em um convênio com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e parceria com pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e Instituto de Medicina Tropical (IMT), ambos da USP, além da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A vacina intranasal usa a proteína chamada Spike (S) como antígeno, abordagem a outras vacinas como a Oxford-AstraZeneca e Janssen. Quando alguém é infectado, o sistema imunológico reconhece essa proteína do vírus e começa a produzir anticorpos, especialmente um tipo chamado Imunoglobulina A (IgA), considerada uma proteína fundamental para a imunidade da parte interna do nariz, garganta e boca.
Essa vacina é uma das primeiras do tipo a ser testada no mundo. É importante ressaltar, também, que não se trata do Taffix, spray nasal desenvolvido em Israel pela Nasus Pharma que teve o registro cancelado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2021, ainda durante a pandemia, por falta de estudos que comprovassem a eficácia do medicamento.
Nesta fase, o spray nasal brasileiro utilizou camundongos transgênicos para realizar o estudo. Segundo o ICB, "quando infectados pelo vírus, os animais desenvolvem pneumonia viral bilateral, perdem peso e a maioria sucumbe à infecção em sete dias". Enquanto isso, 100% dos animais vacinados ficaram protegidos da infecção e não apresentaram mortalidade ou perda de peso.
— Trata-se de uma técnica fácil de realizar, se comparada, por exemplo, com as vacinas que usam os RNAs mensageiros, ou com as vacinas de adenovírus, que são mais complicadas de se produzir e armazenar, pois requerem temperaturas baixíssimas para a sua manutenção — acrescenta Russo. O imunizante agora deverá passar por outras etapas de testes.