A realização de um detox digital – um período de desintoxicação – das redes sociais é uma prática adotada por quem busca menos ou nenhuma exposição aos ambientes virtuais. Apesar de não haver um limite saudável para o uso, estudiosos defendem uma mudança na forma de se relacionar com a internet, para evitar dependência e prejuízos na saúde mental do usuários.
GZH ouviu histórias de quem percebeu prejuízos na vida real pelo uso em excessivo das plataformas e, por isso, regraram a utilização diária.
A leitura e o chimarrão são dois dos aliados de Caroline Ximenes, 25 anos, na busca por ficar menos tempo nas redes sociais. Até pouco tempo, a moradora da zona sul de Porto Alegre passava oito horas diárias com o celular em mãos; hoje estima ficar duas horas e 30 minutos. O "vício" dela é o Instagram:
— Influencia muito na vida das pessoas, e, para mim, de forma negativa, muitas vezes. Acabo me comparando com os outros, e isso me deixa mal. Vejo histórias que sei que as pessoas não vivem realmente, mas ainda assim aquilo mexe com a minha vida, porque aparenta que elas estão vivendo, estão indo para frente e eu estagnada no mesmo lugar.
Caroline conta que ter um livro à mão tem sido um meio para deixar o celular. Para isso, pegou alguns títulos com uma prima e os lê em uma área aberta do condomínio onde mora. É um hábito que ocupa em média, uma hora e 30 minutos por dia.
— Fico tranquila sem mexer no celular e nem lembro dele se estou lendo, me deixa menos ansiosa — resume Caroline.
Fico tranquila sem mexer no celular e nem lembro dele se estou lendo.
CAROLINE XIMENES
Agregar o costume de permanecer fora das telas não é a única alteração de rotina da jovem: Caroline decidiu desativar o perfil que tinha no Instagram e criar outro na mesma rede social apenas para ter contato com familiares e amigos.
— É para não ficarem me perguntando se aconteceu alguma coisa, se eu estou "brigada" com a pessoa, se ela me fez algo. Porque muita gente acha que o mundo acabou se não estou na rede social. Não vejo assim: é necessário um tempo longe para voltar à realidade. Hoje é tudo na base da internet, se não é postado, não é vivido — opina.
Presença discreta é uma opção
Jorge Fernando Cabral, 29 anos, mudou aos poucos o modo como utiliza as redes sociais. Até o ano passado, mantinha perfis no Twitter, TikTok e Instagram, plataformas que lhe tomavam entre uma e duas horas por dia.
— Eu ficava muito tempo em rede social: rolava o feed tentando achar algo que nem eu sabia o que era —lembra o executivo de contas de uma empresa de TI de Porto Alegre.
Em 2023, Jorge fez experiências para melhorar o uso: com uma "limpeza" no Instagram, reduziu o número de pessoas as quais seguia. Também desinstalou os aplicativos das redes sociais e ficou por semanas sem acessá-los. Retornou aos poucos, com uso menos frequente. Entre o final de 2023 e início deste ano, ficou, ao todo, 60 dias sem entrar em nenhuma das plataformas. A "volta" não foi uma boa experiência:
— Deparei com posts "pesados", muita informação e opinião, aquela briga de ego, troca de farpas entre perfis. Era algo muito desgastante. Por isso, ficava cinco minutos (na rede social) e depois a excluía. Acabei ficando apenas com o Instagram, e vou mantê-lo só para divulgar projetos musicais que tenho.
Não somos obrigados a isso.
JORGE FERNANDO CABRAL
A mudança de comportamento deu ao morador de Porto Alegre mais tempo: hoje estima usar redes sociais por no máximo 30 minutos diários (antes era entre uma e duas horas). Melhora na saúde mental e percepção de vida desacelerada são duas consequências da presença reduzida das plataformas.
— Entendi que eu não precisava ficar 100% conectado e me fazer presente nessas redes sociais. Fiquei menos ansioso e me sentindo menos responsável por estar produzindo conteúdo ou interagindo com outras pessoas. Não somos obrigados a isso — acrescenta Jorge.
Como não ser dependente trabalhando na internet
Paulo Vinícius Schröer, 31 anos, conhecido como o youtuber Pinho, é um dos produtores de conteúdo que propagam a adoção do minimalismo digital como uma ferramenta para fugir do vício virtual. A abordagem prega o uso consciente e limitado das tecnologias – telas, internet, redes sociais.
É o que ele diz fazer nas atividades dos seus dois principais negócios na internet – o canal e um curso online sobre desenvolvimento pessoal, ainda que precise das plataformas para trabalhar.
— Fico em média meia hora por dia no Instagram. Se preciso produzir conteúdo, entro, faço o que preciso e saio. Dificilmente pego o celular para ficar ali no feed, rolando e vendo coisas — afirma.
Segundo Pinho, comentários de seus vídeos indicam que a dependência atinge os mais jovens – pessoas até 20 anos, ele cita.
Dificilmente pego o celular para ficar ali no feed, rolando e vendo coisas.
PAULO VINÍCIUS SCHRÖER
— Há pessoas que usam telefone de seis a oito horas por dia. Isso é um absurdo. Eu, que trabalho com a internet, uso de uma a duas horas em todas as minhas tarefas — conta o morador de Novo Hamburgo.
Para o youtuber, uma estratégia para usar plataformas digitais de forma saudável é reservar um período do dia para isso. O acesso pode ser deixado para quando a pessoa chegar em casa após o trabalho ou apenas aos fins de semana, por exemplo. Instalar aplicativos que monitoram e limitam a utilização é uma opção para vencer a luta contra o "nosso maior ladrão de tempo", o smartphone, nas palavras do produtor de conteúdo.
— A maioria fala que não tem tempo para estudar, para investir em um negócio novo, para isso ou para aquilo. Só que o celular está lá na mão: a pessoa segue passando quatro, cinco horas por dia na tela, sem benefício nenhum para a própria vida — diz.