Com o Rio Grande do Sul vivendo uma epidemia de dengue, confirmada pela secretária Estadual da Saúde, Arita Bergmann, na terça-feira (6), as pessoas têm procurado cada vez mais medidas para se proteger contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Entre os meios está o uso de repelente, que já registra aumento na procura em redes de farmácias do Estado.
A reportagem de GZH consultou cinco redes se farmácias que atuam no Rio Grande do Sul e quatro delas confirmaram haver um aumento na procura por repelentes em comparação com o mesmo período de 2023.
O maior aumento foi registrado pela São João, que informou uma elevação de 98% em janeiro de 2024 em relação com o mesmo período no ano passado. A Panvel respondeu que no primeiro mês deste ano houve um aumento de 45% na procura na comparação com janeiro de 2023. Já a rede Agafarma informou ter registrado uma procura 57% maior nos últimos dois meses (dezembro de 2023 e janeiro de 2024) em relação a 12 meses atrás.
A rede Droga Raia não tem um levantamento regional, mas informou que a nível nacional só nessa última semana de fevereiro, a alta foi de 120% em relação a janeiro no Brasil. Por fim, a Pague Menos respondeu não ser possível dar um retorno sobre o tema no momento.
Apesar da alta demanda, os estabelecimentos não registram falta do produto.
Cuidado com a formulação do produto
A procura se justifica uma vez que os repelentes podem auxiliar a evitar a picada do Aedes aegypti. Porém, não são todos os produtos desse tipo que podem ser usados com esse fim.
A dermatologista do Hospital Moinhos de Vento Sabrina Sanvido explica que existem três substâncias liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que são eficazes para repelir o mosquito da dengue. São elas: Icaridina, IR3535 e DEET. O que muda de um repelente para o outro é a concentração de cada componente e a forma como ele é vendido, que pode ser em gel, creme ou spray. Essas substâncias são capazes de modificar o cheiro da pele humana, o que acaba atrapalhando o inseto na identificação do odor do corpo para conseguir picar.
De acordo com a dermatologista, que também atua no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, é preciso atentar na hora da compra do repelente para se o produto atende a concentração certa para que o mosquito da dengue seja repelido. Em repelentes para crianças, é necessário que o produto tenha até 10% da substância DEET. Já para os adultos, o produto precisa ter pelo menos 20% de concentração no caso da Icaridina e em torno de 30% quando a substância é a DEET. No caso da IR3535 não há uma especificação em relação a concentração.
A eficácia do produto vai depender justamente de como os fatores, concentração de componente e tipo de aplicação, são combinados. O modo de uso e o tempo de duração da proteção também interferem na eficácia.
Utilize na ordem e regularidade correta
É importante ficar atendo, ainda, ao que o fabricante indica sobre a reaplicação do produto. Conforme a dermatologista, existe um limite de aplicação diária a depender da faixa etária.
- Bebês menores que seis meses não devem usar nenhum tipo de repelente. A proteção deve ser feita apenas com roupas e mosquiteiros
- Crianças entre sete meses e dois anos podem usar repelente apenas uma vez ao dia, preferencialmente os que tenham a substância IR3535
- A partir dos dois anos a reaplicação indicada do produto é de três vezes por dia
- Gestantes e lactantes também podem usar repelente reaplicando até três vezes por dia
Os períodos em que os mosquitos mais picam são no início da manhã e no final da tarde. Portanto, esses são os horários mais indicados para passar o repelente. Para garantir que o mecanismo do repelente funcione mesmo quando usado com outros produtos é necessário utilizá-lo na ordem correta.
— Se a pessoa usa hidratante e protetor solar é preciso que o repelente seja passado por último. Ou seja, depois que passou todos os produtos que se usa habitualmente tem que passar o repelente por cima — explica Sabrina.
O repelente pode ser usado no corpo todo, inclusive no rosto. Apenas o aerossol e spray devem ser evitados nessa região por causa do risco de inalação. Não há necessidade de utilizar em áreas que ficarão cobertas por roupas.
Vale destacar que o uso do repelente ajuda a prevenir a picada do mosquito, mas não garante eficácia de 100%. A melhor maneira de prevenir a dengue continua sendo a eliminação de criadouros para que o mosquito não se prolifere.
Cuidado com receitas caseiras
Apesar de circularem muitas receitas caseiras no boca a boca e pela internet, o uso de produtos naturais não é recomendado pelos médicos para repelir mosquitos.
— O pessoal gosta muito de citronela, óleo de cravo, própolis e andiroba nessas receitas caseiras, mas não dá para dizer que essas coisas funcionam para o mosquito Aedes aegypti. Não existe nenhum estudo que comprove eficácia, então a gente não recomenda o uso desses repelentes naturais para prevenir a picada — completa a dermatologista.
Além dos repelentes de aplicação na pele, o que pode ser usado com comprovação de eficácia são os repelentes elétricos e de queima. A recomendação, no entanto, é de que eles sejam usados em ambientes arejados e que fiquem a uma distância de dois metros da pessoa.