Pelo segundo ano consecutivo, o Rio Grande do Sul registrou uma redução significativa nas mortes por coronavírus. O total de óbitos diminuiu 81,6%, passando de 5.179 em 2022 para 950 em 2023, conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Em relação ao número de casos, a queda foi ainda maior: 88,7%. O Estado saiu da marca de 1,4 milhão de infecções, atingindo 160.955 no último ano. De acordo com especialistas, a tendência é de que os índices continuem em declínio, mas ainda podem ocorrer internações e mortes em grupos vulneráveis, especialmente com a chegada de novas variantes.
O cenário gaúcho reflete o nacional. Até 16 de dezembro (atualização mais recente do Ministério da Saúde), foram registradas 14.520 mortes por covid-19 – uma redução de 80,5% na comparação com 2022, quando houve 74.797 óbitos pela doença. Os índices também mostram uma queda de 86,9% número de casos, saindo de mais de 14 milhões para 1,8 milhão de infecções.
No Rio Grande do Sul, os meses de 2023 com maior número de casos (acima de 30 mil) foram janeiro, março e abril. O pico de mortes foi registrado em janeiro (310), seguido por abril (136) e maio (116). Em dezembro, foram 6.876 infecções por coronavírus e 43 óbitos.
— Tivemos muita flutuação na quantidade de casos entre os meses de 2023, então é difícil ter certeza sobre o futuro. Mas, em relação ao número de mortes, a expectativa é que diminua gradativamente. É o que imaginamos olhando para os últimos anos, com o progresso da vacinação — afirma Caroline Deutschendorf, médica infectologista e coordenadora da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
A especialista ressalta, contudo, que novas variantes podem alterar um pouco o cenário e que tudo depende da disponibilidade de vacinas. A partir deste ano, os imunizantes contra a covid-19 serão incluídos no Calendário Nacional de Vacinação, com a recomendação de priorizar a aplicação de doses em crianças de seis meses a menores de cinco anos e grupos com maior risco de desenvolver as formas graves da doença, como idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido.
— O mais importante é proteger os grupos prioritários, que têm mais risco de desenvolver quadros graves. Não imagino que vamos ter mais casos por conta disso. Podemos ter uma variação de um mês para o outro, mas não imaginamos uma alteração muito grande no número de casos — comenta Caroline.
O infectologista Alexandre Schwarzbold, que é professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também acredita em uma estabilidade de casos e na manutenção de hospitalizações e mortes em níveis baixos entre pessoas mais vulneráveis, como idosos e imunodeprimidos.
Na visão do especialista, seria importante que essas pessoas recebessem a vacina monovalente contra a covid-19 atualizada para a variante XBB 1.5, que já é utilizada no Hemisfério Norte e foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 19 de dezembro. Schwarzbold aponta que as vacinas utilizadas atualmente no Brasil não dão conta de proteger contra essa cepa em específico, caracterizada pela alta capacidade de transmissão:
O mais importante é proteger os grupos prioritários, que têm mais risco de desenvolver quadros graves. Não imagino que vamos ter mais casos por conta disso. Podemos ter uma variação de um mês para o outro, mas não imaginamos uma alteração muito grande no número de casos.
CAROLINE DEUTSCHENDORF
médica infectologista e coordenadora da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
— Sabemos que quando temos aumento de casos, tendemos a ter aumento de hospitalizações em pessoas mais vulneráveis. Mas não acredito em ondas muito intensas. É um vírus endêmico, veio para ficar e está entre nós. Só que essas populações terão ondas de hospitalizações um pouco maiores se não estiverem protegidas.
Eliana Bicudo, médica infectologista e assessora técnica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que o Brasil passa por uma situação controlada do vírus, não estando mais em emergência. O que não quer dizer que é possível "descansar", principalmente com a chegada de novas variantes.
— No período mais quente, a gente imagina que vá ficar igual ao segundo semestre 2023. No início do outono e inverno, a gente volta a ficar em estado de alerta, esperando que a vacina monovalente chegue no Brasil até abril. A porcentagem de vacinados está longe do ideal, mas a expectativa é de que, com a vacina da dengue, a gente traga as pessoas aos postos de saúde e atualize o calendário de vacinação.