Ter medo de engravidar é mais comum do que parece. A tacofobia, tipo de ansiedade caracterizada como o pânico excessivo em relação à gravidez ou ao parto, está cada vez mais recorrente – e leva a medidas extremas, como abstinência e uso exagerado de pílulas hormonais. Mulheres compartilham seus temores em rodas de conversas e nas redes sociais.
Casos como o da jovem de 18 anos que descobriu estar grávida de quíntuplos no Rio de Janeiro, servem de gatilho. Porém, esse é um acontecimento muito raro. Histórias de pessoas que engravidam mesmo utilizando algum método contraceptivo também figuram entre os catalisadores desse pânico. Mesmo que as diversas formas de contracepção não atinjam 100% de eficácia, seus efeitos são amplamente testados e comprovados pela comunidade científica, desde que sejam usados de forma correta.
O medo faz com que mulheres se submetam a situações extremas. Tomar pílulas do dia seguinte de forma exagerada, mesmo usando anticoncepcional, ou fazer vários testes de gravidez mesmo só fazendo sexo com proteção são algumas das estratégias. Ficar semanas ou meses sem transar também está entre as práticas das mulheres que não querem engravidar ou que pretendem adiar a gestação.
De acordo com o g1, dois grandes fatores podem influenciar na incidência da tacofobia: a mudança social do papel da mulher e a desinformação. Mulheres passaram a assumir cada vez mais o controle sobre as suas escolhas em relação a engravidar ou não, e muitas vezes preferem adiar o momento. Além disso, relatos imprecisos ou enganosos compartilhados nas redes sociais aumentam o pânico. Casos de mulheres que engravidaram mesmo com o uso de diferentes métodos contraceptivos são compartilhados sem checagem.
Psicólogos já entendem que o quadro configura um transtorno de ansiedade, que afeta o dia a dia, os relacionamentos e a saúde física e mental dessas mulheres. A tacofobia foi reconhecida pela primeira vez em um estudo publicado no British Journal of Psychiatry (Periódico Britânico de Psiquiatria), da Universidade de Cambridge, em 2000, que a caracterizava como uma fobia. O artigo dividiu os casos do transtorno em dois grupos: primário, que afeta mulheres que nunca engravidaram, e secundário, que aparece naquelas que já estão grávidas e têm medo do parto.
Mesmo presente na literatura médica, a tacofobia ainda não é reconhecida na Classificação Internacional de Doenças (CID). Além de gerar uma subnotificação, isso faz com que não exista um protocolo padrão para o enfrentamento do transtorno. Especialistas ouvidos pelo g1 indicam um tratamento combinado entre psicólogos, psiquiatras e ginecologistas. Em casos mais graves, medicamentos podem ser associados à terapia.
Os diferentes métodos contraceptivos
Dados divulgados pelo g1 demonstram a eficácia média de cada método contraceptivo. O percentual variou de 0,05% de falhas por ano (implante) até 28% (espermicida), dependendo do tipo de uso de cada um. Especialistas ressaltam que não existe fórmula 100% eficaz, além da própria abstinência. Como uma vida sexual ativa faz parte da saúde de homens e mulheres, é importante entender como cada método age e qual é a melhor alternativa para cada pessoa. A taxa de falha muitas vezes é mínima.
Combinar métodos, como pílulas e preservativos, pode aumentar a cobertura da proteção. Algumas combinações, porém, possuem ressalvas. O anticoncepcional e a pílula do dia seguinte não funcionam juntas, por exemplo. Isso acontece porque o anticoncepcional impede que a mulher ovule, e, assim, engravide. Já a pílula do dia seguinte surge para adiar a ovulação – só que já ela não acontece em quem toma anticoncepcional em primeiro lugar.
— A pílula do dia seguinte é um método de urgência para quem não se protege ou quando a camisinha falha, por exemplo. Ela tem uma quantidade de hormônio grande, com efeitos colaterais. Além disso, se for usada cerca de três vezes seguidas em um intervalo pequeno, tem a eficácia reduzida – acrescenta Mariane Nunes, membro da Comissão de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).