A história da jovem de 18 anos que descobriu estar grávida de quíntuplos no Rio de Janeiro despertou curiosidade e gerou dúvidas em muitas pessoas. Nas redes sociais, Sara Andrade contou que sua gravidez foi natural — ou seja, ela não passou por nenhum procedimento de reprodução humana assistida para conseguir engravidar. Ao responder comentários, também afirmou que os cinco bebês dividem a mesma placenta.
Talita Micheletti Helfer, obstetra especialista em medicina fetal e cirurgiã fetal do Instituto Materno-Fetal da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, destaca que, de forma geral, uma gravidez espontânea de quíntuplos já é considerada rara. Mas o fato de todos compartilharem a mesma placenta torna o caso “extremamente raro”, sendo difícil até mesmo ter números precisos sobre a prevalência.
— Existem diferentes tipos de gravidez de gêmeos: aquelas que têm várias placentas e as que tem só uma. Quando os bebês se desenvolvem na mesma placenta, são os gêmeos idênticos, com o mesmo material genético. Se essa gestação tem uma placenta com cinco bebês é extremamente raro, mais do que uma para 40 ou 50 milhões — explica Talita.
O mais comum nas gestações múltiplas, conforme a especialista, é que haja mais de uma placenta. Nessas situações, mais de um óvulo foi fecundado por diferentes espermatozoides. Talita cita como exemplo outro caso recente de quíntuplos em que três bebês estavam em placentas diferentes e dois dividiam a mesma, sendo idênticos.
No caso de Sara, em que todos dividem a mesma placenta, apenas um óvulo foi fecundado e o embrião se dividiu em cinco, dando origem aos bebês.
A especialista também esclarece que diversos fatores influenciam em uma gestação gemelar, como a hereditariedade, a idade materna — costuma ser mais frequente em mulheres mais velhas, acima de 35 anos, e que já tiveram mais filhos —, e a origem étnica. Segundo Talita, alguns estudos mostram que a incidência é maior em afro-americanas do que em asiáticas, por exemplo.
— Um dos principais fatores que aumentou a incidência de gêmeos foi o uso de técnicas de reprodução humana assistida, mas não necessariamente de quíntuplos. Trigêmeos aumentou bastante, mas quanto maior o número de bebês, mais raro — ressalta.
Na família do pai dos quíntuplos do Rio de Janeiro, Renan Alves, há casos de gestação de gêmeos. Entretanto, a especialista afirma que a herança genética paterna não influencia muito. No caso de gêmeos idênticos também não há muita relação com a hereditariedade, já que o embrião se divide por um “acaso”.
Gestação de alto risco
De acordo com a cirurgiã fetal, gestações de múltiplos são consideradas de altíssimo risco e precisam de um acompanhamento especializado. Ela comenta que, na Santa Casa, há um setor chamado Unidade de Gestação Gemelar de Alto Risco, onde são acompanhadas principalmente gestações triplas e duplas, em caso de haver algumas complicações com os bebês.
O nascimento também precisa ser em um centro de referência, já que há bastante possibilidade de que os bebês nasçam prematuros e precisem de suporte — raramente gestações múltiplas passam das 32 semanas, mas 30 semanas já é um número bom nesses casos, aponta.
— Sempre existe a tentativa de tomar todas as medidas para evitar o nascimento prematuro. Mas é muito importante o acompanhamento especializado, porque é preciso fazer exames de ultrassom com frequência. Tem alguns riscos como diabetes gestacional e pressão alta também — alerta Talita.