Roer as unhas é um hábito comum para muitas pessoas. Seja por nervosismo ou tédio, pelo menos alguma vez na vida todos já se pegaram com os dedos na boca para roer as unhas. Entretanto, o hábito pode trazer malefícios à saúde e ser sinal de algum transtorno mais complexo.
De acordo com a professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Ilana Andretta, normalmente as pessoas começam a roer as unhas para aliviar algum desconforto, seja tirar uma cutícula sobrando ou ao reparar numa unha mais áspera. Em crianças, o hábito costuma surgir por imitação. Ao observarem pessoas a sua volta roendo as unhas, elas passam a reproduzir o mesmo comportamento.
Porém, roer as unhas pode causar uma série de prejuízos fisiológicos ao corpo, como por exemplo desenvolver quadros infecciosos por facilitar a entrada de bactérias no organismo e prejudicar a saúde bucal.
Conheça as causas e os malefícios de roer as unhas
Entre os danos causados por roer as unhas está o nivelamento e o desgaste do esmalte dos dentes. O esmalte é a parte externa que reveste os dentes e funciona como uma capa protetora. Conforme o professor do Curso de Odontologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) André Bueno, o desgaste do esmalte faz com que a dentina, parte interna do dente, fique exposta, podendo causar maior sensibilidade e cáries.
Bueno conta que é possível perceber quando o desgaste é ocasionado por causas comportamentais já que a deterioração não é generalizada, como em casos de bruxismo. Com isso, o dentista reforça a importância de conversar com os pacientes sobre fatores causadores quando se deparam com casos como este no consultório.
— Se a gente não conversa com o paciente para entender o motivo do desgaste, muitas vezes a restauração tende a falhar mais. Isso porque provavelmente o hábito vai continuar e o dente vai desgastar de novo com mais facilidade já que o material que usamos é mais frágil que o esmalte original — destaca o professor.
Ao se atentar aos detalhes, os dentistas também conseguem orientar os pacientes a buscarem ajuda especializada para lidar com o mau hábito.
— Muitas vezes as pessoas se abrem na cadeira do dentista, então a gente pode ajudar a tirar um pouco da ansiedade que tem ali. Conversando a gente consegue entender e encaminhar para algum outro colega da área da saúde — completa.
Das razões psicológicas, a ansiedade acaba se tornando a base do hábito de roer as unhas. Conforme Ilana, a onicofagia - mania de roer as unhas - está muito relacionada aos transtornos compulsivos.
— Tem a ver com uma compulsão que geralmente começa com algum comportamento relacionado ao alívio de ansiedade. Uma pessoa ansiosa, que se sente vulnerável ou que tem uma relação muito forte com medo e estresse usa para de alguma forma aliviar isso — explica a psicóloga.
O problema é semelhante ao de quem convive com tricotilomania - o hábito de arrancar cabelos - ou a dermatillomania - transtorno em que a pessoa retira pedaços da pele. Ainda segundo a psicóloga, o problema do roer as unhas é quando isso acaba se transformando num hábito recorrente e sendo reforçado pelo ciclo do alívio de ansiedade.
Portanto, quem sofre com a onicofagia é motivado por gatilhos relacionados à ansiedade, ao estresse e ao medo. E, com o passar do tempo, as pessoas começam a roer as unhas sem perceber. A mão vai parar na boca inconscientemente. Inclusive, pessoas que já têm comportamentos de compulsão alimentar ou algum tipo de dependência são mais propensas a roer as unhas.
Segundo Ilana a prevalência do hábito é maior em meninos do que em meninas e começa na infância, passando pela adolescência, e perdurando até a vida adulta. É mais difícil alguém começar a roer as unhas na fase adulta.
Dicas de como parar de roer as unhas
As pessoas costumam recorrer a diversas alternativas na tentativa de parar de roer as unhas. Tentam repelir o hábito colocando pimenta, esmalte ou qualquer coisa com gosto amargo nos dedos, mas o que as pesquisas indicam como solução é a terapia cognitiva ou comportamental.
A terapia vai trabalhar para que as pessoas tomem consciência das causas que as levam a roer as unhas e a ter consciência de que esse já se tornou um comportamento automatizado no corpo.
— A gente faz uma análise funcional do comportamento, em que se identifica quais são as causas para que ocorra essa resposta. Identificamos qual é o estímulo e se busca a modificação desse comportamento através da substituição por outros — esclarece Ilana.
Portanto, a intenção é que haja maior consciência sobre o que está se passando na vida para que esse comportamento internalizado seja corrigido. O ideal é que a correção do hábito de roer unhas possa ser feita o mais cedo possível para evitar que ele seja internalizado.