Os holandeses tem aderido a uma prática de bem-estar chamada "niksen", que consiste, como indica a tradução: não fazer nada. Segundo os adeptos, ela ajuda a reduzir a ansiedade e o estresse e contribui para a recuperação do esgotamento físico e mental.
Essa prática tem despertado a curiosidade de pessoas que buscam alternativa para se recuperarem da exaustão de um dia intenso de trabalho ou estudo ou até mesmo para a melhora de um quadro de depressão. A jornalista, linguista e escritora Olga Meckin fala sobre o assunto no livro Niksen: Embracing the Dutch Art of Doing Nothing (Niksen: Aderindo à Arte Holandesa de Não Fazer Nada, em tradução livre). Na obra, niksen é definido como "não ter um propósito", ou seja, criar tempo para apenas ser, deixando a mente vagar para onde ela quiser ir.
Em um artigo publicado na BBC, Olga explica que niksen é um verbo criado a partir da palavra niks, que significa "nada". A linguista também ressalta que a criação desse vocábulo faz parte da tendência holandesa de criar verbos a partir de substantivos.
Apesar de ter surgido na Holanda, atualmente essa prática já avançou para países como a Bélgica e Luxemburgo.
Importância do niksen
No livro, Olga ressalta que niksen tem melhorado a vida dos adeptos e também é responsável pelo aumento da produtividade. Segundo a jornalista, isso se explica porque para alguém se tornar mais produtivo é preciso estar relaxado e plenamente consciente para a tomada das melhores decisões.
Olga também ressalta que os malefícios de uma vida agitada e sem pausa podem ser prejudiciais para a vida pessoal e familiar dos indivíduos. "O estresse não afeta apenas empresas e organizações, mas também afeta cada vez mais a dinâmica das famílias. Estar sempre ocupado se tornou uma sensação familiar, estamos familiarizados com isso, e todos ao nosso redor também. E como consequência criamos uma sociedade que considera a sobrecarga normal ou até desejável. Os humanos sempre escolhem o familiar ao desconhecido. Agora, escolhemos o caminho da sobrecarga para não termos que sentir o desconforto de não ter o que fazer", diz trecho da obra.
A linguista pontua a necessidade de ter uma vida mais leve e sem grandes preocupações. "O estresse é a trilha para o lado sombrio. O estresse leva a preocupação. A preocupação leva a ansiedade. A ansiedade leva ao sofrimento. Um círculo vicioso", explicou a jornalista no livro.
O que dizem os especialistas
Para Bernet Elzinga, professor de psicologia da Universidade de Leiden, na Holanda, o estresse em si não é ruim, mas ele se torna prejudicial em elevados níveis.
— Não é necessariamente ruim ficar em estado de estresse por um momento, no qual você está realmente focado. O problema é quando isso sai do controle — explicou o acadêmico à BBC.
De acordo com Elzinga, o niksen pode servir como um instrumento de equilíbrio e reduzir os níveis indesejados de estresse.
— Quando não está fazendo nada, você se conecta ao seu modo padrão. E esse modo é responsável pela divagação e pela reflexão na mente — afirmou ao jornal britânico.
Já o psicólogo Thijs Launspach, autor do livro Crazy Busy: Staying Sane in a Stressful World (Loucamente Ocupado: Como se Manter Saudável em um Mundo Estressante, na tradução), não defende a ideia de que o niksen pode prevenir o estresse. Para ele, a prática precisa ser combinada com atividades físicas.
Launspach também propõe um outro entendimento do termo, ao considerar que a prática pode não remeter necessariamente a não fazer nada, mas a fazer o menos possível.
Como iniciar na prática
Olga ressalta em sua publicação que não é fácil aderir ao niksen porque as pessoas, de modo geral, precisam aprender a ser menos ocupadas. Uma boa dica para começar, segundo ela, é tentar relaxar a mente, olhar bem nos olhos das pessoas e tentar notar a diferença na respiração delas.
"Uma das coisas mais revolucionárias que eu aprendi é fazer uma coisa de cada vez, sem pedir permissão ou oferecer explicações. Viver assim é eletrizante", contou, na obra, sobre como a prática tem a auxiliado no dia a dia.