Conselheiros federais de saúde dos Estados Unidos debateram nesta quinta-feira (18), se uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), desenvolvida pela Pfizer, está pronta para ser lançada no país. Trata-se de um imunizante inédito, para mulheres grávidas protegerem seus recém-nascidos contra o vírus respiratório. No Brasil, ainda não há previsão.
Maior causador de bronquiolite, pneumonia e outras doenças respiratórias agudas graves, o VSR lota as redes de atendimento americanas com bebês a cada outono e inverno. No ano passado, o vírus atacou mais cedo do que o normal e foi especialmente difícil nos EUA.
É um cenário similar ao que o Brasil tem observado neste outono. Até a última segunda-feira (15), o Rio Grande do Sul registrou cinco mortes e mais de 630 internações por vírus sincicial em 2023.
— Principalmente as crianças de até dois anos estão muito sujeitas a doenças graves, como a bronquiolite — alertou o médico intensivista Anderson Oliveira.
Pertencente ao gênero Pneumovirus, o VSR é um dos principais agentes da infecção aguda nas vias respiratórias. Afeta, principalmente, bebês, crianças pequenas e idosos. O vírus atinge brônquios e pulmões.
O que diz o estudo da Pfizer?
Com quase 7,4 mil mulheres grávidas, no estudo internacional da Pfizer, a vacinação materna provou ser 82% eficaz na prevenção de VSR grave, durante os três primeiros meses de vida que são os mais vulneráveis dos bebês. Aos seis meses de idade, ainda estava oferecendo 69% de proteção contra doenças graves.
A farmacêutica informou que não havia sinais de problemas de segurança e, em uma análise publicada antes da reunião desta quinta-feira, os revisores FDA concordaram que "os dados de segurança parecem ser favoráveis". No entanto, a agência pediu a seus consultores científicos que considerassem se uma pequena diferença no nascimento prematuro entre os dois grupos era motivo de preocupação.
Vacinação contra o VSR no Brasil
No Brasil, para um público amplo, não há vacinação contra o VSR. Somente no caso das crianças prematuras nascidas com até 28 semanas de gestação ou com fator de risco como bebês com displasia broncopulmonar e cardiopatias congênitas, um programa do Ministério da Saúde oferta o palivizumabe, anticorpo específico contra o vírus sincicial, aplicado uma vez por mês durante cinco meses, antes do período de maior circulação do vírus, para evitar formas graves da doença.
A proposta da Pfizer é aplicar nas mulheres uma vacina única, no fim da gravidez - entre 24 semanas e 36 semanas - para que elas desenvolvam anticorpos contra o VSR que passem pela placenta e cheguem ao bebê.
— Vacinar futuras mamães teria um grande impacto — disse Alejandra Gurtman, chefe de pesquisa de vacinas da Pfizer.
Quais são as ameaças à saúde provocadas pelo VSR?
Para a maioria das pessoas saudáveis, o VSR é um incômodo semelhante ao resfriado. Mas pode ser fatal para os mais novos ao infectar profundamente os pulmões e causar pneumonia ou impedir a respiração dos bebês ao afetar suas minúsculas vias aéreas.
Somente nos Estados Unidos, entre 58 mil e 80 mil crianças menores de cinco anos são hospitalizadas a cada ano e entre cem e 300 morrem, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs).
— Todos os lactentes correm o risco de doença grave com VSR, mas adiar a infecção mesmo por alguns meses diminui esse risco — disse a médica Katherine Fleming-Dutra do CDC.
Impacto potencial da vacina
A vacina da Pfizer não se destina a prevenir a infecção por VSR, mas sim evitar os piores resultados. Nos testes de estágio avançado, seis bebês nascidos de mães vacinadas tiveram uma doença grave por VSR em seus primeiros três meses de vida, em comparação com 33 bebês cujas mães receberam uma injeção simulada. Além disso, a vacina reduziu pela metade as chances de precisar de atenção médica para uma infecção por VSR aos seis meses de idade.
A empresa prevê que os EUA poderiam evitar até 20 mil hospitalizações infantis por ano e 320 mil consultas médicas, se as mulheres grávidas fossem vacinadas.
Ainda com relação à vacina, as reações incluíram dor e fadiga tipicamente leves no local da aplicação. Quanto à questão da prematuridade, as mães vacinadas tiveram um pouco mais de prematuros (5,7% contra 4,7%). A grande maioria nasceu apenas algumas semanas mais cedo. Isso é melhor do que a taxa de natalidade prematura do país - no geral, nos EUA, um em cada 10 bebês nasceu prematuro no ano passado - e o desequilíbrio do estudo não foi estatisticamente significativo, o que significa que pode ser devido ao acaso.
Um total de 17 bebês morreram durante o estudo, cinco nascidos de mães vacinadas e 12 de mães que receberam a injeção simulada. Os pesquisadores não consideraram nenhuma das mortes relacionadas à vacina, mas a FDA disse que é "incapaz de excluir a possibilidade" de que a morte de um bebê, decorrente de prematuridade extrema, possa estar relacionada.