A plagiocefalia é uma deformidade craniana que acomete os recém-nascidos e que pode ter relação com a posição em que a cabeça dos bebês fica com mais frequência.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a plagiocefalia posicional — nome que se dá à deformidade craniana gerada pela posição frequente com que a cabeça do bebê é colocada — afeta cerca de 12% dos recém-nascidos. Estima-se que o problema acometa 350 mil bebês brasileiros.
Apesar de ser menos comum, a plagiocefalia pode também ser decorrente de malformações congênitas ou de síndromes. Nesses casos, na maioria das vezes, ela pode ser identificada já no nascimento.
Para entender quais são os tipos de plagiocefalia e suas causas, como são realizados o diagnóstico e o tratamento e quais os cuidados que os pais devem ter com os recém-nascidos que têm essa deformidade, GZH entrevistou dois especialistas sobre o tema. São eles: Rudimar Riesgo, chefe da Neuropediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e Jorge Junqueira Bizzi, chefe do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital Moinhos de Vento e do Hospital da Criança Santo Antônio, da Santa Casa de Porto Alegre, além de neurocirurgião pediatra do HCPA.
Quais são as diferenças entre os tipos de plagiocefalia?
A plagiocefalia pode ser definida como uma deformidade craniana nos bebês, o que faz com que esta região fique com um formato assimétrico quando vista de cima. Em suma, ocorre um achatamento em apenas um dos lados do crânio e a cabeça do bebê fica com formato de um paralelogramo.
Basicamente, existem dois tipos de plagiocefalia:
- Plagiocefalia posicional ou falsa: mais recorrente, é uma deformidade craniana gerada pela posição frequente com que um recém-nascido é colocado para dormir. Isso leva a um achatamento de uma das regiões do cérebro, que fica com forma assimétrica
- Plagiocefalia verdadeira: é uma deformidade que se manifesta desde o nascimento. Pode ser fruto de malformações congênitas — decorrentes do fechamento precoce de alguma sutura óssea (espaço entre os ossos, antes de se soldarem, meses após o nascimento) — ou síndromes
Como é realizado o diagnóstico?
Segundo Jorge Junqueira Bizzi, na maioria das vezes, a plagiocefalia é identificada mediante análise clínica. Caso haja dúvida, o exame de imagem é solicitado.
— O formato da cabeça, por ser assimétrico e oblíquo, tem características diferentes quando é por malformação e quando é por uma deformidade posicional. A gente analisa a sutura, a moleira, o tamanho da cabeça, o formato do crânio, a posição das orelhas. Tudo isso vai dar informação de que a gente está lidando com uma deformidade posicional ou está lidando com uma malformação, que é a craniosinostose. Quando há dúvida, a gente pode lançar mão de exames diagnósticos com uma tomografia cerebral com reconstrução da calota craniana em três dimensões — explicou Bizzi.
A plagiocefalia verdadeira pode ser identificada logo após o parto, já que a deformidade costuma ser bem aparente. O diagnóstico é confirmado por especialistas, como neurocirurgiões ou neuropediatras.
Qual a idade em que a plagiocefalia se manifesta?
A plagiocefalia posicional pode se manifestar durante os dois ou três primeiros meses de vida do recém-nascido — fase em que o crânio do bebê está crescendo e em constante desenvolvimento.
— A criança pode até nascer com alguma deformidade, em geral, quando tem alguma restrição no útero, quando são gêmeos, que fica mais apertado ou quando tem pouco líquido amniótico. Mas a grande maioria das vezes a criança não nasce com deformidade e adquire isso nos primeiros meses de vida — acrescentou o neurocirurgião pediatra do HCPA.
Como prevenir a plagiocefalia?
A plagiocefalia posicional pode ser evitada se o recém-nascido não ficar deitado por muito tempo em uma mesma posição. As orientações aos pais podem ser dadas por um pediatra, médico da família ou neurocirurgião pediátrico.
— O primeiro ponto é tentar não deixar a criança deitada muito tempo sobre a cabeça, especialmente quando ela estiver acordada. Quando ela estiver dormindo não tem alternativa, ela tem que dormir de barriga para cima e a gente não pode colocar ela de bruços porque existe o risco da morte súbita do recém-nascido, e, em função desse risco, é que há essa recomendação dos pediatras de deixar a criança dormir de barriga pra cima, e realmente isso é importante — ressalta Bizzi.
Para Jorge, a principal forma de prevenção da plagiocefalia posicional é o monitoramento constante dos recém-nascidos pelos pais. Além disso, levar os bebês a consultas regulares com o pediatra ou neuropediatra pode ajudar a evitar a deformidade.
— É realmente necessário prestar atenção e ver se a cabeça está ficando assimétrica, achatada mais de um lado, a orelhinha um pouquinho mais pra frente. Se isso for diagnosticado, já procurar o pediatra pra ver qual é a orientação, e, se tiver dúvida, encaminhar para o neurocirurgião — acrescentou o médico.
Como é realizado o tratamento?
Na maioria dos casos de plagiocefalia posicional, o tratamento é clínico, sem necessidade de cirurgia.
— Basta observar e acompanhar a resolução da assimetria. Estes casos são manejados pelo pediatra, médico de família ou pelo neuropediatra — afirmou Riesgo.
Nessas situações, o médico faz o acompanhamento do bebê e passa orientações aos responsáveis. A SBP recomenda que os pais tentem virar a cabeça do recém-nascido para o outro lado quando ele está muito tempo em uma mesma posição.
Os pais podem também levar seus filhos a fisioterapeutas, que, durante as sessões, alternam as posições em que a cabeça do bebê é colocada e realizam exercícios de correção para a deformidade. Quando o tratamento clínico não se mostra eficaz ou quando o caso é mais sério, os médicos podem recomendar o uso de capacetes ortopédicos que ajudam a corrigir a deformidade craniana — embora Riesgo tenha dito que nunca os recomendou, em 32 anos de consultório.
Quando a deformidade tem origem congênita, como é o caso da plagiocefalia verdadeira, o médico pode indicar um procedimento chamado de correção neurocirúrgica.
— Os pais devem fazer todas as consultas de puericultura, que são mensais, no primeiro ano de vida do bebê. Fazendo isso, o médico vai ajudar na identificação e tratamento adequado — resumiu Riesgo.
Quais os problemas que podem ser gerados se o bebê não for tratado?
Apesar de a plagiocefalia posicional, em geral, não causar danos permanentes no cérebro, essa deformidade pode afetar o rosto dos bebês, ocasionando, por exemplo, assimetrias nas orelhas e nos olhos. O diagnóstico precoce e o tratamento clínico são importantes para evitar que a situação chegue a esse ponto.
Já quando a deformidade é gerada por malformações ou síndromes, é necessário recorrer o quanto antes à cirurgia para evitar uma série de problemas que vão além da questão estética.
— Se uma plagiocefalia verdadeira não for corrigida com neurocirurgia, no médio prazo, pode se instalar uma hipertensão dentro da cabeça do bebê, além do agravamento da deformidade da cabeça — alertou Riesgo.
* Produção: Filipe Pimentel