Dalvina Silva de Souza, 60 anos, comemorava a evolução no braço direito:
— Já consigo até estender roupa. Antes eu não conseguia fazer nada — disse à reportagem enquanto fazia movimentos para cima e para baixo com o membro superior.
A limitação relatada pela moradora de São Luiz Gonzaga, nas Missões, teve origem em uma operação feita oito meses antes. O procedimento, entretanto, ocorreu mais de três anos depois do dia em que lesionou o braço, após uma queda em casa. A demora no procedimento agravou a situação, ela conta:
— Meu caso estava bastante avançado — resumiu à reportagem após uma sessão de fisioterapia na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), em São Luiz Gonzaga, na tarde do último dia 5.
A dona de casa era acompanhada por uma das estudantes do curso de Fisioterapia da instituição de ensino, no Centro de Práticas da faculdade. Na estrutura são oferecidos atendimentos gratuitos por meio de um convênio firmado em 2012 com a Prefeitura de São Luiz Gonzaga.
Os beneficiados são usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) encaminhados por profissionais de saúde da rede municipal. Na URI são oferecidos serviços nas áreas de fisioterapia em neurologia e pediatria, disfunções músculo-esqueléticas, hidrocinesioterapia, cardiologia e pneumologia, de segunda a sexta-feira.
O convênio prevê atividades de "promoção, prevenção e recuperação da saúde da comunidade e região". Dalvina diz que nem sequer olhou o valor que teria de pagar caso tivesse de ir a sessões particulares para melhorar os movimentos do braço:
— De onde que nós, pobres, vamos tirar dinheiro para fazer uma fisioterapia dessa? Está cada vez mais complicado.
Dalvina fazia a exercícios sob supervisão de Isadora Bonatto, 23 anos, aluna do nono semestre do curso de Fisioterapia. A jovem iniciou as atividades no local no início do ano e ficará até se formar. A exemplo dos outros colegas de estágio, ela faz atendimentos quatro vezes por semana em áreas diferentes da fisioterapia.
— Colocamos em prática tudo o que aprendemos durante a faculdade, o que, para mim, é o mais importante. É como dizem: é na prática que a pessoa realmente aprende. Aqui aprendemos a conviver com as pessoas e escutá-las. E isso tudo é muito importante para nós — afirmou.
Os atendimentos são feitos por 12 alunos que estão nos últimos dois semestres da faculdade, em atividades que compõem o currículo obrigatório do curso, com total de 800 horas de estágio. O desempenho é avaliado por um professor supervisor. Em 2022, foram feitos 2,6 mil atendimentos por conta da parceria. A prefeitura de São Luiz Gonzaga destina apoio financeiro para as atividades na universidade.
— Aqui na URI, temos o perfil de fazer muita prática. Os alunos começam a fazer prática no quarto semestre, primeiro observando os atendimentos. Depois, a partir do sexto semestre, eles já começam a atender pacientes. Nos último ano, os alunos têm apenas uma disciplina teórica, que é o trabalho de conclusão de curso. O resto é prática — explica Marzane Bolzan Morais de Oliveira, professora e coordenadora do curso da URI.
Esse trabalho desenvolvido pelos alunos com os pacientes do SUS gera frutos para todos os envolvidos: a prefeitura consegue encaminhar os pacientes, que, por consequência, têm o atendimento em poucos dias, sem custos. Os estudantes, por fim, são também beneficiados, pois adquirem conhecimentos cobrados na atividades profissional após a formatura, acrescenta a professora da URI:
— É algo que talvez o município não conseguisse fazer, porque temos 12 estagiários atendendo aqui, em diversas áreas. É bastante gente. Por isso, penso que é um convênio com benefícios tanto para comunidade quanto para os alunos. Todos ganham com isso.