O uso moderado de álcool não traz impactos que reduzam os riscos de morte por qualquer causa, concluiu uma pesquisa publicada no fim de março no Journal of the American Medical Association (Jama). O estudo não identificou redução na mortalidade para quem bebe menos de 25g de álcool diários – o equivalente a duas taças de vinho ou duas latas de cerveja.
Além disso, um aumento “significativo” na probabilidade de morte foi identificado entre mulheres que consomem mais do que esse índice e para homens que bebem mais do que 45g diários, um pouco mais de três taças de vinho ou três latas de cerveja. “Risco aumentado (de morte) foi evidente em níveis de consumo maiores, começando em índices menores para mulheres do que para homens”, aponta a publicação.
Realizado por pesquisadores vinculados ao Centro Canadense de Uso e Adicção de Substâncias (CCSA), o estudo analisou 107 pesquisas sobre o consumo de álcool publicadas entre 1980 e 2021 e tentou eliminar eventuais vieses em favor da bebida presentes nesses artigos. Isso porque essas análises costumam comparar bebedores saudáveis com pessoas abstêmias de saúde ruim, que não bebem por problemas prévios ou em decorrência de doenças.
"Evidências crescentes sugerem que essas associações (efeitos protetivos do álcool) podem ser por vieses sistemáticos que afetam muitos estudos”, diz a introdução da revisão. “Por exemplo, bebedores leves ou moderados são sistematicamente mais saudáveis que abstêmios em práticas não associadas ao uso da bebida, como higiene dental, exercícios físicos, dieta, peso e renda; abstêmios costumam ser sistematicamente enviesados na direção de uma saúde pior.”
No início de 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reforçou um alerta de que não existem níveis seguros para o consumo de álcool, já que há evidências que associam a bebida ao câncer mesmo em níveis leves ou moderados. De acordo com os pesquisadores, eventuais benefícios de efeitos protetores do álcool sugeridos em estudos anteriores não compensam o risco de câncer identificado em evidências recentes.
Desde 2012, a Agência Internacional do Câncer (Iarc) considera o álcool um carcinógeno, incluído na mesma lista em que figuram o tabaco, o amianto e a radiação.
Consumo de álcool no RS
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013 a 2019 o uso de álcool dobrou entre homens e cresceu quatro vezes entre mulheres, que são mais vulneráveis aos malefícios da bebida. O mesmo estudo também aponta que o Rio Grande do Sul é o Estado com a maior frequência de uso no país. Cerca de 40% dos gaúchos consomem álcool ao menos uma vez no mês, enquanto um a cada três bebe semanalmente.